Dentre os filmes feitos pelo diretor Milos
Forman, este aqui se espreme entre a suntuosidade e imponência épica de
“Amadeus” e a genialidade artística, bem como o senso de observação carregado
de inconformismo de “Um Estranho No Ninho”. É hoje completamente desconhecido,
mas digno de ser comparado às obras mais famosas de Forman.
“Ragtime” é uma colcha de retalhos sobre o modo
de vida do começo do século XX, adaptando um romance de E.L. Doctorrow, e feito
com a ironia e a precisão de um mestre, não lhe faltando, por exemplo, aquele
equilíbrio raro em que o diretor obtém uma harmonia fascinante entre o carinho
palpável por seus personagens e uma saudável distância do sentimentalismo
fácil.
A narrativa paira pelas diversas tramas,
deixando-se interessar por um ou outro momento onde é flagrado um instante de
graça, um acontecimento mais dramático, ou outro de vibração mais tensa, e
então, tornando a descortinar outra trama, e assim sucessivamente, elaborando
um emaranhado delicioso de pequenas e espirituosas histórias.
Há o casal de alta classe que encontra um bebê
deixado à porta da casa, esse casal –cujo núcleo de personagens nunca ganha
nome na narrativa –é interpretado por James Olson e Mary Steenburgen, cujo
irmão dela (Brad Dourif) encontra, ao acaso, uma atriz de filmes mudos, a
exuberante e desmiolada Evelyn Nesbit (Elizabeth McGovern, de “Era Uma Vez Na
América” que, por este trabalho, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz
Coadjuvante). Há também o imigrante judeu Delmas (Pat O’ Brien), recém-chegado
à Nova York, sem dinheiro no bolso, mas disposto a fazer valer o sonho
americano.
E o pianista negro Coalhouse Walker (Howard
Rollins Jr. também indicado ao Oscar de Coadjuvante), vítima de uma revoltante
injustiça. A partir desse ponto (quase na metade de sua duração), a condução de
Forman parece então encontrar na história de Walker uma trama forte e relevante
a qual pode eleger principal diante de todas as outras, e a narrativa ganha em
força, denúncia social e tensão aquilo que ela tinha de sobra em graciosidade e
divertimento.
Um filme extasiante dirigido com primor,
escrito com talentosa minúcia e interpretado por um elenco homogêneo em sua
excelência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário