quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Na Época do Ragtime

Dentre os filmes feitos pelo diretor Milos Forman, este aqui se espreme entre a suntuosidade e imponência épica de “Amadeus” e a genialidade artística, bem como o senso de observação carregado de inconformismo de “Um Estranho No Ninho”. É hoje completamente desconhecido, mas digno de ser comparado às obras mais famosas de Forman.
“Ragtime” é uma colcha de retalhos sobre o modo de vida do começo do século XX, adaptando um romance de E.L. Doctorrow, e feito com a ironia e a precisão de um mestre, não lhe faltando, por exemplo, aquele equilíbrio raro em que o diretor obtém uma harmonia fascinante entre o carinho palpável por seus personagens e uma saudável distância do sentimentalismo fácil.
A narrativa paira pelas diversas tramas, deixando-se interessar por um ou outro momento onde é flagrado um instante de graça, um acontecimento mais dramático, ou outro de vibração mais tensa, e então, tornando a descortinar outra trama, e assim sucessivamente, elaborando um emaranhado delicioso de pequenas e espirituosas histórias.
Há o casal de alta classe que encontra um bebê deixado à porta da casa, esse casal –cujo núcleo de personagens nunca ganha nome na narrativa –é interpretado por James Olson e Mary Steenburgen, cujo irmão dela (Brad Dourif) encontra, ao acaso, uma atriz de filmes mudos, a exuberante e desmiolada Evelyn Nesbit (Elizabeth McGovern, de “Era Uma Vez Na América” que, por este trabalho, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Há também o imigrante judeu Delmas (Pat O’ Brien), recém-chegado à Nova York, sem dinheiro no bolso, mas disposto a fazer valer o sonho americano.
E o pianista negro Coalhouse Walker (Howard Rollins Jr. também indicado ao Oscar de Coadjuvante), vítima de uma revoltante injustiça. A partir desse ponto (quase na metade de sua duração), a condução de Forman parece então encontrar na história de Walker uma trama forte e relevante a qual pode eleger principal diante de todas as outras, e a narrativa ganha em força, denúncia social e tensão aquilo que ela tinha de sobra em graciosidade e divertimento.

Um filme extasiante dirigido com primor, escrito com talentosa minúcia e interpretado por um elenco homogêneo em sua excelência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário