A trama esboçada com um nem sempre apropriado
tom de fábula por Robert Zemeckis em “A Travessia” –sobre a audaz operação que
levou o artista francês Phillipe Petit a cruzar numa corda bamba as elevadas
altitudes entre as duas torres gêmeas do World Trade Center nos anos 1970 –já
tinha sido antes narrada neste primoroso documentário realizado por James Masch
que, anos depois, faria sua estréia em filmes de ficção com a romanceada
biografia de Stephen Hawkins, “A Teoria de Tudo”.
Comparando os dois trabalhos, pode-se afirmar
categoricamente que Masch leva muito mais jeito para ser documentarista: Este
“O Equilibrista” se isenta de todas as ressalvas que prejudicavam o trabalho
razoável de Zemeckis por ser um registro pleno em sua sinceridade e destituído
de firulas e segundas intenções.
Por meio de depoimentos genuinamente
assombrados com o quê viveram –mesmo tendo passadas décadas do ocorrido –testemunhamos
(através de uma graciosa e divertida reconstituição ”lúdica” dos fatos) a
iniciativa impetuosa do artista e equilibrista Philip Petit que consegue reunir
e liberar um grupo inusitado, criativo e intrépido de colaboradores em torno de
uma idéia que, de inúmeras formas, soava loucura: Burlar todas as normas,
regulamentos e procedimentos de segurança para entrar num dos edifícios do
World Trade Center –cujos últimos andares ainda estavam inacabados –(à época os
prédios mais altos do mundo) para conseguir atravessar clandestinamente uma
corda por meio da qual o próprio Petit irá cruzar as altitudes desafiadoras e
imensuráveis –para o delírio de seu público –entre as duas torres.
Petit, como é mostrado de maneiras diversas
(nos comentários daqueles que conviveram com ele, na sugestão das cenas que se
seguem, e no depoimento eufórico e melancólico dele próprio diante da câmera),
era um artista irreprimível, e ocasionalmente arrogante, em sua sede de
desafiar-se continuamente. Na França, suas apresentações obedeciam o inédito
perfil guerrilheiro de equilibrar-se num ponto turístico conhecido (para a
injúria das forças policiais). O quê ele logrou fazer em Nova York não era
somente mais um desafio, mas também (ele sabia) uma apresentação pela qual ele
seria sempre lembrado: Devido ao perigo singular que sua travessura
representava, devido à complexidade logística incomum que, descobrimos,
envolveu todo o plano e seus aliados, devido à concepção do próprio Petit em
chegar num ponto que sabia ele ser um divisor de águas de sua vida, e
especialmente, devido à exposição mundial por fazer isso em um monumento
americano tão visado –e que, neste documentário, datado de 2008, ganha uma nova
e comovente ressonância emocional sob o prisma do atentado de 11 de Setembro, depois
do qual aquelas torres deixaram de existir.
Assim sendo, um encantador
e empolgante olhar para o passado mirando um futuro com mais esperanças e com
melhores histórias para se contar.
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