quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A Saga Velozes e Furiosos


Velozes e Furiosos
No ano de 2001 talvez ninguém tivesse idéia (nem mesmo seus realizadores) de que “Velozes e Furiosos” viria a ser uma franquia tão longeva e comercialmente marcante.
Visto hoje, o primeiro filme se revela tímido (em meio à trama policial, há uma única sequência realmente explosiva de perseguição de carro) e incrivelmente datado (os cabelos, atitudes e modismos do filme deixam bem claro que este já pertence a uma época que não é a atual).
Provavelmente pensado como um produto escapista de verão, o primeiro filme não faz um único esforço para ser original.
Seu enredo em particular se resume a um conceito que pega emprestado elementos de filmes lançados anos antes como a premissa do policial infiltrado presente tanto em “Atraídos Pelo Desejo” (com Charlie Sheen), quanto no ótimo “Caçadores de Emoção” (dirigido por Kathryn Bigelow, com Keanu Reeves e Patrick Swayze).
Uma quadrilha audaciosa tem roubado caminhões em L.A. munida de carros de corrida –os assaltos são executados sem paradas, em alta velocidade!
Logo, o policial Bryan O’ Connell (Paul Walker, no personagem pelo qual será sempre lembrado) é designado para infiltrar-se nesse meio e encontrar uma pista dos assaltantes.
Ele faz amizade com o experiente Dominique Toretto (Vin Diesel, roubando consideravelmente a cena) que lhe põe a par das complexidades do contexto.
Como é inevitável na cartilha de um roteiro pretensamente bom e envolvente (ainda que indiferente ao clichê), a amizade entre O’ Connell e Toretto cresce em paralelo aos indícios de que é ele o líder da misteriosa quadrilha.
Grande sucesso de bilheteria, o grande acerto de “Velozes e Furioso” foi a sua, digamos, romantização dos rachas e corridas de carro –mais ou menos, o quê “Top Gun” fez pelos pilotos de caça-aéreos: Uma roupagem de glamour, adrenalina e fascínio proporcionada pelo cinema (e que certamente não tem nada a ver com a realidade) indo de encontro às ansiedades de toda uma geração de expectadores ávidos por um filme que representasse suas aptidões.

+ Velozes + Furiosos
A primeira continuação seguiu assim um caminho convencional enquanto sequência –e, para variar, revelando-se menos interessante que o anterior...
Seu maior problema: Vin Diesel, grande responsável pelo sucesso do filme declinou de sua participação no filme; Diesel então investia pesado em sua carreira e, com outras duas franquias em potenciais para se ocupar (a aventura de espionagem “Triplo X” e a elogiada ficção científica “Eclipse Mortal”, com o personagem Riddick), ele desistiu de “Velozes e Furiosos” fazendo com que o protagonismo integral caísse sobre os ombros de Paul Walker e seu Bryan O’ Connell.
Na direção, substituindo Rob Cohen do filme original, entrou John Singleton (de “Os Donos da Rua”) que, em resposta às pressões corriqueiras desse tipo de produção acrescentou mais dinamismo à montagem, amplificou consideravelmente as cenas de corridas e fez do filme um mero policial de ação.
Continuando exatamente onde o primeiro filme parou –com O’ Connell renegado pela polícia após ter deixado que Toretto escapasse –reencontramos o ex-policial em disputas de rachas ilegais na fronteira com o México. O’ Connell é então requisitado em Miami para uma missão de tal maneira movediça que, se realizá-la, obterá perdão pelos desvios na missão anterior.
Este roteiro visivelmente agrega o personagem de Tyrese Gibson como forma de tentar substituir a presença de Vin Diesel, mas tanto esse esforço quanto as manobras executadas pelo diretor Singleton não contornam a redundância da produção.
Ainda assim, “+ Velozes + Furiosos” parece ter agradado seu público que se mostrou satisfeito com a prevenção dos elementos que constituíam o clichê desse gênero –uma característica que passaria a dominar a franquia.

Velozes e Furiosos 3-Desafio Em Tóquio
Por sua vez, quando foi lançado o terceiro filme da série "Velozes e Furiosos" pouco pareceu ter de relação com os anteriores (exceto uma citação surpresa perto do fim), inclusive abandonando sua trama policial e o elenco de protagonistas que surgiram nos outros filmes.
A idéia acabou lembrando um pouco o que havia sido feito em “Halloween III”, nos anos 1980 –também ele uma trama completamente à parte dos dois filmes anteriores.
Contudo, foi aqui que entrou o diretor Justin Lin, compensando tudo com um trabalho de ritmo e edição tão vertiginoso quanto criativo que pôs as peripécias dos demais filmes no chinelo –foi o próprio Lin quem capitaneou, mais tarde, uma espécie de reinvenção de “Velozes e Furiosos”, mas, antes vamos à trama deste terceiro filme...
Rapaz que arrumou muitos problemas em Los Angeles (terminando com uma enorme dívida após um racha de automóveis) é despachado para Tóquio onde seus familiares esperam que encontre um rumo na vida. Mas lá ele conhece um grupo que também participa de rachas ilegais, usando os carros inclusive para manobras impossíveis chamadas "driffting".
Curioso como certos conceitos de filmes oitentistas ainda influenciam o filme –mesmo estando ele desconectado da trama principal dos demais; aqui, muito lembra a premissa de “Karatê Kid 2”, substituindo as lutas, claro, por carros de corrida e suas manobras impossíveis.

Velozes e Furiosos 4
O filme que retoma a tradição de “Velozes e Furiosos” –ou, na opinião de alguns, a inicia de fato!
Justin Lin, o diretor e Chris Morgan, o roteirista, ambos responsáveis pelo terceiro filme, considerado um dos mais bem-acabados da série uniram-se ao agora produtor Vin Diesel, e juntos tomaram a decisão de resgatar o elenco do filme original, para fazer o que é a mais autêntica continuação do primeiro filme. Assim a dinâmica entre os personagens originais (uma das razões do sucesso do primeiro “Velozes e Furiosos”) interpretados pelo próprio Vin Diesel e por Paul Walker, é retomada, junto das alucinantes corridas de automóveis turbinados.
É aqui também que começa a se desenhar o grande subtexto proclamado pela saga (aplicado sem muita sutileza, como teria de ser mesmo...) no qual se enaltece o conceito de família.
O policial O’ Connell –aparentemente já tendo superado as conseqüências do primeiro filme –na perseguição a uma quadrilha cruza o caminho de um velho conhecido seu, um ex-criminoso que foi seu aliado no passado e que agora quer vingança pelo assassinato da namorada, Dominique Toretto –que o roteiro, a condução e a influência de Vin Diesel como produtor trataram de finalmente enfatizar como o protagonista de fato da franquia.
De forma inicialmente relutante, os dois unem forças mais uma vez para, juntos, enfrentarem os bandidos no terreno que mais dominam: as corridas de carro.

Velozes e Furiosos 5
Parte do tempo e do enredo despendido nos filmes que se seguiram foi empregado para unir muitas das pontas soltas deixadas por três filmes que não necessariamente se importavam em estabelecer conexões entre si.
Por sorte, os realizadores passaram a tratar a narrativa com coesão e unidade, justificando eventos pregressos que soavam banais e aleatórios –foi tão funcional que os fãs, neste filme e nos próximos, passaram a enxergar em “Velozes e Furiosos” uma sinergia entre os personagens e suas tramas paralelas semelhante ao que –pasmem! –a própria Marvel Studios vinha fazendo com seus heróis num universo compartilhado.
Também outra característica dos filmes de super-heróis logo começou a aparecer em “Velozes e Furiosos”: A ação em tintas cada vez mais implausíveis.
O quinto filme –para o qual o anterior já deixava um gancho palpitante ao final –acompanha Toretto numa tentativa de elucidar o misterioso assassinato de Letty (Michelle Rodrigues), sua companheira desde o primeiro filme, o que o leva a associar-se, mais uma vez, ao ex-policial O’ Connell, desta vez numa aventura em terras brasileiras.
Um dos apelos deste quinto filme foi a introdução, como vilão ocasional (nos filmes seguintes ele passou para o lado dos mocinhos), do brutamontes Hobbs, interpretado por Dwayne ‘The Rock’ Johnson: Afinal, Johnson e Diesel eram os dois grandes astros de ação do novo milênio, os mais autênticos sucessores de Schwarzenegger e Stallone.

Velozes e Furiosos 6
Se o filme anterior girava em torno da busca pelos assassinos de Letty, a sexta produção –que transfere sua ação para as ruas e auto-estradas de Londres, na Inglaterra –se inicia a partir da descoberta de que Letty, na verdade, não morreu. Todavia, ela não parece lembrar quem foi, visto que agora está aliada aos inimigos e comporta-se como se não conhecesse seus outrora aliados –nem mesmo seu amado Toretto!
Também a ‘Parte 6’ traz uma manobra sintomática à série: Hobbs, personagem de Dwayne Johnson e antagonista do filme anterior, por uma série de circunstâncias, se junta ao grupo e se torna mais um dos membros da ‘família’ –e esse é um tema que, a partir do quarto filme passou a definir os propósitos da série.
É Hobbs quem arregimenta Toretto e sua trupe (incluindo O’ Connell; Roman Pearce, o personagem de Tyrese Gibson introduzido no segundo filme e que, depois, ganhou um background de alívio cômico; e tantos outros) para perseguir e capturar o grupo mercenário de operações especiais liderado por Owen Shaw (Luke Evans, até então o vilão mais expressivo da série) ao qual Letty (por razões mirabolantes esmiuçadas ao longo do filme) está integrada.
A “Saga Velozes e Furiosos” neste ponto já havia atingido uma espécie de ápice: Suas bilheterias eram gordas e garantidas, seus fãs, entusiasmados e satisfeitos, e seus astros, na pior das hipóteses, agradecidos. O plano certamente era continuar assim indefinidamente; e a cena pós-crédito, que finalmente começava a conectar a narrativa do terceiro filme com todos os demais, deixava isso bem claro.
Contudo, como se sabe, durante as filmagens da ‘Parte7’ um acidente tirou a vida de Paul Walker, um dos protagonistas, levando a série para um outro rumo em geral e o sétimo filme para uma outra abordagem em particular.

Velozes e Furiosos 8
O quê nos leva ao oitavo filme.
Depois da estrondosa bilheteria do sétimo filme –em grande parte, impulsionada pelo fascínio mórbido e pelo viés emotivo da morte de Paul Walker –a produção ainda buscou, de forma nada lisonjeira, continuar capitalizando em cima de seu astro falecido: A afirmação de Diesel e dos envolvidos era que o filme anterior era “para Paul” e que o novo era “por Paul”...
Este novo filme, dirigido por F. Gary Gray, trazia como vilã a personagem de Charlize Theron (que trabalhou com Gray em “Uma Saída de Mestre”) –e todas as suas características (uma hacker, com recursos ilimitados e maldade megalomaníaca), já denunciavam o fato de que os filmes já haviam assimilado todo o absurdo fantasioso de referências ao estilo “James Bond” (inclusive com locações ao redor do mundo se sucedendo com a naturalidade de uma ida até a esquina!).
Conforme já havia acontecido antes, o vilão do filme anterior, Ian Shaw (Jason Statham, mais um emblemático marombado) por força das circunstâncias se torna um dos aliados, ao passo que o protagonista Toretto (com Vin Diesel ainda mais altivo e prepotente com a ausência de Paul Walker) tem uma curiosa reviravolta: Ele se alia à vilã contra seus amigos, num estratagema que vai sendo revelado aos poucos.
Assim, sem Vin Diesel para conduzir os momentos envolvendo os numerosos personagens que passaram a compor a galeria da série, a liderança de cena pesa assim sobre os volumosos ombros de Dwayne Johnson e Jason Statham, que revelam-se juntos o grande achado do filme: Tão primorosa é sua química em cena –inclusive em meio à ação e à pancadaria –que, logo, o estúdio tratou de viabilizar um derivado protagonizado pelos dois; desta vez, sem Vin Diesel para ficar atrapalhando!
A série “Velozes e Furiosos” em si, por outro lado, está prevista para durar dez filmes (!), restando ainda ser anunciado o lançamento dos próximos dois.

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