Nessas horas eu me sinto aquele cara que
costuma nadar contra a corrente. Já que, hoje em dia, todo mundo gosta da
franquia Velozes e Furiosos por uma série de distintas razões.
Eu sempre achei uma bobagem, uma mera
justificativa para corridas incessantes de carro. Mas, um amigo meu, fã da
série, insistia para que eu desse uma chance a ela, que deveria vencer meu
preconceito e tal.
O quê me levou a rever alguns desses filmes,
culminando no tão falado sétimo filme, aquele que meio mundo assistiu devido à
curiosidade mórbida por ter sido o trabalho que o ator Paul Walker (falecido
por acidente com as filmagens ainda no meio) não conseguiu completar.
É um filme de ação com todas as letras.
Daqueles exemplares típicos de hoje em dia, onde a montagem acelerada faz muita
gente se perder em cena.
Não é uma questão de vencer o preconceito: se
você é desses que não gosta de ação desenfreada, descerebrada e inverossímil,
este filme não é para você.
Interessante que, nesse sentido há uma
progressão nítida nos filmes da série. O primeiro Velozes e Furiosos, lançado
lá no ano 2001, salvo as corridas que abrem e fecham a trama, tem uma única
corrida de carros o filme inteiro! O resto é uma história de policial
infiltrado, com ecos de "Caçadores de Emoção".
A pecha "filme de corrida de carros"
foi mais acentuadamente abraçada na continuação "+ Velozes +Furioso",
realizada só com Paul Walker, sem a participação de Vin Diesel. Embora a
quantia de cenas de raja tenha sido ampliada exponencialmente, essa continuação
é tida hoje, com quase unanimidade, como o mais fraco dos filmes da série.
Talvez tenha sido isso que levou ao fato de o
terceiro filme ser uma história completamente independente dos dois primeiros.
"Velozes e Furiosos - Desafio em Tóquio" mostrava uma trama na qual
um jovem norte-americano envolvia-se em rachas arrojados disputados no Japão,
onde a modalidade "drifting" era a grande sensação. A ideia, talvez,
fosse seguir uma nova história dali para frente. Ou contar uma nova história a
cada filme, sei lá...
O importante era que, no terceiro filme
da série, a entrada do diretor Justin Lin promoveu uma interessante melhora na
direção: "Desafio em Tóquio" pode não ser o melhor da série, mas é,
certamente, um dos mais bem construídos, apesar de sua trama frustrar o
expectador com quase nenhuma ligação com os anteriores, salvo uma
participação especialíssima de Vin Diesel no final.
Foi assim que as coisas passaram a tomar um
outro rumo. Com Justin Lin confirmado como diretor, o quarto filme recuperava
Vin Diesel, agora não apenas como astro, mas como produtor também.
Com ele, voltaram Paul Walker e todos os
protagonistas do primeiro filme, numa clara intenção de revitalizar a saga.
E foi o quê ocorreu, o filme seguinte,
"Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio" dava continuidade ao gancho
explícito deixado no filme do quarto filme, e trazia toda a trupe para correr
nas ruas do Brasil, aproveitando para introduzir novos personagens ao grupo,
inclusive um ainda vilanesco Duaine "The Rock" Johnson.
Enquanto narravam suas histórias com cenas de
rachas de carro cada vez mais e mais mirabolantes, os roteiros dos filmes,
sobretudo o quinto e o sexto, aproveitavam para juntar pontas soltas: O amigo
de Paul Walker que surge do nada no segundo filme reaparece, o japonês do
terceiro (ainda que ele tenha morrido no fim daquele filme!) torna-se figura
recorrente na série.
O quê nos leva, enfim, ao sétimo filme...
Filmes de ação são fetichistas, não há a menor dúvida,
e o fetiche de "Velozes e Furioso" sempre foram os carros, ainda que,
a partir do quarto filme, a série tenha ganhado um forte sub-texto sobre
família.
Em "Velozes e Furiosos 7" as corridas
são insanas. Certamente, as mais bem elaboradas e complexas de toda a série
(ainda que percam de lavada para as maravilhas técnicas que podemos ver em
"Mad Max - Estrada da Fúria"). Só que o fato de cada filme ter de
superar as proezas do filme anterior leva a um problema: As cenas de ação como
um todo -e não apenas as de corridas de carro -são de um exagero que pode até
assombrar quem não está acostumado aos filmes da série. Temos uma perseguição
onde os carros descem por ribanceiras inacessíveis como se descessem uma
estrada asfaltada; um carro pulando de um edifício para outro em Abu Dabi; e,
no fim, uma corrimaça envolvendo os carros tunados de sempre, um helicóptero e
um drone, que destroem metade da cidade (!).
O fato de não contarem com a presença do
falecido Paul Walker, mas apenas de metade de suas cenas filmadas, torna este
um filme menos sólido que os anteriores em termos narrativos. Percebe-se que,
ao contrário dos outros filmes, o personagem dele, Brian O'Connel, é deixado
muitas vezes de lado em prol do Toretto, de Vin Diesel, o quê muda muito da dinâmica
que tínhamos visto os dois estabelecer ao longo da série. E isso é uma pena.
Não é, nem de longe, um caso como "O
Cavaleiro das Trevas" cuja tragédia do falecimento de Heath Ledger levou
milhares de expectadores ao cinema, mas que não afetou em nada o nível
estratosférico de qualidade do filme.
Aqui, percebe-se, até com certo lamento, os
momentos em que Paul Walker provavelmente teria mais presença com seu
personagem, mas que são suprimidos e contornados com ajustes ou piadinhas do
roteiro, e isso nem sempre funciona (na verdade, quase nunca funciona!).
E então chega a dita da cena final, na qual o
filme faz uma curiosa despedida do seu personagem, com Vin Diesel e sua trupe
numa praia ensolarada, discutindo a partida do amigo, com uma evidente
constatação de que ele não estará mais entre eles. Nesse momente, não parecem
falar de Brian O'Connel, mas do próprio Paul Walker.
A cena é de uma emoção real e palpável, que
deve ter justificado muitas das rasgadas críticas positivas ao filme. Ele e Vin
Diesel emparelham seus carros lado a lado, e enquanto uma música toca (composta
especialmente em homenagem a Paul Walker) um sucessão de cenas invade a tela,
relembrando os momentos de Paul desde o primeiro filme, até este que se
encerra. Onde ele se despede do público.
Os carros correm por um estrada que então se
divide, e o carro de Paul Walker parte sozinho, numa outra direção, com a voz
poderosa e solene de Vin Diesel despedindo-se dele, mas prometendo que vão se
encontrar uma outra vez.
Pode ser (e é!) um filme imperfeito,
mas este é (ao lado do genial "Divertida Mente" da Pixar) o final
mais emocionante do ano.
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