Bloddy Beans
Na verdade, este ano não pude comparecer ao Festival Internacional de Curitiba, Olhar de Cinema. Eu pude ir ano passado, e acabei conferindo alguns trabalhos.
Aqui vai minha impressão sobre alguns deles."Bloody Beans" é um média-metragem argelino que me deixou bastante entediado. Nota-se a intenção da diretora em fazer uma alegoria sobre o fim da Argélia Francesa valendo-se da história de um grupo de crianças (que muito me fizeram lembrar os menores de rua de "Capitães da Areia") que, enfastiadas de comer sempre o mesmo maldito feijão (o título do filme...) resolvem invadir uma casa a noite para roubar comida, ou algo assim...
Terminam sequestrando um jovem soldado (!) para
submetê-lo à tortura de comer os tais feijões...
Percebe-se a pobreza
lastimável em termos técnicos, e mesmo em termos poéticos, o que afasta o filme de qualquer intenção alegórica que ele tenta
evocar. Em nenhum momento suas propostas de simbolismo parecem se justificar de verdade perante a narrativa (se é que de fato existe uma!),
ainda que haja um certo esmero em alguns momentos e cenas, com um uso notável de
sua iluminação.Mary Is Happy, Mary Is Happy
A jovem Mary é uma adolescente tailandesa em
seu último ano no ensino médio. Durante essa fase, o filme acompanha o
turbilhão de mudanças típicos desse momento da vida. A trama se desenvolve, ora através de esquetes, umas inspiradas e divertidas, outras incoerentes para com sua trama; ora dando um respaldo mais dramático que se acentua em determinados momentos da segunda metade.
É curioso constatar a estranha mistura de drama
e de comédia realizada no cinema da Tailândia. Essas diferenças culturais tornam o
filme um pouco inacessível, mas foi dentre todos o que eu mais gostei.
Seu roteiro foi baseado numa série de twits
quase diários postados por uma adolescente real na sua rede social. E essas
frases curtas, parecidas mais com as impressões abstratas de um diário,
aparecem o tempo todo na tela, entre uma cena e outra, num recurso que aos
poucos começa a cansar. As cenas que se alternam entre o engraçado, o melancólico, a comédia pastelão e até mesmo o fatalismo não são nada harmoniosas, embora essa fosse talvez a proposta da produção.
Sem falar que, uma comédia adolescente que
ultrapassa as duas horas de duração é sempre uma armadilha. O circuito
comercial, talvez, até abraçaria este filme com uma edição mais criteriosa.
Isso eliminaria sua gordura
e evidenciaria suas boas ideias.Forma
É difícil entender por completo a intenção da
diretora japonesa Ayumi Sakamoto com este "Forma".
Parece um daqueles filmes em que tudo fica
subentendido para que o expectador preencha as lacunas em seus próprios termos.
Se era, então carecia de um subtexto mais rico e personagens que extraíssem mais interesse do expectador, do jeito como está a direção leva a obra a um resultado árido, entretanto esta é sua estréia
no cinema, sendo assim, se ela melhorar, coisas boas podem vir por aí.
A mim, pareceu que Michael Haneke era sua
influência maior. Nos enquadramentos de câmera, milimetricamente escolhidos, na
perturbadora atmosfera de violência psicológica que envolve a história (que gira em torno de uma rusga inicialmente pouco clara entre duas jovens colegas de trabalho, algo que progride para uma tentativa cruel de homicídio), e no
recurso metalinguístico ocasional de câmera subjetiva, estilo "Caché".
Ainda que a direção pareça
esquecer que Haneke não é um mero pastiche de Hitchcook. E o grande problema é
ser justamente isso que "Forma" termina sendo: um suspense pelo suspense.
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