segunda-feira, 27 de julho de 2015

Três Filmes do Festival de Cinema de Curitiba

Bloddy Beans

Na verdade, este ano não pude comparecer ao Festival Internacional de Curitiba, Olhar de Cinema. Eu pude ir ano passado, e acabei conferindo alguns trabalhos.
Aqui vai minha impressão sobre alguns deles.
"Bloody Beans" é um média-metragem argelino que me deixou bastante entediado. Nota-se a intenção da diretora em fazer uma alegoria sobre o fim da Argélia Francesa valendo-se da história de um grupo de crianças (que muito me fizeram lembrar os menores de rua de "Capitães da Areia") que, enfastiadas de comer sempre o mesmo maldito feijão (o título do filme...) resolvem invadir uma casa a noite para roubar comida, ou algo assim... 
Terminam sequestrando um jovem soldado (!) para submetê-lo à tortura de comer os tais feijões...
Percebe-se a pobreza lastimável em termos técnicos, e mesmo em termos poéticos, o que afasta o filme de qualquer intenção alegórica que ele tenta evocar. Em nenhum momento suas propostas de simbolismo parecem se justificar de verdade perante a narrativa (se é que de fato existe uma!), ainda que haja um certo esmero em alguns momentos e cenas, com um uso notável de sua iluminação.

Mary Is Happy, Mary Is Happy

A jovem Mary é uma adolescente tailandesa em seu último ano no ensino médio. Durante essa fase, o filme acompanha o turbilhão de mudanças típicos desse momento da vida. A trama se desenvolve, ora através de esquetes, umas inspiradas e divertidas, outras incoerentes para com sua trama; ora dando um respaldo mais dramático que se acentua em determinados momentos da segunda metade.
É curioso constatar a estranha mistura de drama e de comédia realizada no cinema da Tailândia. Essas diferenças culturais tornam o filme um pouco inacessível, mas foi dentre todos o que eu mais gostei. 
Seu roteiro foi baseado numa série de twits quase diários postados por uma adolescente real na sua rede social. E essas frases curtas, parecidas mais com as impressões abstratas de um diário, aparecem o tempo todo na tela, entre uma cena e outra, num recurso que aos poucos começa a cansar. As cenas que se alternam entre o engraçado, o melancólico, a comédia pastelão e até mesmo o fatalismo não são nada harmoniosas, embora essa fosse talvez a proposta da produção.
Sem falar que, uma comédia adolescente que ultrapassa as duas horas de duração é sempre uma armadilha. O circuito comercial, talvez, até abraçaria este filme com uma edição mais criteriosa.
Isso eliminaria sua gordura e evidenciaria suas boas ideias.

Forma

É difícil entender por completo a intenção da diretora japonesa Ayumi Sakamoto com este "Forma".
Parece um daqueles filmes em que tudo fica subentendido para que o expectador preencha as lacunas em seus próprios termos. Se era, então carecia de um subtexto mais rico e personagens que extraíssem mais interesse do expectador, do jeito como está a direção leva a obra a um resultado árido, entretanto esta é sua estréia no cinema, sendo assim, se ela melhorar, coisas boas podem vir por aí.
A mim, pareceu que Michael Haneke era sua influência maior. Nos enquadramentos de câmera, milimetricamente escolhidos, na perturbadora atmosfera de violência psicológica que envolve a história (que gira em torno de uma rusga inicialmente pouco clara entre duas jovens colegas de trabalho, algo que progride para uma tentativa cruel de homicídio), e no recurso metalinguístico ocasional de câmera subjetiva, estilo "Caché".
Ainda que a direção pareça esquecer que Haneke não é um mero pastiche de Hitchcook. E o grande problema é ser justamente isso que "Forma" termina sendo: um suspense pelo suspense.

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