quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Caminhos Ásperos


É curioso como a cena inicial de “Caminhos Ásperos” –na qual uma mulher e seu filho pequeno vêem a aproximação, ao longe, de um misterioso pistoleiro à cavalo –lembra muito a cena também inicial de outro clássico, “Os Brutos Também Amam”, lançado naquele mesmo ano de 1953.
Dirigido por John Farrows, o filme se embevece assim de todo o romantismo que um dia impregnou por inteiro as obras que retrataram, ao seu jeito, a vida no Oeste Bravio.
A mulher em questão é Angie Lowe (a ótima Geraldine Page) e, temerosa por sua vida e pela de seu filho de seis anos quando vê aquele estranho surgir na longínqua fazenda onde vivem já há muito tempo sem a presença do esposo e pai do garoto, desdobra-se em mentiras para criar uma falsa ilusão de segurança: Diz que o marido partiu a pouco. Que vai voltar, provavelmente antes do pôr-do-sol e, se não o fizer, no mais tardar estará ali amanhã de manhã.
O tal estranho, Hondo Lane (John Wayne em toda sua altivez), acompanhado de seu cão, não dá muito ouvidos a essas excessivas satisfações; como todo protagonista matreiro daqueles tempos, nada de fato o surpreende, e ele fareja de pronto a mentira.
No entanto, apesar da aspereza de homem do oeste, Hondo é honrado e bem intencionado o suficiente para mudar, durante o breve convívio, o comportamento da dona de casa para com ele: Logo, Angie percebe que Hondo é um homem bom. Que deseja a segurança dela e de seu filho e, quem sabe, no futuro próximo, possa até exercer o papel de marido e pai que o negligente Ed (Leo Gordon, um personagem importante mais a frente) não exerceu.
São tempos conflituosos, e a relação outrora amigável entre camponeses e tribos apaches está acirrada –o próprio Hondo, um mestiço de brancos e apaches, percorre o território prevenindo os moradores: O grande líder dos apaches, Vittorio (vê se isso é nome de índio?!), conclamou um conselho de guerra, e várias tribos estão ávidas por hostilizar todos os brancos em seu caminho.
Hondo, portanto, tem uma importante missão a levar ao comandante das tropas da União arregimentados na cidade mais próxima –mas, ele promete à Angie que irá voltar.
O retorno, contudo, o confronta com dilemas traiçoeiros: Emboscado por Ed Lowe –um encrenqueiro que resolveu seguí-lo para atacá-lo pelas costas –Hondo acaba tendo que matá-lo. E eis aí a complicação: Como explicar para Angie que terminou tirando a vida do esposo (e pai de seu filho) que ela por tanto tempo esperou?
A própria Angie também tem lá seus contratempos: Incrédula acerca das intenções hostis dos apaches, com quem até então tinha uma relação pacífica, ela é praticamente acuada pelo chefe Vittorio (Michael Pate) com uma espécie de ultimato: Profundamente preocupado com as crianças, Vittorio permite a permanência de Angie naquelas terras mesmo em tempos de guerra, mas não admite que o filho dela fique sem uma presença paterna, e para tanto, lhe dá um prazo para escolher um marido entre os guerreiros apaches à disposição (!).
É pelo regresso de Hondo –bem como a resolução das pendengas de todos esses carismáticos personagens –que o hábil filme de Farrows leva o expectador a torcer: Tudo caminhando assim para a seqüência final, uma apoteótica batalha em torno da clássica cena da caravana atacada por índios, realizada com a habilidade prática e estupenda dos artesãos da época.

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