É curioso como a cena inicial de “Caminhos
Ásperos” –na qual uma mulher e seu filho pequeno vêem a aproximação, ao longe,
de um misterioso pistoleiro à cavalo –lembra muito a cena também inicial de
outro clássico, “Os Brutos Também Amam”, lançado naquele mesmo ano de 1953.
Dirigido por John Farrows, o filme se embevece
assim de todo o romantismo que um dia impregnou por inteiro as obras que
retrataram, ao seu jeito, a vida no Oeste Bravio.
A mulher em questão é Angie Lowe (a ótima
Geraldine Page) e, temerosa por sua vida e pela de seu filho de seis anos
quando vê aquele estranho surgir na longínqua fazenda onde vivem já há muito
tempo sem a presença do esposo e pai do garoto, desdobra-se em mentiras para
criar uma falsa ilusão de segurança: Diz que o marido partiu a pouco. Que vai
voltar, provavelmente antes do pôr-do-sol e, se não o fizer, no mais tardar
estará ali amanhã de manhã.
O tal estranho, Hondo Lane (John Wayne em toda
sua altivez), acompanhado de seu cão, não dá muito ouvidos a essas excessivas
satisfações; como todo protagonista matreiro daqueles tempos, nada de fato o
surpreende, e ele fareja de pronto a mentira.
No entanto, apesar da aspereza de homem do
oeste, Hondo é honrado e bem intencionado o suficiente para mudar, durante o
breve convívio, o comportamento da dona de casa para com ele: Logo, Angie
percebe que Hondo é um homem bom. Que deseja a segurança dela e de seu filho e,
quem sabe, no futuro próximo, possa até exercer o papel de marido e pai que o
negligente Ed (Leo Gordon, um personagem importante mais a frente) não exerceu.
São tempos conflituosos, e a relação outrora
amigável entre camponeses e tribos apaches está acirrada –o próprio Hondo, um
mestiço de brancos e apaches, percorre o território prevenindo os moradores: O
grande líder dos apaches, Vittorio (vê se isso é nome de índio?!), conclamou um
conselho de guerra, e várias tribos estão ávidas por hostilizar todos os brancos
em seu caminho.
Hondo, portanto, tem uma importante missão a
levar ao comandante das tropas da União arregimentados na cidade mais próxima
–mas, ele promete à Angie que irá voltar.
O retorno, contudo, o confronta com dilemas
traiçoeiros: Emboscado por Ed Lowe –um encrenqueiro que resolveu seguí-lo para
atacá-lo pelas costas –Hondo acaba tendo que matá-lo. E eis aí a complicação:
Como explicar para Angie que terminou tirando a vida do esposo (e pai de seu
filho) que ela por tanto tempo esperou?
A própria Angie também tem lá seus
contratempos: Incrédula acerca das intenções hostis dos apaches, com quem até
então tinha uma relação pacífica, ela é praticamente acuada pelo chefe Vittorio
(Michael Pate) com uma espécie de ultimato: Profundamente preocupado com as crianças,
Vittorio permite a permanência de Angie naquelas terras mesmo em tempos de
guerra, mas não admite que o filho dela fique sem uma presença paterna, e para
tanto, lhe dá um prazo para escolher um marido entre os guerreiros apaches à
disposição (!).
É pelo regresso de Hondo –bem como a resolução
das pendengas de todos esses carismáticos personagens –que o hábil filme de
Farrows leva o expectador a torcer: Tudo caminhando assim para a seqüência
final, uma apoteótica batalha em torno da clássica cena da caravana atacada por
índios, realizada com a habilidade prática e estupenda dos artesãos da época.
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