Ao se aventurar por uma refilmagem de “Kairo”,
de Kyioshi Kurosawa, é necessário uma certa displicência dos realizadores para
ignorar as raízes essencialmente autorais e culturais que definiam aquele
trabalho. Entretanto, não é difícil concluir que o grande apelo de público que
as obras de terror japonesas da década de 1990 (assim como suas refilmagens)
possuíam falou mais alto que a sensatez.
Da forma como pode, “Pulse” (que conta com o especialista
em terror, Wes Craven, como um de seus roteiristas) busca americanizar a
premissa do filme original japonês. Se nele, a solidão e o isolamento
acarretados pela tecnologia adquiriam facetas abissais de escuridão –e nelas se
entrevia uma reflexão pertinente dos novos tempos –este novo filme paira
superficialmente sobre tais aspectos, aproveitando toda e qualquer deixa para
compor cenas aterrorizantes embaladas em efeitos especiais e reflexos
involuntários do gênero de terror norte-americano. Sem o contexto adequado,
porém, essas cenas são vazias de resultado.
A jovem Mattie (Kristen Bell) fica perplexa
quando um namoradinho envolvido com informática se suicida em circunstâncias um
tanto estranhas.
Contudo, mensagens continuam sendo enviadas
pelo computador dele. Ao investigar, Mattie descobre que ele foi vendido –por
uma camareira interpretada por Octavia Spencer antes do Oscar por “Histórias
Cruzadas” –para um jovem mecânico chamado Dexter (Ian Somerhalder, das séries
“Lost” e “Vampire Diaries”).
Pouco a pouco, os dois vão se dando conta de
algo muito errado com o mundo e a sociedade –e que está diretamente relacionado
aos efeitos isolantes da tecnologia.
Sem fazer uso de muitas das tramas paralelas
que amplificavam a aflição em “Kairo” –e em vez disso, empregando o conjunto de
personagens que vão além do casal protagonista como meras vítimas consecutivas
da maldição no estilo ‘slasher’ –o filme avança na sua história, munido de uma
fotografia tão opressora quanto monocromática, em direção ao clima pós-apocalíptico
do original sem, no entanto, aprofundar a mensagem subliminar da qual ele se
originou.
Na mitologia que “Pulse” tenta construir, o mal
não é uma condição irreversível da humanidade e de seu caminho em direção a um
fim, mas sim um vírus de computador que se materializa como um inimigo tangível
e, quem sabe, neutralizável (e, para isso, “Pulse” teve duas continuações!) –a
exemplo quase de um “Jason” ou de um “Freddy Krueger” (não por acaso, criação
de Wes Craven) –e cuja origem e ‘modus operandi’ ganha todas as explicações e
esclarecimentos que o filme de Kurosawa mantém no terreno da sugestão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário