quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Depois Daquela Montanha


Algo da primazia de “Náufrago”, da situação cuidadosamente arquitetada de “No Limite” (aquele com Anthony Hopkins e Alec Baldwin) e da observação virtuosística dos revezes de “Vivos” –há um pouco de cada uma dessas obras neste “Depois Daquela Montanha”.
Atento às lições deixadas por artesãos competentes antes dele, o diretor Hany Abu-Assad (do memorável “Paradise Now”) procura enfatizar o fator humano diante da luta pela sobrevivência.
O magnífico Idris Elba é Ben. A sensacional Kate Winslet é Alex.
Ela está de casamento marcado. Ele é cirurgião e precisa estar em Baltimore para uma cirurgia de emergência.
Ainda assim, ambos estão impedidos de honrar seus compromissos no aeroporto com todos os vôos cancelados em que se encontram.
Mesmo que, para Alex, Ben seja um completo desconhecido, ela lhe propõe um acordo: Dividirem o custo do frete de um pequeno aeroplano cujo piloto (Beau Bridges) pode levá-los através das montanhas até onde precisam chegar para seguir seus próprios rumos.
Durante a travessia, o imprevisto acontece: O piloto sofre um derrame. O avião cai –numa seqüência elaborada em planos de câmera que deixariam Robert Zemeckis orgulhoso.
Alex e Ben estão, portanto, perdidos na imensidão gelada.
Correspondendo a inúmeros artifícios de histórias de sobreviventes, “Depois Daquela Montanha” oferece, como diferencial, a dinâmica entre seus personagens, tornada mais palpável graças aos primorosos intérpretes que deles se encarregam.
Ferida, Alex depende integralmente dos conhecimentos médicos de Ben, além de sua mera presença ali. Vindo da amargura de um casamento em frangalhos, Ben se ressente das mudanças, e como conseqüência disso, sua intenção é permanecer no local da queda até que a ajuda apareça.
Alex, não. Ela é irrequieta, obstinada e, não raro, teimosa. Mesmo debilitada quer se locomover, contrariando as recomendações de Ben.
São duas personalidades até bem distintas que se chocam.
Em algum momento, Ben precisará compreender a necessidade de evoluir; evoluir do lugar em que está para outro, onde a sobrevivência é, afinal, possível. Evoluir do estado de resignação pelo casamento que deu errado e reconhecer que deve seguir em frente.
A própria Alex deve, também ela, compreender as imperfeições de si mesma e perceber o quanto sua intransigência, na situação-limite em que estão, ameaça sua vida e a de Ben.
É inevitável, diante do isolamento e do contraponto constante de suas índoles a que o filme expõe que Ben e Alex, em algum momento, experimentem um afeto mais intenso um pelo outro.
E o filme de Hany Abu-Assad se torna o que sinalizava ser desde o princípio: Um romance.
É esse aspecto que a narrativa deixa prosseguir em sua última parte, quando após duras penas e já regressados à civilização, Ben e Alex voltam as suas respectivas vidas, sob a sombra latente do efeito que um provocou no outro.

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