Algo da primazia de “Náufrago”, da situação
cuidadosamente arquitetada de “No Limite” (aquele com Anthony Hopkins e Alec
Baldwin) e da observação virtuosística dos revezes de “Vivos” –há um pouco de
cada uma dessas obras neste “Depois Daquela Montanha”.
Atento às lições deixadas por artesãos
competentes antes dele, o diretor Hany Abu-Assad (do memorável “Paradise Now”)
procura enfatizar o fator humano diante da luta pela sobrevivência.
O magnífico Idris Elba é Ben. A sensacional
Kate Winslet é Alex.
Ela está de casamento marcado. Ele é cirurgião
e precisa estar em Baltimore para uma cirurgia de emergência.
Ainda assim, ambos estão impedidos de honrar
seus compromissos no aeroporto com todos os vôos cancelados em que se
encontram.
Mesmo que, para Alex, Ben seja um completo
desconhecido, ela lhe propõe um acordo: Dividirem o custo do frete de um
pequeno aeroplano cujo piloto (Beau Bridges) pode levá-los através das
montanhas até onde precisam chegar para seguir seus próprios rumos.
Durante a travessia, o imprevisto acontece: O
piloto sofre um derrame. O avião cai –numa seqüência elaborada em planos de
câmera que deixariam Robert Zemeckis orgulhoso.
Alex e Ben estão, portanto, perdidos na
imensidão gelada.
Correspondendo a inúmeros artifícios de
histórias de sobreviventes, “Depois Daquela Montanha” oferece, como
diferencial, a dinâmica entre seus personagens, tornada mais palpável graças
aos primorosos intérpretes que deles se encarregam.
Ferida, Alex depende integralmente dos
conhecimentos médicos de Ben, além de sua mera presença ali. Vindo da amargura
de um casamento em frangalhos, Ben se ressente das mudanças, e como
conseqüência disso, sua intenção é permanecer no local da queda até que a ajuda
apareça.
Alex, não. Ela é irrequieta, obstinada e, não
raro, teimosa. Mesmo debilitada quer se locomover, contrariando as
recomendações de Ben.
São duas personalidades até bem distintas que
se chocam.
Em algum momento, Ben precisará compreender a
necessidade de evoluir; evoluir do lugar em que está para outro, onde a
sobrevivência é, afinal, possível. Evoluir do estado de resignação pelo
casamento que deu errado e reconhecer que deve seguir em frente.
A própria Alex deve, também ela, compreender as
imperfeições de si mesma e perceber o quanto sua intransigência, na
situação-limite em que estão, ameaça sua vida e a de Ben.
É inevitável, diante do isolamento e do
contraponto constante de suas índoles a que o filme expõe que Ben e Alex, em
algum momento, experimentem um afeto mais intenso um pelo outro.
E o filme de Hany Abu-Assad se torna o que
sinalizava ser desde o princípio: Um romance.
É esse aspecto que a narrativa deixa prosseguir
em sua última parte, quando após duras penas e já regressados à civilização,
Ben e Alex voltam as suas respectivas vidas, sob a sombra latente do efeito que
um provocou no outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário