sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Spun - Sem Limites


O cinema independente, com o tempo, adquiriu seu próprio verniz da realidade nua e crua. Os grandes responsáveis por isso talvez tenham sido Armone Corinne e Larry Clark e suas obras como “Kids” e “Gummo” em meados dos anos 1990.
Esse tipo de cinema não se pretende tão realista assim quanto na verdade escandaloso, controverso e estiloso. Uma cosmetização da realidade que um cinema idealmente transgressivo (mas, no fim, longe da realidade de fato) faz: “Spun”, estréia em longas-metragens do videoclipeiro Jonas Akerlund segue esta e inúmeras outras vertentes estéticas e artísticas.
Como os filmes sobre vícios e viciados aos quais deseja ardentemente se irmanar –e, nesse sentido, as similaridades narrativas a obras infinitamente mais antológicas e bem resolvidas como “Trainspotting” e “Réquiem Para Um Sonho” não são mera coincidência.
Com efeito, “Spun” é (ou assim se pretende ser) um filme sobre o submundo, sobre drogados e sobre as órbitas alucinadas e constantes de suas vidas.
A iniciar este redemoinho de percepções e confusões temos Ross (Jason Schartzman), um rapaz em busca de seu alívio na forma de droga. A desorganização de seu fornecedor habitual (John Leguizano) o leva a comprar droga de outro vendedor (Mickey Rourke) levando-o a conhecer, no processo, sua dondoca namoradinha (a falecida Brittany Murphy).
Os personagens cheiram carreiras de cocaína e seu comportamento oscila entre o psicótico, o bipolar e o esquizofrênico –e, não só a narrativa de Akerlund parece deslumbrar-se com isso, como logo absorve por inteiro essas características, galvanizando um ritmo modorrento, histérico e febril, pontuado por inserções redundantes de takes infindáveis determinando sem muito critério as ações prolixas dos personagens.
É o estilo sobre o conteúdo levado a um extremo quase insuportável.
Não há, por assim dizer, uma história, mas uma sucessão de acontecimentos que têm por fio condutor o personagem de Schartzman –o quê a equivocada narrativa de Akerlund parece interpretar por protagonista: Entre suas caronas para Nikki (a personagem de Brittany Murphy) e seu namorado (Rourke, numa série de monólogos completamente desvairados), ele se divide entre o interlúdio sexual e insensível com April (que ele esquece nua e algemada na cama do próprio quarto!) e a procura ingrata e desencantada pela ex Amy (que sempre se mostra ausente).
São personagens que vão e vêem (além dos já citados, há os de Mena Suvari, Patrick Fugit, Peter Stormare e outros), com aleatoriedade desconcertante –e a nenhum deles é negado um desfecho tragicômico, por assim dizer.
Na pouca profundidade que confere a sua dramaturgia (se é que há uma), e na inexistente elaboração que dá ao seu humor, o filme não se categoriza em gênero nenhum, seja comédia, seja drama, ou qualquer outra coisa –e esse é só um dos inúmeros lapsos da direção de Jonas Akerlund.

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