O cinema independente, com o tempo, adquiriu
seu próprio verniz da realidade nua e crua. Os grandes responsáveis por isso
talvez tenham sido Armone Corinne e Larry Clark e suas obras como “Kids” e
“Gummo” em meados dos anos 1990.
Esse tipo de cinema não se pretende tão
realista assim quanto na verdade escandaloso, controverso e estiloso. Uma
cosmetização da realidade que um cinema idealmente transgressivo (mas, no fim,
longe da realidade de fato) faz: “Spun”, estréia em longas-metragens do
videoclipeiro Jonas Akerlund segue esta e inúmeras outras vertentes estéticas e
artísticas.
Como os filmes sobre vícios e viciados aos
quais deseja ardentemente se irmanar –e, nesse sentido, as similaridades
narrativas a obras infinitamente mais antológicas e bem resolvidas como
“Trainspotting” e “Réquiem Para Um Sonho” não são mera coincidência.
Com efeito, “Spun” é (ou assim se pretende ser)
um filme sobre o submundo, sobre drogados e sobre as órbitas alucinadas e
constantes de suas vidas.
A iniciar este redemoinho de percepções e
confusões temos Ross (Jason Schartzman), um rapaz em busca de seu alívio na
forma de droga. A desorganização de seu fornecedor habitual (John Leguizano) o
leva a comprar droga de outro vendedor (Mickey Rourke) levando-o a conhecer, no
processo, sua dondoca namoradinha (a falecida Brittany Murphy).
Os personagens cheiram carreiras de cocaína e
seu comportamento oscila entre o psicótico, o bipolar e o esquizofrênico –e,
não só a narrativa de Akerlund parece deslumbrar-se com isso, como logo absorve
por inteiro essas características, galvanizando um ritmo modorrento, histérico
e febril, pontuado por inserções redundantes de takes infindáveis determinando
sem muito critério as ações prolixas dos personagens.
É o estilo sobre o conteúdo levado a um extremo
quase insuportável.
Não há, por assim dizer, uma história, mas uma
sucessão de acontecimentos que têm por fio condutor o personagem de Schartzman
–o quê a equivocada narrativa de Akerlund parece interpretar por protagonista:
Entre suas caronas para Nikki (a personagem de Brittany Murphy) e seu namorado
(Rourke, numa série de monólogos completamente desvairados), ele se divide entre
o interlúdio sexual e insensível com April (que ele esquece nua e algemada na
cama do próprio quarto!) e a procura ingrata e desencantada pela ex Amy (que
sempre se mostra ausente).
São personagens que vão e vêem (além dos já
citados, há os de Mena Suvari, Patrick Fugit, Peter Stormare e outros), com
aleatoriedade desconcertante –e a nenhum deles é negado um desfecho
tragicômico, por assim dizer.
Na pouca profundidade que confere a sua dramaturgia
(se é que há uma), e na inexistente elaboração que dá ao seu humor, o filme não
se categoriza em gênero nenhum, seja comédia, seja drama, ou qualquer outra
coisa –e esse é só um dos inúmeros lapsos da direção de Jonas Akerlund.
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