Certamente mais conhecida do público por sua
participação na série “Downton Abbey” e na saga “Harry Potter” –onde fez o
papel da Prof. Minerva –a grande atriz Maggie Smith chegou, em 1970, a
conquistar um Oscar de Melhor Atriz por um filme do qual muitos já não lembram
tanto quanto esses trabalhos mais recentes.
Se o título nacional (que distorce o sentido de
“The Prime Of Miss Jean Brodie”) sugere uma comédia e as primeiras impressões
sugerem um drama, o filme do diretor Ronald Neame (de “O Destino do Poseidon”) se
desvencilha com propriedade de qualquer um desses rótulos graças, sobretudo, ao
grande trabalho do elenco inglês.
A trama gira em torno da relação entre uma
professora de idéias tidas por inapropriadas para aqueles tempos do início da
década de 1930 e seu grupo de alunas. Embora tenham havido comparações com o
bem-sucedido “Sociedade dos Poetas Mortos”, de 1989 –e, em princípio, ele
realmente aparente ser um precursor em versão feminina daquele trabalho –“A
Primavera de Uma Solteirona” não tarda a revelar aspectos questionadores de
inúmeras vias.
A Professora Jean Brodie (a quem Maggie Smith,
com méritos, oferece uma caracterização completa e incondicional) leciona na
Escola Márcia Blaine Para Garotas em Edimburgo, na Escósia.
Carismática, altiva e veemente, ela regressa de
suas férias na Itália com uma série de idéias pré-concebidas a respeito da
arte, da cultura e da política (leia-se, o fascismo) descobertas por lá que,
aos poucos, começa a transferir para suas alunas, à revelia do aval da diretora
(Celia Johnson, de “Desencanto”) e ignorando as orientações do currículo
escolar.
O fato de sermos expectadores ambientados no
presente –e de sabermos, portanto, que os anos 1930, antecederiam a Segunda
Guerra Mundial e a perigosa ascensão do nazismo, incluindo o regime de ‘Il
Dulce’, Mussoline, que a protagonista tanto admira –nos torna cientes da
ambigüidade presente na empolgação da Prof. Brodie com tais novidades.
Impressionadas com essa postura questionadora
dela, algumas de suas alunas reagem com o assombro da descoberta, embora cada
uma delas tenha uma postura ligeiramente diferente: A influenciável Mary
MacGregor (Jane Carr), a quase indiferente Jenny (Diane Grayson) e a
observadora e atenta Sandy (Pamela Franklyn, dona de uma cena de nudez
certamente audaciosa para a época).
Não obstante esse fato, a Prof. Brodie de certa
maneira também envolve essas alunas em pequenos jogos de relacionamento que
parece travar com dois professores, o gentil e ingênuo Sr. Lowther (Gordon
Jackson), e o artístico e ocasionalmente passional Sr. Loyd (Robert Stephens)
–de um ela parece extrair favores dissimulando afeto, do outro se satisfaz ao
fazer-se o centro de sua obsessão (e lhe torturando de ciúmes); e todas as suas
fiéis alunas têm papéis específicos nessas intrigas.
É Sandy quem, pouco depois de virar amante do
Sr. Loyd (!), percebe que falta à Srta. Brodie capacidade para enxergar as
extensões perigosas de seu poder de manipular.
Está aí, portanto, a grande diferença entre “A
Primavera de Uma Solteirona” e “Sociedade dos Poetas Mortos”: Aqui, a
influência exercida pelo mestre sobre os alunos não é tratada com indefectível
benevolência, tornando o sistema escolar autoritário e opressor em contraponto;
há, sim, um perigo em potencial nas idéias que a Prof. Brodie incute por conta
própria em suas alunas –e esse perigo vai da alienação política, passando pela
corrupção sexual até chegar na ameaça extrema do risco de morte.
Há outra diferença também: São de grandezas
absolutamente distintas os trabalhos dos diretores na condução destas obras; a
perspicácia e a sensibilidade à toda prova de Peter Weir em “Sociedade...”, e a
abordagem incomodamente seletiva (priorizando alguns aspectos, aprofundando
outros, e mantendo certos elementos numa prejudicial superficialidade) de
Ronald Neame.
Seu grande trunfo é, de fato, Maggie Smith que,
com uma interpretação absolutamente espetacular, humaniza uma personagem cujo
roteiro e a condução narrativa tinham tudo para transformar na mera vilã da
história.
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