terça-feira, 2 de agosto de 2016

Guerra Ao Terror

Para muitos, este foi o filme independente que tirou de “Avatar” a glória de conquistar o Oscar de Melhor Filme em 2009.
É curiosa a opção da Academia em premiar este pequeno e esmerado filme de guerra, de fato artisticamente superior à produção de James Cameron, mas que não representa, por assim dizer, o repertório técnico do futuro cinematográfico como aquele filme o fazia.
“Guerra Ao Terror” é um pequeno Davi que venceu um gigante Golias, todavia, esse fato, na maioria das vezes, tira-lhe a verdadeira razão para ser visto: O fato de que a diretora Kathryn Bigelow realizou com um misto envolvente de descontração e empolgação um dos melhores filmes de todos os tempos a retratar a tensão de um conflito.
Ao contrário do que muitos podem esperar, contudo, ela não realizou um filme de ação: E um olhar mais austero sobre a questão pode concluir que –diferente de guerras mais físicas como o do Vietnam ou da Segunda Guerra Mundial –a Guerra do Iraque não deixa margem para seqüências de batalha.
É assim que acompanhamos a rotina de três soldados norte-americanos cuja função é encontrar e desarmar bombas. Na brilhante e tensa cena inicial um deles (interpretado por Guy Pearce, uma das muitas pontas ilustres do filme) morre e é substituído por outro.
A questão é que, faltando trinta e oito dias para serem liberados para casa, os soldados Sanborn (Anthonie Mackie) e Eldridge (Brian Geraghty) recebem como substituto o beligerante e inconseqüente Sargento William James (Jeremy Renner, num papel divisor de águas em sua carreira).
Viciado na adrenalina do perigo, James não tem uma postura moderada e razoável como a de seu antecessor, o quê eleva a carga de tensão entre seus dois companheiros em níveis estratosféricos a medida que ocorrências perigosas de verdade vão se sucedendo. E a diretora Kathryn é particularmente eficiente ao conduzir uma narrativa onde todos os humores e sensações exasperantes convergem dos personagens para o expectador.
O título original de “Guerra Ao Terror” é “The Hurt Locker” cuja tradução mais aproximada seria algo como “o invólucro da dor”. Trata-se de um termo entre usado nas Forças Armadas que define o lugar metafórico em que se encontra o soldado cuja missão não foi capaz de cumprir: E tem-se, justamente aí, o grande segredo para melhor definir o filme; mais do que cenas de alta tensão, e momentos estarrecedores (e eles existem, brilhantemente costurados e detalhados pelo ótimo roteiro de Mark Boal), o trabalho de Bigelow sempre lembra de lançar seu olhar para os seres humanos no centro da questão.
A despeito de suas atitudes no início inexplicáveis, o sargento James, na atuação magnificamente controlada e ponderada de Renner, revela-se um personagem de insuspeita profundidade, por quem passamos a torcer e nos importar.

“Guerra Ao Terror” também possui o mérito de ir um passo além de “Soldado Anônimo” talvez, o único filme sobre a Guerra do Iraque tão bom quanto este daqui: Naquele filme, nos apegávamos aos personagens, mas o diretor Sam Mendes, ao fim do conflito, logo abandonava o público terminando o filme antes de sabermos como foi a volta dos soldados para casa. Já, aqui Kathryn Bigelow estende sua narrativa um pouco mais, dando o vislumbre necessário para descobrirmos como foi o regresso do sargento James ao lar. O suficiente para descobrirmos junto com ele que a guerra deixou-lhe uma série de impressões que passaram então a definir quem ele é, e à guiá-lo para a acachapante decisão que ele toma na cena final.

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