Para muitos, este foi o filme independente que
tirou de “Avatar” a glória de conquistar o Oscar de Melhor Filme em 2009.
É curiosa a opção da Academia em premiar este
pequeno e esmerado filme de guerra, de fato artisticamente superior à produção
de James Cameron, mas que não representa, por assim dizer, o repertório técnico
do futuro cinematográfico como aquele filme o fazia.
“Guerra Ao Terror” é um pequeno Davi que venceu
um gigante Golias, todavia, esse fato, na maioria das vezes, tira-lhe a
verdadeira razão para ser visto: O fato de que a diretora Kathryn Bigelow
realizou com um misto envolvente de descontração e empolgação um dos melhores
filmes de todos os tempos a retratar a tensão de um conflito.
Ao contrário do que muitos podem esperar,
contudo, ela não realizou um filme de ação: E um olhar mais austero sobre a
questão pode concluir que –diferente de guerras mais físicas como o do Vietnam
ou da Segunda Guerra Mundial –a Guerra do Iraque não deixa margem para seqüências
de batalha.
É assim que acompanhamos a rotina de três
soldados norte-americanos cuja função é encontrar e desarmar bombas. Na
brilhante e tensa cena inicial um deles (interpretado por Guy Pearce, uma das
muitas pontas ilustres do filme) morre e é substituído por outro.
A questão é que, faltando trinta e oito dias
para serem liberados para casa, os soldados Sanborn (Anthonie Mackie) e
Eldridge (Brian Geraghty) recebem como substituto o beligerante e inconseqüente
Sargento William James (Jeremy Renner, num papel divisor de águas em sua
carreira).
Viciado na adrenalina do perigo, James não tem
uma postura moderada e razoável como a de seu antecessor, o quê eleva a carga
de tensão entre seus dois companheiros em níveis estratosféricos a medida que
ocorrências perigosas de verdade vão se sucedendo. E a diretora Kathryn é
particularmente eficiente ao conduzir uma narrativa onde todos os humores e
sensações exasperantes convergem dos personagens para o expectador.
O título original de “Guerra Ao Terror” é “The
Hurt Locker” cuja tradução mais aproximada seria algo como “o invólucro da dor”.
Trata-se de um termo entre usado nas Forças Armadas que define o lugar
metafórico em que se encontra o soldado cuja missão não foi capaz de cumprir: E
tem-se, justamente aí, o grande segredo para melhor definir o filme; mais do
que cenas de alta tensão, e momentos estarrecedores (e eles existem,
brilhantemente costurados e detalhados pelo ótimo roteiro de Mark Boal), o
trabalho de Bigelow sempre lembra de lançar seu olhar para os seres humanos no
centro da questão.
A despeito de suas atitudes no início
inexplicáveis, o sargento James, na atuação magnificamente controlada e
ponderada de Renner, revela-se um personagem de insuspeita profundidade, por
quem passamos a torcer e nos importar.
“Guerra Ao Terror” também possui o mérito de ir
um passo além de “Soldado Anônimo” talvez, o único filme sobre a Guerra do
Iraque tão bom quanto este daqui: Naquele filme, nos apegávamos aos
personagens, mas o diretor Sam Mendes, ao fim do conflito, logo abandonava o
público terminando o filme antes de sabermos como foi a volta dos soldados para
casa. Já, aqui Kathryn Bigelow estende sua narrativa um pouco mais, dando o
vislumbre necessário para descobrirmos como foi o regresso do sargento James ao
lar. O suficiente para descobrirmos junto com ele que a guerra deixou-lhe uma
série de impressões que passaram então a definir quem ele é, e à guiá-lo para a
acachapante decisão que ele toma na cena final.
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