Quando afirmamos que tanto “2001-Uma Odisséia
No Espaço”, quanto “Laranja Mecânica” são obras de ficção científica dirigidas
por Stanley Kubrick, o comentário pressupõe que são filmes parecidos.
Mas, na realidade, eles não poderiam ser mais
diferentes.
Enquanto “2001” é um objeto de contemplação
para com a reflexão imponderável da jornada humana no universo, “Laranja...” se
coloca numa postura muito mais mundana, abrindo margem para Kubrick lançar seu
olhar acurado e antropológico sobre as raízes da maldade perene em todos nós.
Alex DeLarge (ou mais precisamente Malcolm
McDowell, o ator que o interpreta) é o próprio modelo de fetiche para a
observação de Kubrick, e o ar de desafio, de cinismo e deboche, impregnado o
tempo todo em seu rosto explica o porque dele ser a escolha perfeita para o
papel.
Alex é um adolescente inglês, líder de uma
gangue que, num futuro próximo, passa seus dias num comportamento amoral:
Estupram, brigam e fazem o quê querem e quando querem. O registro de tais
seqüências, movido por Kubrick na primeira parte do filme, é a um só tempo
estarrecedor e hipnótico, na beleza perversa com que emoldura as imagens de
tais atos e permite que essa sensação de ultraje alcance o expectador.
A segunda parte do filme leva Alex, depois de
traído por seus companheiros e capturado pela polícia, à um inferno
penitenciário, no qual ele será voluntário para uma experiência comportamental
como forma de escapar do enfadonho sistema carcerário. É aí, contudo, que
residirá o seu tormento: Alex é submetido à uma lavagem cerebral que lhe inibe
os instintos agressivos, tornando-o se não um indivíduo passivo, ao menos,
alguém cuja reação violenta à qualquer coisa se vê bloqueada.
Essa parte do filme mostra Kubrick acompanhando
Alex, como numa espécie de julgamento moral, onde irá se deparar com suas vítimas
da primeira parte, e em grande medida, será vitimizado por elas.
A cereja no topo do bolo do diretor Stanley
Kubrick (e do autor Anthony Burgess) é o fato de Alex, ao fim, cair nas graças
de políticos interesseiros, e a circunstância de poder que surge então é de tal
forma favorável para ele que as inibições da lavagem cerebral não oferecem
qualquer obstáculo para suas perversidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário