quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Laranja Mecânica

Quando afirmamos que tanto “2001-Uma Odisséia No Espaço”, quanto “Laranja Mecânica” são obras de ficção científica dirigidas por Stanley Kubrick, o comentário pressupõe que são filmes parecidos.
Mas, na realidade, eles não poderiam ser mais diferentes.
Enquanto “2001” é um objeto de contemplação para com a reflexão imponderável da jornada humana no universo, “Laranja...” se coloca numa postura muito mais mundana, abrindo margem para Kubrick lançar seu olhar acurado e antropológico sobre as raízes da maldade perene em todos nós.
Alex DeLarge (ou mais precisamente Malcolm McDowell, o ator que o interpreta) é o próprio modelo de fetiche para a observação de Kubrick, e o ar de desafio, de cinismo e deboche, impregnado o tempo todo em seu rosto explica o porque dele ser a escolha perfeita para o papel.
Alex é um adolescente inglês, líder de uma gangue que, num futuro próximo, passa seus dias num comportamento amoral: Estupram, brigam e fazem o quê querem e quando querem. O registro de tais seqüências, movido por Kubrick na primeira parte do filme, é a um só tempo estarrecedor e hipnótico, na beleza perversa com que emoldura as imagens de tais atos e permite que essa sensação de ultraje alcance o expectador.
A segunda parte do filme leva Alex, depois de traído por seus companheiros e capturado pela polícia, à um inferno penitenciário, no qual ele será voluntário para uma experiência comportamental como forma de escapar do enfadonho sistema carcerário. É aí, contudo, que residirá o seu tormento: Alex é submetido à uma lavagem cerebral que lhe inibe os instintos agressivos, tornando-o se não um indivíduo passivo, ao menos, alguém cuja reação violenta à qualquer coisa se vê bloqueada.
Essa parte do filme mostra Kubrick acompanhando Alex, como numa espécie de julgamento moral, onde irá se deparar com suas vítimas da primeira parte, e em grande medida, será vitimizado por elas.
A cereja no topo do bolo do diretor Stanley Kubrick (e do autor Anthony Burgess) é o fato de Alex, ao fim, cair nas graças de políticos interesseiros, e a circunstância de poder que surge então é de tal forma favorável para ele que as inibições da lavagem cerebral não oferecem qualquer obstáculo para suas perversidades.


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