Em todos os ângulos possíveis, este trata-se de
um projeto dos mais desiguais. Nascido da mente propensa a esquisitices do
produtor Nicolas Cage que vislumbrou um filme de metalinguagem que partisse de
um argumento cheio de ironia e curiosidade, e que ainda beneficiava-se por
orbitar em torno de uma das mais lendárias produções do cinema: E se o diretor
Friedrich Wilhelm Murnau, ao conceber sua obra-prima “Nosferatu”, nos primórdios
do cinema (1922), tivesse recorrido, a fim de obter realismo técnico para além
das limitações da época, a um vampiro de verdade?
Dando corpo narrativo a um folclore que já
cercava a produção de Murnau –afinal, seu filme é tão antigo e lendário que a
falta de informações sobre ele e seu elenco conduzia a esses preenchimentos de
imaginação –o filme mostra o ator Max Schreck (uma atuação extraordinária de
Willen Dafoe, que incorporou o personagem a ponto de não se despir dele nem
mesmo nos intervalos das gravações) como uma criatura da noite autêntica,
requisitada pelo diretor Murnau (John Malkovich, veemente) em troca de alguns
membros mais obsoletos da equipe técnica –que vão desaparecendo ao longo das
filmagens –e, com o fim da produção, o sangue da própria atriz principal Greta
Schroeder (interpretada como uma viciada quase sorumbática pela bela Catherine
McCormack, de “Coração Valente”).
Como se já não fosse essa uma premissa bastante
incomum, Nicolas Cage, como produtor, fã do perturbador, audaz e experimental, “Begotten”,
requisitou para a tarefa da direção o mesmo realizador daquela obra, E. Elias
Merhige, que se recusou a dar ao filme um aspecto de comédia –que seria a
abordagem escolhida por nove entre dez realizadores para essa trama. Ao invés
disso, Merhige pontua esse conto metalingüístico com dramaticidade, muito fatalismo,
pormenores macabros e uma convulsiva seriedade, o quê confere a sua obra um
clima estranho e indigesto a expectadores de gosto comercial, mas que caiu nas
graças da critica no ano 2000, época de seu lançamento: O filme foi indicado
aos Oscars de Melhor Ator Coadjuvante (que Willen Dafoe perdeu para o favoritíssimo
Benicio Del Toro, por “Traffic”) e Melhor Maquiagem (vencido por “O Grinch”).
Hoje, já um tanto esquecido
apesar de seu caráter bastante cult, “A Sombra do Vampiro” persiste como uma
das menos usuais homenagens já feitas ao cinema.
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