sábado, 13 de maio de 2017

A Sombra do Vampiro

Em todos os ângulos possíveis, este trata-se de um projeto dos mais desiguais. Nascido da mente propensa a esquisitices do produtor Nicolas Cage que vislumbrou um filme de metalinguagem que partisse de um argumento cheio de ironia e curiosidade, e que ainda beneficiava-se por orbitar em torno de uma das mais lendárias produções do cinema: E se o diretor Friedrich Wilhelm Murnau, ao conceber sua obra-prima “Nosferatu”, nos primórdios do cinema (1922), tivesse recorrido, a fim de obter realismo técnico para além das limitações da época, a um vampiro de verdade?
Dando corpo narrativo a um folclore que já cercava a produção de Murnau –afinal, seu filme é tão antigo e lendário que a falta de informações sobre ele e seu elenco conduzia a esses preenchimentos de imaginação –o filme mostra o ator Max Schreck (uma atuação extraordinária de Willen Dafoe, que incorporou o personagem a ponto de não se despir dele nem mesmo nos intervalos das gravações) como uma criatura da noite autêntica, requisitada pelo diretor Murnau (John Malkovich, veemente) em troca de alguns membros mais obsoletos da equipe técnica –que vão desaparecendo ao longo das filmagens –e, com o fim da produção, o sangue da própria atriz principal Greta Schroeder (interpretada como uma viciada quase sorumbática pela bela Catherine McCormack, de “Coração Valente”).
Como se já não fosse essa uma premissa bastante incomum, Nicolas Cage, como produtor, fã do perturbador, audaz e experimental, “Begotten”, requisitou para a tarefa da direção o mesmo realizador daquela obra, E. Elias Merhige, que se recusou a dar ao filme um aspecto de comédia –que seria a abordagem escolhida por nove entre dez realizadores para essa trama. Ao invés disso, Merhige pontua esse conto metalingüístico com dramaticidade, muito fatalismo, pormenores macabros e uma convulsiva seriedade, o quê confere a sua obra um clima estranho e indigesto a expectadores de gosto comercial, mas que caiu nas graças da critica no ano 2000, época de seu lançamento: O filme foi indicado aos Oscars de Melhor Ator Coadjuvante (que Willen Dafoe perdeu para o favoritíssimo Benicio Del Toro, por “Traffic”) e Melhor Maquiagem (vencido por “O Grinch”).
Hoje, já um tanto esquecido apesar de seu caráter bastante cult, “A Sombra do Vampiro” persiste como uma das menos usuais homenagens já feitas ao cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário