quinta-feira, 4 de maio de 2017

O Lugar Onde Tudo Termina

Um personagem. Um motociclista. De índole tão inconseqüente e auto-destrutiva que, de início, sabemos que ganha a vida arriscando-se em apresentações num globo da morte. Esse é o estopim narrativo que principia este trabalho do diretor Derek Cianfrance, mais ambicioso do que o elogiado “Namorados Para Sempre” –ou “Blue Valentine” –tornando aqui a trabalhar com o ator Ryan Gosling, intérprete justamente desse personagem, Handsome Luke, e dele arrancando uma notável atuação.
Na interpretação de Gosling, Luke desafia o público: Dentre os vários personagens é, de longe, aquele que mais monopoliza o expectador, apesar de tudo que ainda virá, ele obtém facilmente sua afeição, embora cometa o tempo todo atos que não o fazem merecedor.
Que o diga Romina (interpretada por Eva Mendes) uma antiga aventura que Luke descobriu carregar um filho seu.
Disposto a arcar com a paternidade, Luke entra em atrito com o então marido de Romina, Kofi (Mahershala Ali, de “Moonlight-Sob A Luz do Luar”), e termina associando-se ao escuso Robin (Ben Mendelsohn, de "Rogue One”) com quem envereda para o crime, assaltando bancos.
Por sua personalidade e por sua necessidade, esses serão atos que ele não será capaz de interromper.
Em algum momento, portanto, o caminho de Luke cruza-se com o do policial Avery Cross (Bradley Cooper, ótimo) e então o filme o abandona, por assim dizer.
Num recurso bastante inesperado, é Avery quem assume o centro da trama quando o filme já abandona seu primeiro ato e, embora os elementos do plot anterior jamais sejam esquecidos, a obra de Cianfrance, em alguns momentos, parece ter se metamorfoseado num outro filme, desta vez acerca das aflições de um jovem policial ambicioso cercado de corrupção por todos os lados.
Mais a frente, com habilidade inata, também essa premissa irá se modificar, restabelecendo o caráter humano de sua história.
Dito isso, é realmente notável como a narrativa transfere com surpreendente naturalidade o protagonismo de um personagem para o outro (primeiro, Ryan Gosling, uma lembrança que persiste por todo o filme; depois, Bradley Cooper; e, por fim, o jovem Dane Deehan) numa trama sobre culpa, destinos que se entrecruzam e conseqüências do passado, que se estende por décadas.
Neste filme, assim como no anterior “Blue Valentine” e no posterior “A Luz Entre Os Oceanos”, o diretor Derek Cianfrance demonstra grande interesse por laços familiares que se formam por caminhos tortos, bem como o sinuoso e corrosivo efeito que eles desenvolvem nas vidas dos envolvidos ao longo dos anos.
A maneira hábil com que ele consegue compreender tais desdobramentos dramáticos e a forma certeira e talentosa como os expressa em cena é o grande brilho deste filme.

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