Volta e meia, as obras da Disney ilustram um
fascínio perene pelo mar: A obra-prima “A Pequena Sereia”, a aventura de
pretensões inovadoras “Atlantis-O Reino Perdido”, o recente “Moana-Um Mar de
Aventuras”.
A Pixar, a mais próspera divisão de animação da
Disney nas últimas duas décadas não haveria de fugir a essa regra –é o mar o
cenário para aquele que é um de seus mais amados clássicos,”Procurando Nemo”.
Construído por escolhas muito particulares, ele
possui uma trama que ecoa, nos mais diversos ângulos, as aspirações vistas nos
grandes clássicos antigos do estúdio.
Tomemos, como exemplo, “Bambi”: É a mesma
história marcada pelo auto-sacrifício da mãe que marca, depois, a trajetória do
próprio filhote, e que também acaba determinando a relação dele com seu pai.
Entretanto, se em “Bambi” essa relação possui
algo de uma indiferença e distante severidade, em “Nemo” ela é definida pela
superproteção: Parece ter sido demais para o peixe palhaço Marlin, ter de
testemunhar o ataque mortal de uma barracuda que lhe tirou a esposa e as
centenas de filhotes que sequer tinham desovado.
Por isso, o protecionismo exacerbado que ele
dedica â Nemo, o único sobrevivente da tragédia.
Mas, Nemo (que tem uma nadadeira defeituosa) se
ressente pelo excesso de zelo. Ele quer ser livre. Quer provar o oposto daquilo
que parece ser aos olhos do pai: Alguém indefeso.
Tanto quer que –de maneira torta e inesperada
–consegue; Nemo é capturado por um mergulhador e levado para um aquário na
cidade. Cabe a Marlin, agora, atravessar todo o mar na tentativa de
encontrá-lo. Ele tem uma ajuda inesperada –Dory, uma adorável peixinha azul que
sofre de perda de memória recente.
Enquanto isso, Nemo encontra um grupo de párias
que planeja uma audaciosa fuga do aquário onde estão todos presos (!).
Em sua grandeza de espírito, a Pixar cria aqui
uma mensagem tão brilhante, salutar e sutil que ameaça passar despercebida até
mesmo dos adultos: Todos os personagens, aqui, sofrem de um grau, maior ou
menor, de limitação, seja ela física, mental ou emocional. E todos encontram,
até o fim, uma maneira de superá-la.
Dory não consegue reter as memórias do que lhe
acontece, e embora o filme use esse recurso durante a maior parte em seu humor,
não lhe faltam momentos que mostram o quanto ela sofre com isso. Ainda assim,
ela encontra, na tentativa de auxiliar um amigo aflito (e no ato de tornar-se
imprescindível nesse processo), uma forma de se fazer importante e necessária.
Marlin, em sua paranóica preocupação, não
encara de maneira realista e sensata a educação do filho, e tenta até mesmo
privá-lo de experiências essenciais como a interação social. Serão as
peripécias vividas em alto-mar que mostrarão a ele a fascinante pluralidade da
vida e, em última instância, o pecado que é privar o filho disso.
Mas é Nemo que, ao menos aqui, entrega a mais
importante das mensagens: Seu pai passa, sim, o filme todo à procura dele, na
esperança de salvá-lo, mas é o próprio Nemo quem o faz –com nadadeira
deficiente e tudo, o pequeno e persistente peixinho é o herói de sua própria
história.
Uma lição preciosa. Das
mais relevantes já vistas numa animação.
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