Quando realizou este notável drama romântico
sobre as inseguranças masculinas do relacionamento, o diretor Gabriele Muccino
demonstrou tanta habilidade que logo se habilitou para vôos mais ambiciosos,
como os filmes norte-americanos “À Procura da Felicidade” e “Sete Vidas”, ambos
com Will Smith.
A trama não tem nada demais –e até bastante
redundante se colocarmos em uma sinopse: Rapaz (Stefano Accorsi) prestes a
fazer trinta anos tem uma “crise de relacionamento” depois que sua namorada (a
bela Giovanna Mezzogiorno, de “O Amor Nos Tempos do Cólera”) engravida,
obrigando-o a assumir um nível maior de responsabilidade. Enquanto a situação
dos casais à sua volta também passa por conflitos (os sogros estão prestes a se
separar –e lá está Stefania Sandrelli, no papel de mãe da protagonista –, um
dos amigos não suporta mais o temperamento da esposa, com quem teve um bebê
recentemente, enquanto que outro amigo não é capaz de esquecer a antiga
namorada que lhe deu um belo fora), ele começa um romance com uma bela jovem de
dezoito anos (Martina Stella, belíssima) que conheceu em um casamento.
A grande diferença no filme de Muccino é o
tratamento que ele confere à história, enfatizando elementos criteriosamente
essenciais à trama, conferindo um dinamismo à narrativa do qual em momento
algum ele abre mão, e se mostrando absolutamente incisivo na sua condução: Ele
narra num filme de pouco mais de uma hora e meia, uma trama que poderia render
uma novela inteira, valendo-se exclusivamente do critério de necessidade: O quê
ajuda a contar a história fica, o que não ajuda sai!
Os elementos, reduzidos à sua essência, são
também trabalhados com cuidado nos detalhes: Não há, por exemplo, maniqueísmo
na construção da personagem da jovem com quem o protagonista tem uma aventura
–na forma como o roteiro a apresenta assim como na atuação charmosa e
espontânea de Martina Stella, a jovem é tão apaixonante quanto a namorada do
personagem principal, num recurso simples, mas que salienta o drama e afasta o
filme de redundâncias morais e narrativas típicas de um filme romântico
norte-americano.
Talvez, seja por isso a imensa ironia de “O
Último Beijo” ter sido, também ele, veja só, refilmado nos EUA. Sua versão
americana –descaradamente copiada cena a cena –chama-se “Um Beijo A Mais” e, em
tudo e por tudo, se apresenta inferior ao filme italiano: As inseguranças dos
protagonistas (o tema do filme, afinal) são transmitidas de maneira menos
convincente, as atrizes, ainda que esforçadas, nem de longe se comparam com as
italianas e acima de tudo, os instantes de emoção mais intensa (com destaque
para o triste momento em que o protagonista tem de dar o basta na relação com a
jovem e seguir em frente) não encontram a intensidade e a entrega necessária na
narrativa americana.
Até ai, nada de novo...Apenas para constar: Quase uma década depois, o próprio Gabriele Muccino promoveu o reencontro dos personagens com o público numa espécie de continuação, "Beije-Me Outra Vez", mas o novo filme não conta com a presença de Martina Stella (cuja personagem não reaparece) e nem a de Giovanna Mezzogiorno (que não voltou e foi substituída por outra atriz). Mas isso, como dizem, é uma outra história...
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