quarta-feira, 3 de maio de 2017

O Último Beijo

Quando realizou este notável drama romântico sobre as inseguranças masculinas do relacionamento, o diretor Gabriele Muccino demonstrou tanta habilidade que logo se habilitou para vôos mais ambiciosos, como os filmes norte-americanos “À Procura da Felicidade” e “Sete Vidas”, ambos com Will Smith.
A trama não tem nada demais –e até bastante redundante se colocarmos em uma sinopse: Rapaz (Stefano Accorsi) prestes a fazer trinta anos tem uma “crise de relacionamento” depois que sua namorada (a bela Giovanna Mezzogiorno, de “O Amor Nos Tempos do Cólera”) engravida, obrigando-o a assumir um nível maior de responsabilidade. Enquanto a situação dos casais à sua volta também passa por conflitos (os sogros estão prestes a se separar –e lá está Stefania Sandrelli, no papel de mãe da protagonista –, um dos amigos não suporta mais o temperamento da esposa, com quem teve um bebê recentemente, enquanto que outro amigo não é capaz de esquecer a antiga namorada que lhe deu um belo fora), ele começa um romance com uma bela jovem de dezoito anos (Martina Stella, belíssima) que conheceu em um casamento.
A grande diferença no filme de Muccino é o tratamento que ele confere à história, enfatizando elementos criteriosamente essenciais à trama, conferindo um dinamismo à narrativa do qual em momento algum ele abre mão, e se mostrando absolutamente incisivo na sua condução: Ele narra num filme de pouco mais de uma hora e meia, uma trama que poderia render uma novela inteira, valendo-se exclusivamente do critério de necessidade: O quê ajuda a contar a história fica, o que não ajuda sai!
Os elementos, reduzidos à sua essência, são também trabalhados com cuidado nos detalhes: Não há, por exemplo, maniqueísmo na construção da personagem da jovem com quem o protagonista tem uma aventura –na forma como o roteiro a apresenta assim como na atuação charmosa e espontânea de Martina Stella, a jovem é tão apaixonante quanto a namorada do personagem principal, num recurso simples, mas que salienta o drama e afasta o filme de redundâncias morais e narrativas típicas de um filme romântico norte-americano.
Talvez, seja por isso a imensa ironia de “O Último Beijo” ter sido, também ele, veja só, refilmado nos EUA. Sua versão americana –descaradamente copiada cena a cena –chama-se “Um Beijo A Mais” e, em tudo e por tudo, se apresenta inferior ao filme italiano: As inseguranças dos protagonistas (o tema do filme, afinal) são transmitidas de maneira menos convincente, as atrizes, ainda que esforçadas, nem de longe se comparam com as italianas e acima de tudo, os instantes de emoção mais intensa (com destaque para o triste momento em que o protagonista tem de dar o basta na relação com a jovem e seguir em frente) não encontram a intensidade e a entrega necessária na narrativa americana.
Até ai, nada de novo...

Apenas para constar: Quase uma década depois, o próprio Gabriele Muccino promoveu o reencontro dos personagens com o público numa espécie de continuação, "Beije-Me Outra Vez", mas o novo filme não conta com a presença de Martina Stella (cuja personagem não reaparece) e nem a de Giovanna Mezzogiorno (que não voltou e foi substituída por outra atriz). Mas isso, como dizem, é uma outra história...

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