Ator e diretor, Takeshi Kitano constrói um
filme de yakuza peculiar e distinto de todos os outros filmes de yakuza, e é de
se presumir a forma desconcertante com que este filme –batizado equivocadamente
como “Adrenalina Máxima” quando foi primeiramente lançado aqui na era do VHS –foi
recebido, já que sua condução, atmosfera e ritmo passam longe de qualquer
estereótipo de filmes de ação ou de máfia japonesa.
Ao invés do cenário urbano (que ainda predomina
durante seus enganosos trinta primeiros minutos), uma casinha numa praia
desabitada; ao invés de rompantes sucessivos de explosiva violência, uma
calmaria que convida à introspecção –e que transforma os rompantes de violência
(quando eles ocorrem) em momentos verdadeiramente chocantes e inesperados.
A cada filme, Kitano não apenas buscou se
afastar da imagem de bem sucedido comediante japonês, mas também da perspectiva
e expectativa de que seria um cinema de elementos convencionais o que ele iria
realizar: Suas obras destacavam-se por uma vibração diferente, um ritmo
particular mais reflexivo, uma observação cheia de sensibilidade dirigida aos
aspectos mais truculentos do ser humano. O fato de ser também um ator permitiu
a Kitano compreender as nuances dos muitos personagens de seus filmes,
concebendo encenações que priorizam as evoluções dramáticas, embora isso também
tenha conduzido a um visível egocentrismo na forma com que as cenas se sucedem
ao redor do protagonista que ele interpreta.
Mas são observações menores em uma obra que de
fato oferece algo novo.
“Sonatine” acompanha um grupo da yakuza, com
ênfase na figura amargurada e calejada de Murakawa (Kitano), um dos homens de
confiança do chefe do clã. Uma trégua entre duas facções rivais em
insistentemente negociada, sempre com resultados insatisfatórios. Logo, quando
a guerra se acirra numa proporção inversa à esperança de que a trégua se
estabelecesse, cinco yakuzas (Murakawa, dois outros veteranos e dois novatos de
índoles distintas) são obrigados a se refugiar numa casinha de praia onde
aguardam notícias enquanto são consumidos pelo ócio –e, no processo inevitável,
acabam se conhecendo um pouco melhor, enquanto se ocupam de brincadeiras
(algumas um tanto estranhas!) e fazem amizade com uma bela jovem que Murakawa
por acaso (!) salva de ser estuprada!
Esse registro revela traços
de humor em Takeshi Kitano, embora seja um humor bastante peculiar,
contemplativo, silencioso e sutil em seus meandros quase negros: Aparentemente,
tudo parece depor a favor dos momentos raivosos e explosivos que (embora
compareçam nesta obra estranha em doses homeopáticas) o fazem de maneira
absolutamente antológica, caso, por exemplo, da muito lembrada cena da chacina
do elevador.
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