“The Fall Guy”, a exemplo de inúmeras produções, hoje cultuadas, dos anos 1980, ganhou sua versão cinematográfica (era antes uma série de TV) repaginada e incrementada com todos os divertidos exageros do cinema comercial atual. Ao que parece, entretanto, os funcionários das distribuidoras nacionais são jovens demais lembrar que a série “The Fall Guy”, estrelada por Lee Majors, levava aqui no Brasil o título de “Duro Na Queda” –esta versão cinematográfica chega aqui intitulada meramente como “O Dublê” (!?).
Como em muitas obras já reaproveitadas em
filmes turbinados e frequentemente descerebrados, “The Fall Guy”, o filme,
amplifica o conceito tímido de ação da série (que acabava um pouco disfarçado
com um viés investigativo) com sequências de luta e/ou perseguições elevadas a
níveis inacreditáveis. O grande trunfo deste projeto, em si, foi mesmo poder
contar com a direção de David Leitch.
Outrora um requisitado coordenador de dublês da indústria (fez, entre outros, “Clube da Luta”, “300” e “O Ultimato Bourne”), Leitch faz de “The Fall Guy” não apenas
um filme pulsante, palpitante e fluído (sua especialidade como diretor), mas
também um enaltecimento indelével em forma de longa-metragem de sua antiga
profissão: Não faltam menções, em diversas ocasiões do roteiro, ao fato de que
clássicos como “Rocky”, “Coração Valente” e “Titanic” jamais seriam realizados
sem dublês, ou de que a classe, tão fundamental à indústria cinematográfica,
não tem um categoria no Oscar que a prestigie.
No fim das contas, é a direção apaixonada de
David Leitch que faz toda a diferença na história de Colt Seavers (Ryan
Gosling, sensacional), dublê profissional –e, na maior parte do tempo, quase
sempre do imaturo astro Tom Ryder (Aaron Johnson). Aposentado após um acidente
num set de filmagens, Colt é
convocado de volta à ativa pela produtora
Gail Meyer (Hannah Waddingham, de “Os Miseráveis”) para participar de um
filme feito na Austrália e dirigido por Jody Moreno (Emily Blunt), um romance
mal-resolvido de seu passado.
Contudo, as circunstâncias são mais
complicadas: Gail chamou Colt porque o astro da produção (o próprio Tom Ryder),
simplesmente desapareceu. Como o sumiço do ator principal pode interromper a
realização do primeiro filme da carreira de Jody, Colt aceita a incumbência,
dando uma de detetive nas horas vagas, enquanto atua paralelamente no filme,
levando bordoadas usuais como dublê.
O diretor Leitch é inteligente e inquieto na
aproveitação desses expedientes –ele molda um vibrante filme de ação
(aproveitando a desenvoltura fora do comum de Ryan Gosling), oscilando entre os
acréscimos de detalhes investigativos de sua trama (com desenlaces até bem
inesperados), inspirados lampejos de metalinguagem (o ‘filme dentro do filme’
proporciona sacadas muitas vezes hilariantes) e os altos e baixos da relação
afetiva entre Colt e Jody, construída em oportunidades pouco usuais pela
narrativa –e ainda se vale de um gancho muito envolvente e sedutor das obras
oitentistas que ele tanto homenageia: O protagonista íntegro e valoroso, cuja
integridade e valor escapa (graças ao habilidoso do roteiro) dos olhos de todos,
inclusive da mocinha que ele ama, exceto dos da plateia, que por conta disso,
identifica-se plenamente com ele.
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