Como quem não quer nada, a “Trilogia Bourne”
estabeleceu uma nova forma de se fazer filme de ação, e de quebra elevou
consideravelmente o patamar de qualidade das obras vindas desse gênero. Prova
disso é a inquestionável semelhança com que a reinvenção da série 007 (não por
caso, também ela, uma série de ação e espionagem) promovida por Martin Campbell
em “Cassino Royale”, com Daniel Craig, possui com esta série: O James Bond de
Craig, inclusive, guarda traços que o aproximam muito mais do Jason Bourne de
Matt Damon que das encarnações datadas de Bond feitas por Sean Connerry, ou
Roger Moore.
Mas, vamos ao filme em questão: Quando foi
lançado, “O Ultimato Bourne”, o terceiro e assim alardeado último filme da
série, tinha curiosas expectativas a pesar sobre si; os dois filmes anteriores,
“Identidade” e “Supremacia” foram afinal surpreendentes sucessos, nos quais não
se esperava o êxito largamente obtido e ainda menos a surpreendente qualidade
com o qual foram realizados.
Para esta terceira parte, todos esses fatores
estavam sendo levados em conta e era uma incógnita como o diretor Greenglass
encerraria uma trilogia que ele mesmo ajudou a tornar inesquecível.
“O Ultimato Bourne” parte de algumas questões
onipresentes em toda a série. Quem é Jason Bourne? Por quê ele perdeu a
memória? Por quê todos o querem morto? E delas extrai a verdade dramática que
norteia seu magistral protagonista, assim como todos os coadjuvantes que, para
o bem e para o mal, reagem à sua volta.
Esta continuação direta de "A Supremacia
Bourne" inicia-se não na cena final do filme anterior, mas dias antes
dela. Acompanhamos Bourne atrás de suas respostas exatamente onde a perseguição
de carro acabou, registrando ainda a urgência daquele momento, num trabalho de
direção tão brilhante quanto perspicaz.
A medida que a trama avança e novas revelações
vão surgindo, descobrimos que o Projeto Treadstone foi extinguido, e em seu
lugar foi instaurado o Projeto Blackbriar.
Contudo, nem toda a sujeira foi varrida para
baixo do tapete. Resta uma última prova viva de todos os crimes cometidos.
Resta Jason Bourne. E é imperativo para certos diretores da Agência que Bourne
não se encontre com a diretora Pamela Landy (a sensacional Joan Allen): E é aí
que este filme primordial faz sua espetacular amarra com o capítulo anterior;
“Supremacia” terminava numa cena de diálogo ao telefone, entre Bourne e Pámela,
e essa cena é retomada (em um contexto absolutamente brilhante e eletrizante) a
partir da metade final do filme.
Fazendo parecer algo fácil, Greenglass concebe
o melhor filme da trilogia, moldando cenas de ação tão inacreditáveis quanto
empolgantes, tecendo uma trama notável que ampara todas as pontas soltas dos
filmes anteriores, e centralizando Bourne (e a magnífica interpretação de Matt
Damon) como o grande personagem que é: Um herói, apesar de todas as suas
características prodigiosas, mais vitimizado do que defensivo, que busca
corrigir todas as pendências de um passado do qual ele nem lembra.
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