quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Ultimato Bourne

   Como quem não quer nada, a “Trilogia Bourne” estabeleceu uma nova forma de se fazer filme de ação, e de quebra elevou consideravelmente o patamar de qualidade das obras vindas desse gênero. Prova disso é a inquestionável semelhança com que a reinvenção da série 007 (não por caso, também ela, uma série de ação e espionagem) promovida por Martin Campbell em “Cassino Royale”, com Daniel Craig, possui com esta série: O James Bond de Craig, inclusive, guarda traços que o aproximam muito mais do Jason Bourne de Matt Damon que das encarnações datadas de Bond feitas por Sean Connerry, ou Roger Moore.
   Mas, vamos ao filme em questão: Quando foi lançado, “O Ultimato Bourne”, o terceiro e assim alardeado último filme da série, tinha curiosas expectativas a pesar sobre si; os dois filmes anteriores, “Identidade” e “Supremacia” foram afinal surpreendentes sucessos, nos quais não se esperava o êxito largamente obtido e ainda menos a surpreendente qualidade com o qual foram realizados.
    Para esta terceira parte, todos esses fatores estavam sendo levados em conta e era uma incógnita como o diretor Greenglass encerraria uma trilogia que ele mesmo ajudou a tornar inesquecível.
“O Ultimato Bourne” parte de algumas questões onipresentes em toda a série. Quem é Jason Bourne?     Por quê ele perdeu a memória? Por quê todos o querem morto? E delas extrai a verdade dramática que norteia seu magistral protagonista, assim como todos os coadjuvantes que, para o bem e para o mal, reagem à sua volta.
    Esta continuação direta de "A Supremacia Bourne" inicia-se não na cena final do filme anterior, mas dias antes dela. Acompanhamos Bourne atrás de suas respostas exatamente onde a perseguição de carro acabou, registrando ainda a urgência daquele momento, num trabalho de direção tão brilhante quanto perspicaz.
   A medida que a trama avança e novas revelações vão surgindo, descobrimos que o Projeto Treadstone foi extinguido, e em seu lugar foi instaurado o Projeto Blackbriar.
    Contudo, nem toda a sujeira foi varrida para baixo do tapete. Resta uma última prova viva de todos os crimes cometidos. Resta Jason Bourne. E é imperativo para certos diretores da Agência que Bourne não se encontre com a diretora Pamela Landy (a sensacional Joan Allen): E é aí que este filme primordial faz sua espetacular amarra com o capítulo anterior; “Supremacia” terminava numa cena de diálogo ao telefone, entre Bourne e Pámela, e essa cena é retomada (em um contexto absolutamente brilhante e eletrizante) a partir da metade final do filme.
    Fazendo parecer algo fácil, Greenglass concebe o melhor filme da trilogia, moldando cenas de ação tão inacreditáveis quanto empolgantes, tecendo uma trama notável que ampara todas as pontas soltas dos filmes anteriores, e centralizando Bourne (e a magnífica interpretação de Matt Damon) como o grande personagem que é: Um herói, apesar de todas as suas características prodigiosas, mais vitimizado do que defensivo, que busca corrigir todas as pendências de um passado do qual ele nem lembra.

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