O gênio de James Cameron encontra paralelo na
solidez quase rústica de autores como John Ford (cujas obras reduzem a reflexão
à sua essência), ou na pretensão técnica e artística de gigantes como Kubrick
ou Coppola.
Á exemplo deles, Cameron almejou um cinema de
materialização técnica anos-luz a frente de seu tempo. Dentre seus megalomaníacos
trabalhos, é “Avatar” que parece chegar próximo do que ele almejava. Para
tanto, Cameron se torna o deus absoluto e todo-poderoso de seu próprio mundo, e
por meio dele (e da trama esboçada com simplicidade que ele usa para
apresentá-lo) começa a construir o que parece ser uma mitologia.
O ano é 2154. Os humanos deixam o planeta Terra
superpopuloso e exaurido para trás e buscam agora os vastos recursos naturais
da longínqua lua Pandora, um planeta de ambientação florestal como nunca se viu
no cinema.
Mas lá,
eles encontram seus habitantes, os Na'Vi, uma raça alienígena com uma cultura
própria (similar em postura e intenção aos índios nativos norte-americanos),
extremamente protecionista com relação a sua floresta e bastante hostil quanto
aos invasores humanos. Dispostos a contornar esse problema, cientistas criam o
programa Avatar, que permite a um usuário humano transferir sua consciência
para um corpo Na'Vi.
O voluntário é o mariner Jake Sully (Sam
Worthington), ex-militar paraplégico que aceita a missão pela chance de andar
de novo. Uma vez livre em Pandora ele conhece os Na'Vi, e acaba apaixonando-se
por uma nativa, Neytiry (personificada por meio de um processo milagrosa de
captura de perfomance pela atriz Zoe Saldana).
Mas, uma guerra se aproxima, entre os invasores
humanos e os nativos Na’Vi, o quê obrigará Jake Sully a escolher um lado em
definitivo desse conflito.
Não é por acaso a imediata sensação de
familiaridade que a trama desperta: Ela já foi contada, centenas de vezes, e
inúmeros contextos e ambientações diferentes, seja no épico “Dança Com Lobos”,
ou na animação “Pocahontas”. Contudo, os mesmos que correm para apontar a
ingenuidade (para não dizer falta de absoluta de originalidade) de seu roteiro,
são também os que admitem que, do ponto de vista visual, poucas vezes o cinema
testemunhou uma revolução técnica como a deste filme impressionante.
Na verdade, visual é uma palavra restrita para
definir o que James Cameron criou: “Avatar” é, ele todo, uma poderosa
experiência sensorial. Desde o efeito 3D obtido com a tecnologia desenvolvida
especialmente para o filme até a criação minuciosa da fauna e flora de seu
ecossistema alienígena (com um batalhão de especialistas científicos garantindo
a plausibilidade), a obra de Cameron é, do início ao fim, um convite estupendo
e exuberante à imersão em um outro mundo.
Uma idéia que, se pensarmos, nasceu junto com a
própria magia do cinema, mas que James Cameron (mesmo numa época onde quaisquer
tentativas de inovação narrativa soam como artifícios já explorados) soube
elevar a um patamar nunca antes imaginado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário