sábado, 30 de julho de 2016

Avatar

   No que diz respeito à sua técnica narrativa, James Cameron sempre encontrou sua força na simplicidade: É óbvio para qualquer um que ele não busca as questões metafísicas de Andrei Tarkoski (ainda que seja ele o produtor da refilmagem norte-americana de “Solaris”) nem as dilacerações teológicas da alma de Ingmar Bergman.
   O gênio de James Cameron encontra paralelo na solidez quase rústica de autores como John Ford (cujas obras reduzem a reflexão à sua essência), ou na pretensão técnica e artística de gigantes como Kubrick ou Coppola.
   Á exemplo deles, Cameron almejou um cinema de materialização técnica anos-luz a frente de seu tempo. Dentre seus megalomaníacos trabalhos, é “Avatar” que parece chegar próximo do que ele almejava. Para tanto, Cameron se torna o deus absoluto e todo-poderoso de seu próprio mundo, e por meio dele (e da trama esboçada com simplicidade que ele usa para apresentá-lo) começa a construir o que parece ser uma mitologia.
   O ano é 2154. Os humanos deixam o planeta Terra superpopuloso e exaurido para trás e buscam agora os vastos recursos naturais da longínqua lua Pandora, um planeta de ambientação florestal como nunca se viu no cinema.
  Mas lá, eles encontram seus habitantes, os Na'Vi, uma raça alienígena com uma cultura própria (similar em postura e intenção aos índios nativos norte-americanos), extremamente protecionista com relação a sua floresta e bastante hostil quanto aos invasores humanos. Dispostos a contornar esse problema, cientistas criam o programa Avatar, que permite a um usuário humano transferir sua consciência para um corpo Na'Vi.
   O voluntário é o mariner Jake Sully (Sam Worthington), ex-militar paraplégico que aceita a missão pela chance de andar de novo. Uma vez livre em Pandora ele conhece os Na'Vi, e acaba apaixonando-se por uma nativa, Neytiry (personificada por meio de um processo milagrosa de captura de perfomance pela atriz Zoe Saldana).
   Mas, uma guerra se aproxima, entre os invasores humanos e os nativos Na’Vi, o quê obrigará Jake Sully a escolher um lado em definitivo desse conflito.
   Não é por acaso a imediata sensação de familiaridade que a trama desperta: Ela já foi contada, centenas de vezes, e inúmeros contextos e ambientações diferentes, seja no épico “Dança Com Lobos”, ou na animação “Pocahontas”. Contudo, os mesmos que correm para apontar a ingenuidade (para não dizer falta de absoluta de originalidade) de seu roteiro, são também os que admitem que, do ponto de vista visual, poucas vezes o cinema testemunhou uma revolução técnica como a deste filme impressionante.
   Na verdade, visual é uma palavra restrita para definir o que James Cameron criou: “Avatar” é, ele todo, uma poderosa experiência sensorial. Desde o efeito 3D obtido com a tecnologia desenvolvida especialmente para o filme até a criação minuciosa da fauna e flora de seu ecossistema alienígena (com um batalhão de especialistas científicos garantindo a plausibilidade), a obra de Cameron é, do início ao fim, um convite estupendo e exuberante à imersão em um outro mundo.

   Uma idéia que, se pensarmos, nasceu junto com a própria magia do cinema, mas que James Cameron (mesmo numa época onde quaisquer tentativas de inovação narrativa soam como artifícios já explorados) soube elevar a um patamar nunca antes imaginado.

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