Harry Block é Woody Allen em todos os seus
desvios morais. E o filme sensacional que ele protagoniza é um amalgama de
todos os singulares percalços da carreira e da filmografia do próprio Allen.
Ele é um escritor sempre às turras com as
pessoas à sua volta –usadas como inspiração para seus contos, mas sempre
retratadas com rancor e afetação ofensivos! Mas acontece que Harry está sendo
homenageado. Sua frustração vem, justamente, do fato de que não possui ninguém
que possa levar consigo à essa homenagem: Da ex-mulher (que não deseja que seu
filho vá com ele), passando por ex-namoradas e até os amigos ausentes, Harry
percebe, num hilário compêndio de sua vida, que sua acidez e falta de tato
corrompeu todas as suas relações.
Ao assistir “Desconstruindo Harry” vemos que lá
estão as experiências pessoais de vida dando corpo aos anseios de sua criação;
os alter-egos personificados por atores, ora mais jovens, ora com traços
distintos conforme a situação (e a coleção de astros e estrelas deste filme em
particular, é um espetáculo à parte); as diversas complicações envolvendo as
mulheres de sua vida; até mesmo as inseguranças narrativas por ele
experimentadas (numa cena, em especial, é referida a passagem na qual Woody
Allen filma a mesma história –em “Setembro” –com dois elencos diferentes até se
sentir satisfeito com o resultado).
Harry é assim um apanhado de tudo o quê Allen
tem consciência de ser o lado mais difícil e corrosivo de sua personalidade,
seja no que diz respeito a si mesmo, e à maneira como lida com suas neuroses,
seja em relação aos colaboradores à sua volta, rendendo ironicamente o seu melhor
filme dos últimos vinte anos (com a exceção do também ótimo, e muito mais
recente “Meia Noite Em Paris”)!
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