domingo, 31 de julho de 2016

Desconstruindo Harry

   Harry Block é Woody Allen em todos os seus desvios morais. E o filme sensacional que ele protagoniza é um amalgama de todos os singulares percalços da carreira e da filmografia do próprio Allen.
    Ele é um escritor sempre às turras com as pessoas à sua volta –usadas como inspiração para seus contos, mas sempre retratadas com rancor e afetação ofensivos! Mas acontece que Harry está sendo homenageado. Sua frustração vem, justamente, do fato de que não possui ninguém que possa levar consigo à essa homenagem: Da ex-mulher (que não deseja que seu filho vá com ele), passando por ex-namoradas e até os amigos ausentes, Harry percebe, num hilário compêndio de sua vida, que sua acidez e falta de tato corrompeu todas as suas relações.
   Ao assistir “Desconstruindo Harry” vemos que lá estão as experiências pessoais de vida dando corpo aos anseios de sua criação; os alter-egos personificados por atores, ora mais jovens, ora com traços distintos conforme a situação (e a coleção de astros e estrelas deste filme em particular, é um espetáculo à parte); as diversas complicações envolvendo as mulheres de sua vida; até mesmo as inseguranças narrativas por ele experimentadas (numa cena, em especial, é referida a passagem na qual Woody Allen filma a mesma história –em “Setembro” –com dois elencos diferentes até se sentir satisfeito com o resultado).

  Harry é assim um apanhado de tudo o quê Allen tem consciência de ser o lado mais difícil e corrosivo de sua personalidade, seja no que diz respeito a si mesmo, e à maneira como lida com suas neuroses, seja em relação aos colaboradores à sua volta, rendendo ironicamente o seu melhor filme dos últimos vinte anos (com a exceção do também ótimo, e muito mais recente “Meia Noite Em Paris”)!

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