quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Nosferatu - Uma Sinfonia de Horror

Os alicerces da arte cinematográfica ainda estavam sendo construídos quando o diretor Friedrich Wilhelm Murnau concluiu que a trama narrada no bem-sucedido livro do irlandês Bram Stoker renderia um grande filme. Não havia um gênero de terror concretizado por assim dizer, mas havia em Murnau uma consciência afiada e até mesmo vanguardista da dicotomia similar entre o cinema e a literatura de terror: Se tramas como a de “Drácula” contrapunham a luz contra as trevas em sua premissa básica, o cinema, em termos até mesmo visuais, se revelava como a suprema justaposição entre a luz e a escuridão no preto & branco de suas imagens em movimento.
Sem conseguir adquirir os direitos do livro para poder adaptá-lo à risca, a saída de Murnau foi diferenciar (mas, certamente não muito) os seus personagens, fortalecendo o argumento de que era uma história original: Assim, o vampiro em questão (como mais de meio mundo deve saber) não vem a ser o requintado e sedutor Conde Drácula, mas sim o repulsivo e estranho Conde Orlock (que ganha um registro alarmante e antológico na atuação gestualmente elaborada do ator Max Schreck), cuja careca pálida, os olhos esbugalhados e os dentes incisivos (ao invés dos caninos) afiados fazem parecer não um morcego –imagem, em geral, associada ao vampiro –mas, sim um rato.
Orlock recebe em sua mansão, isolada nos Montes Cárpatos e fruto de imenso temor dos aldeões locais, o corretor de imóveis Hutter a quem mantém como uma espécie de prisioneiro nos agonizantes dias (e noites) que se seguem.
A fixação de Orlock, contudo, está não em Hutter, mas na esposa deste, Ellen. O quê leva Orlock à uma travessia de navio até a cidade de Bremen, na Alemanha, onde o vampiro almeja encontrá-la –e deflagrar, nesse processo, uma sucessão de mortes.
Construído com a mesma simbologia do Expressionismo Alemão que moldou o notável “O Gabinete do Dr. Caligari”, este trabalho de Murnau é, sobre diversos aspectos, um reflexo da mentalidade de sua época: Ambos os filmes convertem seus próprios monstros –os deflagradores de toda a atrocidade –em seres sorumbáticos, desprovidos de vontade. Tanto “Nosferatu” como “Caligari” observam, cada um ao seu modo, os sintomas do controle; neste caso aqui, o controle que o vício por sangue e a obsessão por Ellen operam no grotesco Orlock.
Tão lendária é a aura que cerca a produção de “Nosferatu” que, além de uma refilmagem dirigida por Werener Herzog, nos anos 1970, aconteceu de, no ano 2000, o diretor do perturbador “Begotten”, E. Elias Merhidge, realizar um curioso exercício de imaginação e meta-linguagem, “A Sombra do Vampiro”, que mostrava o ator Max Schreck como um vampiro real chamado por Murnau para acrescentar a veracidade necessária ao seu filme.

Nenhum comentário:

Postar um comentário