quinta-feira, 5 de abril de 2018

Elizabeth

Numa daquelas coincidências que volta e meia ocorre entre as produções comerciais norte-americanas, este brilhante “Elizabeth” foi lançado na mesma temporada que o romântico “Shakespeare Apaixonado” –com ele, tinha em comum o fato curioso de trazer a personagem da Rainha Elizabeth (que, naquele filme, tinha função mais coadjuvante e era vivida por Judi Dench), de ser, portanto, um filme de época e de trazer no elenco pelo menos dois astros que se repetiam: Em ambos aparecem Joseph Fiennes (irmão de Ralph Fiennes, protagonista lá, e um mero par romântico sem sal aqui) e Geoffrey Rush (coadjuvante inclusive indicado ao Oscar lá, e personagem fundamental –e sensacional –à trama aqui, e até mais merecedor ainda de uma indicação!).
Salvo esses detalhes um pouco constrangedores, os filmes são obras radicalmente diferentes.
Se “Shakespeare...” se debruça numa farsa graciosa e romântica, “Elizabeth” é um pulsante e arrebatador thriller de conspiração –que tem por peculiaridade se passar entre as ambientações arcaicas do século XVI.
Com seu reino assolado por lutas religiosas, Mary Tudor (Kathy Burke), então soberana da Inglaterra está morrendo.
Como seu pai o Rei Henrique IV não havia deixado um herdeiro homem, a sucessora mais próxima ao trono é a jovem Elizabeth (Cate Blanchett), filha da renegada Ana Bolena.
Embora os nobres ingleses não economizem maquinações para matá-la e impedi-la de subir ao trono, a morte de Mary Tudor acaba sendo tão inevitável quanto o reinado de Elizabeth.
Ela restabelece o protestantismo –religião na qual foi educada –e com isso conquista a inimizade do Papa (John Gielgud) que, ao excomungá-la, coloca a Inglaterra em rota de colisão com os beligerantes reinos católicos da França e da Espanha.
Dessa maneira, os primeiros anos de Elizabeth como rainha serão cercados de intrigas e conspirações perigosas que ameaçarão seriamente o povo da Inglaterra em geral, e a vida de sua monarca em particular. Ela precisará contar com a mente estratégica, o sangue frio e a crueldade implacável de Sir Francis Walsingham (Rush), o único em sua corte inteligente e incisivo o bastante para voltar a venalidade de seus conspiradores contra eles mesmos. Desses extenuantes embates palacianos, Elizabeth surgirá como uma rainha enérgica, lendária e inigualável.
Por meio deste Tour de Force cinematográfico, o diretor indiano Shekard Kapur (de “A Rainha Bandida”) molda uma sucessão impressionante de cenas antológicas cujo primor individual de cada uma cria uma colcha de imagens capturadas que constituem o básico de sua trama e conduzem o filme, levando novas percepções técnicas ao gênero das intrigas palacianas e emoldurando a magnífica presença da australiana Cate Blanchett, literalmente majestosa no papel que a revelou para Hollywood –e, pelo qual, de arrancada, ela já obteve uma indicação ao Oscar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário