Numa daquelas coincidências que volta e meia
ocorre entre as produções comerciais norte-americanas, este brilhante
“Elizabeth” foi lançado na mesma temporada que o romântico “Shakespeare Apaixonado” –com ele, tinha em comum o fato curioso de trazer a personagem da
Rainha Elizabeth (que, naquele filme, tinha função mais coadjuvante e era
vivida por Judi Dench), de ser, portanto, um filme de época e de trazer no
elenco pelo menos dois astros que se repetiam: Em ambos aparecem Joseph Fiennes
(irmão de Ralph Fiennes, protagonista lá, e um mero par romântico sem sal aqui)
e Geoffrey Rush (coadjuvante inclusive indicado ao Oscar lá, e personagem
fundamental –e sensacional –à trama aqui, e até mais merecedor ainda de uma
indicação!).
Salvo esses detalhes um pouco constrangedores,
os filmes são obras radicalmente diferentes.
Se “Shakespeare...” se debruça numa farsa graciosa
e romântica, “Elizabeth” é um pulsante e arrebatador thriller de conspiração
–que tem por peculiaridade se passar entre as ambientações arcaicas do século
XVI.
Com seu reino assolado por lutas religiosas, Mary
Tudor (Kathy Burke), então soberana da Inglaterra está morrendo.
Como seu pai o Rei Henrique IV não havia
deixado um herdeiro homem, a sucessora mais próxima ao trono é a jovem
Elizabeth (Cate Blanchett), filha da renegada Ana Bolena.
Embora os nobres ingleses não economizem
maquinações para matá-la e impedi-la de subir ao trono, a morte de Mary Tudor
acaba sendo tão inevitável quanto o reinado de Elizabeth.
Ela restabelece o protestantismo –religião na
qual foi educada –e com isso conquista a inimizade do Papa (John Gielgud) que,
ao excomungá-la, coloca a Inglaterra em rota de colisão com os beligerantes
reinos católicos da França e da Espanha.
Dessa maneira, os primeiros anos de Elizabeth
como rainha serão cercados de intrigas e conspirações perigosas que ameaçarão
seriamente o povo da Inglaterra em geral, e a vida de sua monarca em
particular. Ela precisará contar com a mente estratégica, o sangue frio e a
crueldade implacável de Sir Francis Walsingham (Rush), o único em sua corte
inteligente e incisivo o bastante para voltar a venalidade de seus
conspiradores contra eles mesmos. Desses extenuantes embates palacianos,
Elizabeth surgirá como uma rainha enérgica, lendária e inigualável.
Por meio deste Tour de
Force cinematográfico, o diretor indiano Shekard Kapur (de “A Rainha Bandida”)
molda uma sucessão impressionante de cenas antológicas cujo primor individual
de cada uma cria uma colcha de imagens capturadas que constituem o básico de
sua trama e conduzem o filme, levando novas percepções técnicas ao gênero das
intrigas palacianas e emoldurando a magnífica presença da australiana Cate Blanchett,
literalmente majestosa no papel que a revelou para Hollywood –e, pelo qual, de
arrancada, ela já obteve uma indicação ao Oscar!
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