Reconstituído com mais minúcia e fidelidade em
“Sully-O Herói do Rio Hudson” (dirigido por Clint Eastwood, com Tom Hanks), o
episódio em que a habilidade do veterano piloto salvou as vidas dos passageiros
de um Boeing serviu de inspiração para este filme de Robert Zemeckis, lançado
uns anos antes, onde ele regressou às narrativas mais realistas depois de quase
uma década fazendo experiências em animações com captura de performance.
Aproveitando brilhantemente o fato de ser uma
obra de ficção –e com esse expediente usar de suas ferramentas para surpreender
o público –e basear-se apenas por alto no episódio real, “O Vôo” oferece, acima
de tudo, uma oportunidade e tanto para Denzel Washington mostrar sua capacidade
na plenitude de seu talento.
Ele é Whip Whitaker, um piloto já tão habituado
ao seu compulsivo alcoolismo que tal vício lhe serve mais para ser socialmente
desenvolto e profissionalmente destemido.
No acidente aéreo que ocupa os quinze minutos
iniciais do filme –e que Robert Zemeckis elabora com virtuosismo acachapante –o
vício etílico de Whip não surge como um problema, e nem o impede de fazer um
pouso milagroso num campo aberto, salvando muitos passageiros quando todos
podiam ter morrido.
Na verdade, se revela um problema mais tarde:
Quando as investigações protocolares se iniciam, e a necessidade de um bode
expiatório paira sobre corporações preocupadas como a construtora do avião, o
alcoolismo de Whip, até então despercebido, ameaça torná-lo um alvo de severa
punição. E alguns aliados como o amigo e consultor de vôo Charlie Anderson
(Bruce Greenwood) e o relutante advogado Hugh Lang (Don Cheaddle) farão o
possível para que os indícios do vício de Whip passem batidos no julgamento, a
despeito do fato desconcertante de que o próprio Whip parece afundar cada vez
mais nesse lamaçal.
Muito mais bem resolvido cinematograficamente,
e bastante superior em termos de narrativa e realização do que “A Travessia”, o
filme seguinte de Zemeckis, “O Vôo” talvez goze de tal posição em sua
filmografia justamente por contar como seu ponto alto o fator humano (não
somente Washington está magistral como também estão a linda Kelly Reilly, de
“Sra. Henderson Apresenta”, e o grande John Goodman) na obra de um cineasta
reconhecido pela atenção às vezes excessiva que ele dá às facetas técnicas de
suas produções.
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