segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O Vôo


Reconstituído com mais minúcia e fidelidade em “Sully-O Herói do Rio Hudson” (dirigido por Clint Eastwood, com Tom Hanks), o episódio em que a habilidade do veterano piloto salvou as vidas dos passageiros de um Boeing serviu de inspiração para este filme de Robert Zemeckis, lançado uns anos antes, onde ele regressou às narrativas mais realistas depois de quase uma década fazendo experiências em animações com captura de performance.
Aproveitando brilhantemente o fato de ser uma obra de ficção –e com esse expediente usar de suas ferramentas para surpreender o público –e basear-se apenas por alto no episódio real, “O Vôo” oferece, acima de tudo, uma oportunidade e tanto para Denzel Washington mostrar sua capacidade na plenitude de seu talento.
Ele é Whip Whitaker, um piloto já tão habituado ao seu compulsivo alcoolismo que tal vício lhe serve mais para ser socialmente desenvolto e profissionalmente destemido.
No acidente aéreo que ocupa os quinze minutos iniciais do filme –e que Robert Zemeckis elabora com virtuosismo acachapante –o vício etílico de Whip não surge como um problema, e nem o impede de fazer um pouso milagroso num campo aberto, salvando muitos passageiros quando todos podiam ter morrido.
Na verdade, se revela um problema mais tarde: Quando as investigações protocolares se iniciam, e a necessidade de um bode expiatório paira sobre corporações preocupadas como a construtora do avião, o alcoolismo de Whip, até então despercebido, ameaça torná-lo um alvo de severa punição. E alguns aliados como o amigo e consultor de vôo Charlie Anderson (Bruce Greenwood) e o relutante advogado Hugh Lang (Don Cheaddle) farão o possível para que os indícios do vício de Whip passem batidos no julgamento, a despeito do fato desconcertante de que o próprio Whip parece afundar cada vez mais nesse lamaçal.
Muito mais bem resolvido cinematograficamente, e bastante superior em termos de narrativa e realização do que “A Travessia”, o filme seguinte de Zemeckis, “O Vôo” talvez goze de tal posição em sua filmografia justamente por contar como seu ponto alto o fator humano (não somente Washington está magistral como também estão a linda Kelly Reilly, de “Sra. Henderson Apresenta”, e o grande John Goodman) na obra de um cineasta reconhecido pela atenção às vezes excessiva que ele dá às facetas técnicas de suas produções.

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