Embora haja um destaque absurdo para a presença
de Mel Gibson, o verdadeiro protagonista deste filme é um jovem e promissor
Robert Downey Jr. –é um daqueles casos em que o cinema hollywoodiano emprega
uma série de circunstâncias e de talentos que deram certo em outros filmes,
para urgir sua própria pérola; no entanto, a genialidade é um rompante que não
se expressa sem espontaneidade.
Neste caso, além do carisma amplamente
aproveitado de Mel Gibson e do talento absolutamente insuspeito de Robert
Downey Jr. (dois elementos que funcionam a contento), a produção traz a direção
de Roger Spottiswoode que demonstrou perícia e afiada narrativa em obras
comerciais sobre contextos sócio-políticos históricos específicos em seu ótimo
“Sob Fogo Cerrado” –“Air America” é, pois, uma tentativa de reaproveitar tudo
isso num só caldeirão e dali extrair a mais saborosa mistura.
Piloto de helicóptero e radialista em Los
Angeles, Billy Covington (Downey Jr.) perde o emprego devido ao seu
temperamento inconstante.
Sua habilidade acaba sendo útil aos interesses
da empresa aérea Air America, através da qual os EUA intervêm oficialmente no
Laos, ainda no início da Guerra do Vietnam –essa presença americana, vale
lembrar, era veementemente negada em público pelo presidente Nixon; o que
confere ao roteiro do filme (baseado em livro de Christopher Robbins) uma
pertinente (ainda que tardia) chacota com a política norte-americana.
Aliadas às tirânicas autoridades regionais
vietnamitas, fornecedores de tóxicos e de armas, essas empresas aéreas
organizam um esquema de distribuição amparado na habilidade quase intrépida de
pilotos como Covington e o veterano e safo Gene Ryack (Mel Gibson).
Os dois se tornam grandes amigos e companheiros
tentando salvar a própria pele e valer-se de muito jogo de cintura para
aproveitar o imusitado negócio e com ele fazer dinheiro.
Ao tentar agregar um pouco de tudo (comédia,
drama, romance, filme de guerra e de denúncia política), “Air America” se
dissipa naquilo que se propõe; suas cenas de ação são encaixadas sem
inteligibilidade, e seus personagens pairam pelas situações dispostas no
roteiro sem uma função narrativa mais elaborada.
O resultado de tudo isso é
uma obra que não demora a descobrir-se enfadonha. O que segura seu interesse
por mais tempo que o devido é o descontraído pique da dupla Downey Jr./Gibson.
Nenhum comentário:
Postar um comentário