No encontro de evidente química e ardente
tensão romântica que ocorre entre os personagens de Gugu Mbatha-Raw (ela, uma
cantora famosa) e Nate Parker (ele, um policial fazendo as vezes de segurança)
não há como o filme da diretora Gina Prince-Bythewood desvencilhar-se das
semelhanças em sua premissa com a do clássico do romantismo brega “O
Guarda-Costas” que, ao reunir romanticamente Kevin Costner e Whitney Houston,
fez muitos expectadores suspirarem nos anos 1990.
Entretanto, a obra de Prince-Bythewood, ao
agregar valores psicológicos mais relevantes e abordar questões com admirável
senso de atualidade, não demora a revelar um brilho muito próprio.
Desde muito cedo, a jovem Noni Jean (a
maravilhosa Gugu Mbatha-Raw, de “Um Estado de Liberdade”), a despeito de seu
imenso talento, viveu à sombra da esmagadora expectativa da mãe (Minnie
Driver). Aos vinte anos e no auge da fama, ela experimenta dia-a-dia os ditames
que lhe são impostos que, de tão intensos no âmbito profissional (ela canta no
estilo que lhe é designado, vulgar e apelativo, incluindo aí uma parceria
duvidosa com um rapper) chegam às raias do âmbito pessoal (a fim de apimentar o
marketing, a gravadora faz com que ela e o tal rapper esbocem um namoro).
Está aí, portanto, nesse princípio básico de
opressão e aflição as razões que levam Noni Jean a tentar um súbito suicídio
–para espanto de seus fãs, da imprensa e daqueles que a cercam.
Quem a salva no último instante vem a ser o
policial Kaz Nicol (Nate Parker, de “O Nascimento de Uma Nação”), casualmente
designado para ser seu guarda-costas naquela noite específica.
Há então uma fagulha de algo inominável. Uma
conexão, possível apenas graças à química singular que o casal de protagonistas
experimenta.
No entanto, como reza a cartilha de todo bom
drama romântico, existem formidáveis empecilhos a impedir a união do jovem
casal que se descobre, nos dias seguintes, incapaz de ficar longe um do outro:
Kaz almeja um cargo de expressão e respeito em sua comunidade, apoiado pelo pai
(Danny Glover) e pelos reverendos
locais, e um relacionamento com uma celebridade que coloca seu nome e
rosto diariamente nos tablóides sensacionalistas dificulta bastante o alcance
de suas metas; já Noni, sofre pressão de vários lados: Da mãe, que insiste em
decidir como ela deve ser e se portar; da gravadora, que tenta maneja-la
segundo seus interesses, e da imprensa marron, que escrutina ao máximo os
esforços dos envolvidos para encobrir o suicídio, e depois, passa a perseguir
ferrenhamente o casal de apaixonados.
Tão hábeis são esses argumentos plantados pela
roteiro que parecem moldar razões reais para que eles não fiquem juntos até o
final, mas o filme também observa o desabrochar de Noni, proporcionado pela
auto-confiança e pelo auto-respeito recém-descobertos no relacionamento com
Kaz, que a leva a reencontrar a convicção para tornar-se uma artista de verdade
como ela gostaria de ser.
Definido em sua gênese por clichês
hollywoodianos, “Nos Bastidores da Fama” supera todas essas obviedades com uma
realização cheia de excelência, onde se destaca o desempenho encantador de seu
par central (em especial, Gugu Mbatha-Raw, de um primor inconteste), uma
abordagem crítica e contundente ao culto implacável das celebridades e um
revigorante esforço de representatividade presente não só nos evidentes rostos
à frente das câmeras como nos diversos nomes da equipe técnica.
Um ótimo filme cheio de motivos
radiantes para ser assistido.
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