quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Nos Bastidores da Fama

No encontro de evidente química e ardente tensão romântica que ocorre entre os personagens de Gugu Mbatha-Raw (ela, uma cantora famosa) e Nate Parker (ele, um policial fazendo as vezes de segurança) não há como o filme da diretora Gina Prince-Bythewood desvencilhar-se das semelhanças em sua premissa com a do clássico do romantismo brega “O Guarda-Costas” que, ao reunir romanticamente Kevin Costner e Whitney Houston, fez muitos expectadores suspirarem nos anos 1990.
Entretanto, a obra de Prince-Bythewood, ao agregar valores psicológicos mais relevantes e abordar questões com admirável senso de atualidade, não demora a revelar um brilho muito próprio.
Desde muito cedo, a jovem Noni Jean (a maravilhosa Gugu Mbatha-Raw, de “Um Estado de Liberdade”), a despeito de seu imenso talento, viveu à sombra da esmagadora expectativa da mãe (Minnie Driver). Aos vinte anos e no auge da fama, ela experimenta dia-a-dia os ditames que lhe são impostos que, de tão intensos no âmbito profissional (ela canta no estilo que lhe é designado, vulgar e apelativo, incluindo aí uma parceria duvidosa com um rapper) chegam às raias do âmbito pessoal (a fim de apimentar o marketing, a gravadora faz com que ela e o tal rapper esbocem um namoro).
Está aí, portanto, nesse princípio básico de opressão e aflição as razões que levam Noni Jean a tentar um súbito suicídio –para espanto de seus fãs, da imprensa e daqueles que a cercam.
Quem a salva no último instante vem a ser o policial Kaz Nicol (Nate Parker, de “O Nascimento de Uma Nação”), casualmente designado para ser seu guarda-costas naquela noite específica.
Há então uma fagulha de algo inominável. Uma conexão, possível apenas graças à química singular que o casal de protagonistas experimenta.
No entanto, como reza a cartilha de todo bom drama romântico, existem formidáveis empecilhos a impedir a união do jovem casal que se descobre, nos dias seguintes, incapaz de ficar longe um do outro: Kaz almeja um cargo de expressão e respeito em sua comunidade, apoiado pelo pai (Danny Glover) e pelos reverendos  locais, e um relacionamento com uma celebridade que coloca seu nome e rosto diariamente nos tablóides sensacionalistas dificulta bastante o alcance de suas metas; já Noni, sofre pressão de vários lados: Da mãe, que insiste em decidir como ela deve ser e se portar; da gravadora, que tenta maneja-la segundo seus interesses, e da imprensa marron, que escrutina ao máximo os esforços dos envolvidos para encobrir o suicídio, e depois, passa a perseguir ferrenhamente o casal de apaixonados.
Tão hábeis são esses argumentos plantados pela roteiro que parecem moldar razões reais para que eles não fiquem juntos até o final, mas o filme também observa o desabrochar de Noni, proporcionado pela auto-confiança e pelo auto-respeito recém-descobertos no relacionamento com Kaz, que a leva a reencontrar a convicção para tornar-se uma artista de verdade como ela gostaria de ser.
Definido em sua gênese por clichês hollywoodianos, “Nos Bastidores da Fama” supera todas essas obviedades com uma realização cheia de excelência, onde se destaca o desempenho encantador de seu par central (em especial, Gugu Mbatha-Raw, de um primor inconteste), uma abordagem crítica e contundente ao culto implacável das celebridades e um revigorante esforço de representatividade presente não só nos evidentes rostos à frente das câmeras como nos diversos nomes da equipe técnica.
Um ótimo filme cheio de motivos radiantes para ser assistido.

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