segunda-feira, 12 de abril de 2021

Magia Negra


 A estréia na direção do ator Richard Attenborough –quase uma espécie de experimento antes de assumir as rédeas do oscarizado “Gandhi” –é um misto curioso e elegante de “Psicose” e “Brinquedo Assassino”.

Um jovem Anthony Hopkins, alguns anos antes da consagração por “O Silêncio dos Inocentes”, vive Corky, aprendiz de mágico cujo mentor, já em avançada idade, manifesta preocupação se lhe passou corretamente os segredos do ofício. Sem querer compartilhar com sua figura paterna a desilusão, Corky mente: Diz que sua primeira apresentação foi um sucesso. O velho não se deixa enganar, mas não deixa também de expressar suas esperanças no pupilo.

Há então um corte seco na narrativa –seco demais, inclusive, incapaz de passar a impressão dos anos que transcorreram –e vemos, no mesmo local, Corky desfrutando de algum êxito; ele acrescentou à sua apresentação um elemento que fez toda diferença. Agora, Corky realiza seus truques na companhia de um boneco chamado Fats, ostentando também habilidades de ventríloquo.

Entretanto, seria mesmo Fats um simples boneco?

Na sequência, vemos também que Corky tem agora um agente, Ben Greene (Burgess Meredith, de “Rocky-Um Lutador”) que providencia a ele um contrato com uma emissora de TV; a promessa de sucesso enfim se anuncia no horizonte. Entretanto, Corky se mostra estranhamente avesso aos exames médicos que um contrato com a TV exige. Subitamente revoltado, ele toma um táxi e tenta desaparecer. Volta para a mesma bucólica cidadezinha onde passou a juventude, com planos enevoados de rever seu grande amor.

A garota que ele amou, Peggy (vivida pela bela Ann Margret), é agora casada e dona de uma pousada à beira de um lago. Corky –e Fats... –chegam por lá para hospedar-se quando o marido dela, Duke (Ed Lauter), se encontra ainda ausente.

Nas reminiscências que se seguem, Peggy confessa a deterioração de seu casamento e Corky declara seu amor. Eles passam a noite juntos e, logo, planos para fugirem para sempre são feitos. No entanto, Peggy não sabe que a inocente e divertida habilidade de Corky em interagir com seu boneco Fats é mais que mera ocupação: Mesmo nos momentos de solidão, a personalidade do boneco, muito mais agressivo e sem freios morais, interfere sobre a dele, quase coagindo-o.

Para piorar tudo, Ben aparece, seguindo as pistas do paradeiro de Corky e, ao demonstrar preocupação com sua condição psicológica assim descoberta, acaba oferecendo à Corky os motivos para eliminá-lo. Na manhã seguinte, Corky não apenas tem o cadáver de Ben para consumir, mas o marido de Peggy em regresso de viagem com o qual lidar.

Realmente não restam dúvidas da tremenda influência de Hitchcock neste bom trabalho de Attenborough, certamente assolado por uma ou outra consequência do amadorismo –sendo o ritmo lento provavelmente o maior de seus empecilhos –mas, ele emprega muito bem as lições deixadas sobre tudo em “Psicose”: Anthony Hopkins interpreta uma variação bastante vívida de Norman Bates, onde as neuroses de seu personagem se refletem no boneco que ganha vida ao seu lado. A questão sobrenatural (ou não) a envolver o boneco –salientada no clima evocado na trilha sonora de Jerry Goldsmith –é uma sugestão deliberadamente mantida até onde se pode, até que os elementos corriqueiros do suspense de fato se façam notáveis.

Trata-se de um filme simples, trabalhado com dedicação, amparado em eficazes influências cinematográficas e interpretado acima de tudo com brilhantismo –resultado do fato de ser dirigido por um ator. Se ao final tem-se a sensação de um término deveras abrupto –ou mesmo de que pouca coisa realmente relevante deu-se ao longo de sua duração –isso, e outros lapsos, se devem pela inexperiência de seu realizador. Algo que pode ser completamente relevado diante do bom entretenimento que ele proporciona.

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