A estréia na direção do ator Richard Attenborough –quase uma espécie de experimento antes de assumir as rédeas do oscarizado “Gandhi” –é um misto curioso e elegante de “Psicose” e “Brinquedo Assassino”.
Um jovem Anthony Hopkins, alguns anos antes da
consagração por “O Silêncio dos Inocentes”, vive Corky, aprendiz de mágico cujo
mentor, já em avançada idade, manifesta preocupação se lhe passou corretamente
os segredos do ofício. Sem querer compartilhar com sua figura paterna a
desilusão, Corky mente: Diz que sua primeira apresentação foi um sucesso. O
velho não se deixa enganar, mas não deixa também de expressar suas esperanças
no pupilo.
Há então um corte seco na narrativa –seco
demais, inclusive, incapaz de passar a impressão dos anos que transcorreram –e
vemos, no mesmo local, Corky desfrutando de algum êxito; ele acrescentou à sua
apresentação um elemento que fez toda diferença. Agora, Corky realiza seus
truques na companhia de um boneco chamado Fats, ostentando também habilidades
de ventríloquo.
Entretanto, seria mesmo Fats um simples boneco?
Na sequência, vemos também que Corky tem agora
um agente, Ben Greene (Burgess Meredith, de “Rocky-Um Lutador”) que providencia
a ele um contrato com uma emissora de TV; a promessa de sucesso enfim se anuncia
no horizonte. Entretanto, Corky se mostra estranhamente avesso aos exames
médicos que um contrato com a TV exige. Subitamente revoltado, ele toma um táxi
e tenta desaparecer. Volta para a mesma bucólica cidadezinha onde passou a
juventude, com planos enevoados de rever seu grande amor.
A garota que ele amou, Peggy (vivida pela bela
Ann Margret), é agora casada e dona de uma pousada à beira de um lago. Corky –e
Fats... –chegam por lá para hospedar-se quando o marido dela, Duke (Ed Lauter),
se encontra ainda ausente.
Nas reminiscências que se seguem, Peggy
confessa a deterioração de seu casamento e Corky declara seu amor. Eles passam
a noite juntos e, logo, planos para fugirem para sempre são feitos. No entanto,
Peggy não sabe que a inocente e divertida habilidade de Corky em interagir com
seu boneco Fats é mais que mera ocupação: Mesmo nos momentos de solidão, a
personalidade do boneco, muito mais agressivo e sem freios morais, interfere
sobre a dele, quase coagindo-o.
Para piorar tudo, Ben aparece, seguindo as
pistas do paradeiro de Corky e, ao demonstrar preocupação com sua condição
psicológica assim descoberta, acaba oferecendo à Corky os motivos para
eliminá-lo. Na manhã seguinte, Corky não apenas tem o cadáver de Ben para
consumir, mas o marido de Peggy em regresso de viagem com o qual lidar.
Realmente não restam dúvidas da tremenda
influência de Hitchcock neste bom trabalho de Attenborough, certamente assolado
por uma ou outra consequência do amadorismo –sendo o ritmo lento provavelmente
o maior de seus empecilhos –mas, ele emprega muito bem as lições deixadas sobre
tudo em “Psicose”: Anthony Hopkins interpreta uma variação bastante vívida de
Norman Bates, onde as neuroses de seu personagem se refletem no boneco que
ganha vida ao seu lado. A questão sobrenatural (ou não) a envolver o boneco
–salientada no clima evocado na trilha sonora de Jerry Goldsmith –é uma
sugestão deliberadamente mantida até onde se pode, até que os elementos
corriqueiros do suspense de fato se façam notáveis.
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