Os trabalhos assinados pelo diretor John Landis se beneficiaram muito do terreno propício à comédia que certos valores culturais dos anos 1980 fomentaram; prova disso é que a qualidade de suas realizações decaiu quando chegaram os anos 1990, bem mais cínicos. “Trocando As Bolas” foi um grande sucesso –embora não tenha entrado no subconsciente da cultura pop como o cult “Irmãos Cara-de-Pau” –e é indicativo do estilo minucioso (ainda que ligeiramente convencional) de Landis para construir humor; e em contrapartida, é também um exemplo do quão frutífera era sua capacidade para moldar cenas memoráveis.
Em sua premissa, “Trocando As Bolas” pode soar
improvável, até mesmo simplista (características que definem diversos sucessos
dos anos 1980), mas a soma de suas partes garante uma qualidade que vai além de
sua estranha ingenuidade: O filme basicamente gira em torno de uma aposta,
perpetrada por dois velhotes milionários, na qual acreditam que serão capazes
de mudar a índole de duas pessoas completamente distintas desde que se mude
também o ambiente em que vivem. Essas duas pessoas veem a ser Louis Winthorpe
III (Dan Akroyd, que trabalhou com Landis em “Irmãos Cara-de-Pau”) e Billy Ray
Valentine (Eddie Murphy, que trabalhou com Landis em “Um Príncipe Em Nova York”).
Winthorpe é ricaço, nascido em berço de ouro e,
como tal, é esnobe, vaidosamente articulado, elitista e arrogante. Valentine é
pobre, criado nas ruas e vive na base da própria malandragem –começa o filme,
por exemplo, se fazendo passar por mendigo aleijado (!).
São a dupla de milionários Duque Randolph e
Duque Mortimer (os veteranos Ralph Bellamy e Don Ameche) quem engendram a
aposta que mudará drasticamente a vida dos dois: Eles arremessam Winthorpe na
pobreza (sabotam sua credibilidade junto ao círculo social, congelam suas
finanças, o incriminam de roubo, tiram suas posses, incluindo sua moradia, e o
levam até a perder o noivado arranjado); e pegam Valentine (tirado diretamente
da cadeia!), e o colocam em seu lugar. Uma vez limpo, bem vestido, posto para
morar numa mansão de luxo (assessorada pelo mordomo vivido por Denhol Elliot, de
“Caçadores da Arca Perdida”) e incluído no quadro de funcionários de classe
alta da empresa de compra e venda de ações dos Duque, Valentine passa pela
metamorfose que eles tanto mencionaram: Abandona o linguajar chulo, abre mão do
comportamento que antes o definia e chega até a expulsar vários conhecidos da
ralé de uma festa (regada à muita nudez!) em sua mansão. De sua parte,
Winthorpe –que só não sucumbe totalmente graças ao auxílio da garota de
programa interpretada pela maravilhosa Jamie Lee Curtis –adquire hábitos mais
desesperados e questionáveis (enche os bolsos de comida em uma festa de
grã-finos onde ele entra trajado de Papai Noel!).
Vale destacar que os dois atores principais
estão ótimos, cada um à sua maneira: Eddie Murphy compõe sem qualquer
histrionismo (do qual muitos críticos achavam que ele não era capaz de se
desvencilhar) e com muita solidez e dignidade a conversão de Valentinde, de um
homem mundano, suburbano e cheio de lábia em alguém refinado, sofisticado e
adequado à classe alta; enquanto que a transformação de Dan Akroid é outra: Seu
personagem vai de um cara mimado e blassé
para alguém mais razoável e sofrido, por quem o público já consegue torcer.
É assim que, ao constatarem a armação amoral na
qual ambos caíram, Winthorpe e Valentine, já no divertido terceiro terço do
filme irão à forra, e tentarão voltar os planos sem qualquer empatia dos Duque
contra eles mesmos. Nesse processo, o filme de Landis consegue encaixar uma
série de momentos absolutamente icônicos dentro das emblemáticas obras da
década de 1980. Cito dois deles, dentre os muitos: A cena inebriante e
fenomenal de nudez da deliciosa Jamie Lee Curtis (a única em toda sua carreira,
fazendo a loucura dos fanáticos por filmes de terror que ansiaram, sem sucesso,
que ela fizesse uma cena assim em algum dos filmes que deram a ela a fama de
“rainha do grito”), e a participação rápida, essencial para a trama e, no
mínimo, inusitada de Jim Belushi, fantasiado de gorila (!).
Nenhum comentário:
Postar um comentário