Não é nada difícil de entender as razões que transformaram “The Blues Brothers”, de John Landis, em um cult-movie: Irrequieto e dançante do início ao fim, o filme consegue um raro equilíbrio entre o ritmo eletrizante, os sucessivos desdobramentos episódicos que acompanham os protagonistas (e que os emolduram com uma aura inspirada e inconsequente de desenho animado) e um humor fervilhante e irresistível, dos mais bem administrados dos anos 1980.
O filme narra a epopéia caótica, musical e
hilária dos Irmãos Blues, o rechonchudo Jake (o irreverente John
Belushi),recém-saído da cadeia onde esteve por cinco anos, e o magrelo Elwood
(Dan Akroyd, ligeiramente abobado). Crescidos num orfanato, os dois, outrora
músicos que viviam e respiravam jazz, têm o estiloso hábito de usar ternos
pretos e óculos escuros em todas (e até nas mais inadequadas!) ocasiões;
maneirismo emprestado de seu grande ídolo, o zelador Curtis (Cab Calloway, a
primeira de inúmeras participações especialíssimas que virão). Jake e Elwood
tomam para si o objetivo de quitar os impostos pendentes do orfanato em que
cresceram impedindo sua demolição. A inspiração vem num culto regido pelo
reverendo personificado por James Brown: Reunir sua antiga banda e juntar
dinheiro honesto o suficiente –uma vez que a freira que os criou (vivida com
singular aura messiânica por Kathleen Freeman) os proibiu de obter dinheiro
ilicitamente. Dessa maneira, os Irmãos Blues procuram, um a um, os integrantes
de seu famoso conjunto, o ‘Blues Brothers’ –incluindo seu trompetista (Tom
Malone), agora um maitrê num restaurante chique onde eles aprontam poucas e
boas; e seu guitarrista (Matt Murphy), agora cozinheiro numa lanchonete a
serviço da esposa (Aretha Franklyn, num dos grandes momentos do filme). Ah, e
eles também param numa loja de instrumentos musicais, gerenciada por ninguém
mais, ninguém menos do que Ray Charles!
Nesse percurso, Jake e Elwood são perseguidos
pela misteriosa ex-noiva de Jake (Carrie Fisher, num papel extremamente
cartunesco e que demora a se esclarecer) que munida de bazucas (!),
lança-chamas (!!), metralhadoras (!!!) e outros utensílios, tenta matá-los a
toda hora –aquela aura de desenho animado de que falei...
Conforme os planos começam a dar errado (eles
não conseguem agentes e, com isso, têm de se apresentar em inferninhos pouco
rentáveis), os Irmãos Blues apelam para uma apresentação definitiva num grande
anfiteatro, alugado com o ‘auxílio’ de um gangster (Steve Lawrence); todavia,
até chegar nesse ponto, a trilha de destruição que os apalermados Blues
Brothers vão deixando já colocou em seu encalço toda polícia de Illinois, bem
como um grupo de ensandecidos e ridículos neo-nazistas!
Brilhantemente dirigido por John Landis, que
jamais deixa que o filme se acomode num estilo simplório ou numa circunstância
que reduza a marcha insana de seu roteiro, “Os Irmãos Cara-de-Pau” é quase um tour-de-force, um exemplo virtuosístico
de narrativa conduzida num crescendo que leva à seqüência final, uma das
perseguições de carro mais destrutivas da história do cinema, quando a
afiadíssima dupla central tem poucas horas para chegar à Tesouraria do
município de Chicago e saudar todas as dívidas do orfanato –numa missão que
eles passam o filme todo dizendo ser de providência divina! –trazendo, ao fim,
uma de suas mais sensacionais aparições especiais: Steven Spielberg!
Nenhum comentário:
Postar um comentário