Filmes que traziam ou ainda trazem erotismo a apimentar suas premissas são uma faca de dois gumes –para o público, que os consome com relativo receio pela reprovação alheia (ainda me lembro das noites em que, adolescente, me esgueirei para assistir em casa o VHS do recém-lançado “Instinto Selvagem”!); e para os realizadores que correm o risco de ter seu produto, feito a partir de tendências mais comerciais, ser relegado pelos críticos como sub-entretenimento.
A despeito da repercussão que teve quando
lançado em 1973, “Bohachi” suplanta essa sombra discriminatória que paira sob
obras de cunho erótico relevando-se igualmente audacioso, inesperado e
completamente inclinado para o subgênero que abraça: Há nele, nudez constante e
sistemática, sequer passam dois ou três minutos sem que uma das inúmeras
atrizes surja totalmente sem roupas em cena –e ele não disfarça isso, não
parece pedir desculpas por isso, não se converte num filme todo diferente
quando esses predicados não aparecem. E nem por isso é um filme amoral,
grosseiro ou vulgar.
A obra de Teruo Ishii acompanha o ronin Shino
(Tetsurô Tamba, de “A Felicidade dos Katakuri”) singrando pelo Japão da Era
Edo, a tentar desvencilhar-se dos muitos que lhe querem capturar –a recompensa
por sua cabeça é alta!
A cena de abertura, uma luta sob uma ponte
emoldurada num pôr-do-sol gradual, expõe a identidade artesanal da produção
aliada a uma habilidade inconteste. Ali vemos que Shino é extremamente hábil na
arte de matar, mas, longe de ser invencível, ele se exaure quando os inimigos
representam uma superioridade numérica difícil de ser combatida. Diante dessas
conclusões, ele salta nas águas do rio, certo de que é o fim de sua vida
(“Viver num inferno, morrer num inferno”), mas, ele é resgatado por um clã
inesperado de samurais, os Bohachi.
Conceito saído da mente travessa e inventiva de
Kazuo Koike (autor de “O Lobo Solitário” e também do mangá que inspirou este
filme), os Bohachi formam um clã samurai que representa uma inversão completa
dos ditames do Bushido, código de conduta que norteia os samurais em geral: Em
vez da honra, a traição; em vez da verdade, a perfídia; em vez da retidão, a
imoralidade.
Com efeito, os Bohachi dominam a aldeia onde
estão instalados. Entretanto, por razões até bem óbvias, Shino não deseja
aliar-se à eles. Mas, então o que fazer, se uma vez fora da sombra dos Bohachi
todos se encontram em prontidão para atacá-lo? A saída é fazer um pacto com o
sórdido e influente líder dos Bohachi (Tatsurô Endô). Com a proliferação de
novas casas de prostituição –ofício que permitiu aos Bohachi o enriquecimento
–o clã tem agora concorrentes para sua fonte de renda, e cabe à Shino agir por
baixo dos panos, eliminando os proprietários dos prostíbulos, intimidando os
clientes para que não procurem as prostitutas (exceto àquelas do Clã Bohachi),
e até aliciando as próprias prostitutas, obrigando-as a irem embora, ou mudarem
seu ‘local de atendimento’.
Da forma como é construído, portanto,
“Bohachi-O Clã dos Oito Esquecidos” –na verdade, o correto seria “O Clã das
Oito Virtudes Esquecidas” –aproveita-se desse enredo cheio de interesses
obscuros de ambas as partes (mesmo o herói, dá de ombros para a necessidade de
proteger os fracos e os oprimidos) para emoldurar a história que segue numa sucessão
de cenas libidinosas de nudez e sexo, o objetivo final da produção. A coroação
desse claro objetivo termina sendo a aparição das mulheres Bohachi –pois, o clã
tem guerreiros e guerreiras também –que, numa manobra que é o cúmulo da
safadeza, não se isentam de participar de lutas e outros embates todas
completamente nuas!
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