Eu já conhecia o filme “A Estrada Para A
Perdição”, com Tom Hanks, dirigido por Sam Mendes, e adaptado de uma história
em quadrinhos, “Road To Perdition”, que contava a história de como, durante a
Lei Seca e o auge do gangsterismo norte-americano, um pai de família que
trabalha como matador para um "capo", testemunha sua família ser
reduzida a um só filho devido a uma traição da máfia, levando assim, pai e
filho a pegarem a estrada e cruzarem os EUA fugindo de seus algozes e
procurando um meio de se vingar. Sabia, também, que essa HQ era uma versão
americanizada de um mangá chamado “Lobo Solitário” substituindo os samurais
originais por gangsters.
O quê eu não sabia (e penso ser este um lapso
de minha parte) era que o próprio material original já havia sido adaptado para
o cinema, e numa série de seis filmes nos anos 1970, buscando concretizar uma
franquia no Oriente nos moldes do que 007 era para o Ocidente.
E sabe que o resultado é sensacional!?
O primeiro filme, “Lobo Solitário-A Espada da
Vingança” já demonstra bem o aspecto episódico que se manteria em todos os
demais filmes: Os produtores não se incomodaram em enxugar toda a trama dos
quadrinhos num único longa metragem com começo, meio e fim (como aconteceu no
caso de “Estrada Para A Perdição”), ao invés disso, preservaram na versão para
a cinema, as muitas subtramas que se sucedem nos quadrinhos de Kazuo Koike e
Goseki Kojima, o quê confere a todos os filmes um charme muito particular. O
ator Tomisaburo Wakayama em princípio, aparenta certa apatia, mas logo
percebe-se que essa é uma espécie de postura samurai, e tem muito a ver com o
personagem (e sejamos honestos, os samurais, assim como os personagens dos
pistoleiros em filmes de faroeste, mesmo os protagonistas, não são mais do que
tipos, ainda que alguns sejam brilhantes).
Na época do Japão Feudal, Itto Ogami, o
habilidoso executor do shogun cai em desgraça quando o vilanesco clã Yagyu
trama uma conspiração contra ele. Sua esposa é assassinada, e ele acaba
tornando-se um ronin, oferecendo os serviços de sua espada como um mercenário,
conhecido por Lobo Solitário, enquanto vaga pelos vilarejos japoneses
empurrando o carrinho de neném onde leva seu filho, o pequeno Daigoro.
Interessante é reparar no
personagem do garotinho: é essencialmente através dele, e de seu crescimento ao
longo dos filmes que é marcada a passagem de tempo da narrativa. Mais
interessante ainda é perceber o quanto certos tabus inerentes ao cinema
norte-americano são completamente banalizados pelo cinema comercial japonês,
como a nudez, que é relativamente constante e despojada, e sempre tem, aqui, um
sentido narrativo. Não é difícil, portanto, entender porque a série
cinematográfica do “Lobo Solitário” influenciou Quentin Tarantino, John
Carpenter e tantos outros diretores: Não só é um soberbo trabalho de direção,
como também possui batalhas e lutas de espada realizadas com tamanho primor,
que chega a ser absurdo o fato desses filmes serem tão desconhecidos do grande
público.
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