Se neste “A Travessia” o diretor Robert
Zemeckis logrou fazer uma experiência sensorial para seu público, então,
certamente a sensação mais objetizada é a da vertigem. Todas as escolhas
parecem levar à essa finalidade, desde os conflitos presentes em sua
dramaturgia, até o uso propriamente dito dos efeitos digitais, o que Zemeckis
executa, aliás, como um mestre.
O resultado pode não ser tão certeiro como em
“O Vôo”, afinal, aqui ele não dispõe de um craque como Denzel Washington, nem
tampouco o roteiro consegue ter todo aquele polimento e excelência de seu
trabalho anterior, mas ainda assim, Zemeckis entrega uma obra bela e plena cheia
de significados e de boas intenções.
Há de se levar em conta o tom de fábula que ele
emprega no ínicio, e que dali até o final, irá soar desnecessário ao expectador
(talvez, como forma de imolar certos aspectos lúdicos do cinema francês, o quê,
à propósito, os franceses o sabem fazer muito melhor...), para contar a
história do jovem Phillipe Petit (o bom Joseph Gordon-Levitt), que desde cedo
pegou gosto pelas apresentações acrobáticas de rua e que o levou a uma
desafiadora travessia na corda bamba da catedral de Notre Dame, culminando no
plano ousado de atravessar, dessa mesma forma, as recém-inauguradas torres do
World Trade Center.
Toda a história que
Zemeckis quer contar converge para esse momento, e tão claro isso fica, que
muito do que se passa antes dos genuinamente sensacionais vinte minutos finais,
parece uma mera distração, seja a presença sempre notável de Ben Kingsley como
o mentor Papa Rudy, seja a gaita primeira parte onde se tenta ensaiar uma quase
biografia de Petit, seja o entrecho central, tomado pelos preparativos sempre
precários para realizar o audacioso plano. No final, depois de tanta elaboração
ao armar o cenário para seu ato principal, Zemeckis entrega a cena na qual
tanto suspense fez para chegar, e ela aparece com todos os predicados e
recursos que se poderia dispor, firmando-se como uma bela homenagem de seu
diretor Robert Zemeckis ao ato travesso de Petti como uma reafirmação da arte,
e principalmente, à cidade de Nova York. Os movimentos de câmera e os efeitos
em 3D colocam o expectador ali, sob aquela corda bamba, com todas as intensas
sensações de vertigem à que se tem direito, e nesse sentido, o êxito do diretor
acaba sendo completo.
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