quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Travessia

Se neste “A Travessia” o diretor Robert Zemeckis logrou fazer uma experiência sensorial para seu público, então, certamente a sensação mais objetizada é a da vertigem. Todas as escolhas parecem levar à essa finalidade, desde os conflitos presentes em sua dramaturgia, até o uso propriamente dito dos efeitos digitais, o que Zemeckis executa, aliás, como um mestre. 
O resultado pode não ser tão certeiro como em “O Vôo”, afinal, aqui ele não dispõe de um craque como Denzel Washington, nem tampouco o roteiro consegue ter todo aquele polimento e excelência de seu trabalho anterior, mas ainda assim, Zemeckis entrega uma obra bela e plena cheia de significados e de boas intenções. 
Há de se levar em conta o tom de fábula que ele emprega no ínicio, e que dali até o final, irá soar desnecessário ao expectador (talvez, como forma de imolar certos aspectos lúdicos do cinema francês, o quê, à propósito, os franceses o sabem fazer muito melhor...), para contar a história do jovem Phillipe Petit (o bom Joseph Gordon-Levitt), que desde cedo pegou gosto pelas apresentações acrobáticas de rua e que o levou a uma desafiadora travessia na corda bamba da catedral de Notre Dame, culminando no plano ousado de atravessar, dessa mesma forma, as recém-inauguradas torres do World Trade Center. 
Toda a história que Zemeckis quer contar converge para esse momento, e tão claro isso fica, que muito do que se passa antes dos genuinamente sensacionais vinte minutos finais, parece uma mera distração, seja a presença sempre notável de Ben Kingsley como o mentor Papa Rudy, seja a gaita primeira parte onde se tenta ensaiar uma quase biografia de Petit, seja o entrecho central, tomado pelos preparativos sempre precários para realizar o audacioso plano. No final, depois de tanta elaboração ao armar o cenário para seu ato principal, Zemeckis entrega a cena na qual tanto suspense fez para chegar, e ela aparece com todos os predicados e recursos que se poderia dispor, firmando-se como uma bela homenagem de seu diretor Robert Zemeckis ao ato travesso de Petti como uma reafirmação da arte, e principalmente, à cidade de Nova York. Os movimentos de câmera e os efeitos em 3D colocam o expectador ali, sob aquela corda bamba, com todas as intensas sensações de vertigem à que se tem direito, e nesse sentido, o êxito do diretor acaba sendo completo.

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