quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Esperança & Glória

O diretor John Boorman, realizador de tantas grandes obras como os seminais “Amargo Pesadelo” e “Excalibur” era um garotinho por volta de seus dez anos de idade durante a Segunda Guerra Mundial, onde testemunhou de perto os bombardeios alemães sofridos pela Inglaterra na época. Engana-se, porém, quem pensa que o filme semi-autobiográfico, que materializa muitas dessas memórias de infância, seja um desses dramas pungentes e contundentes de guerra. 
Ao contrário de Roman Polanski, ou de Oliver Stone, as lembranças de Boorman acerca do período da guerra são imbuídas de uma saborosa nostalgia, que remete mais às deliciosas narrativas de Federico Fellini em “Amarcord” e de Woody Allen em “A Era do Rádio”. 
Com a guerra declarada, muitas são as situações enxergadas pelo diretor com humor e lirismo: O pai, entusiasmado, que decide se alistar para lutar no exército cuja patente acaba sendo ainda menor que a do namorado da própria filha; os escombros das casas bombardeadas que se tornam playground das crianças da vizinhança; os treinamentos para eventuais bombardeios exigidos na escola, e que são uma curtição para os alunos; e muitos outros momentos mais, que enchem o filme de graça (uma cena impagável é o constrangimento das crianças quando sua mãe tenta, e não consegue enviá-los num trem para a Austrália, criando um alvoroço na estação). 
Lá pela metade do filme, a família é obrigada a mudar-se para a residência de seu hilariante e rabugento avô (um personagem simplesmente fantástico), uma casa no campo, dando espaço para muitas outras cenas antológicas (minha predileta é aquela na qual um avião derruba uma bomba dentro do rio, matando muitos peixes, e proporcionando ao garotinho uma farta pescaria). 
Em um sub-gênero dominado por recordações dolorosas e terríveis (ainda que muitas delas magistrais) da guerra, as memórias de infância de John Boorman são um raro e bem-vindo deleite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário