O diretor John Boorman, realizador de tantas
grandes obras como os seminais “Amargo Pesadelo” e “Excalibur” era um garotinho
por volta de seus dez anos de idade durante a Segunda Guerra Mundial, onde
testemunhou de perto os bombardeios alemães sofridos pela Inglaterra na época.
Engana-se, porém, quem pensa que o filme semi-autobiográfico, que materializa
muitas dessas memórias de infância, seja um desses dramas pungentes e
contundentes de guerra.
Ao contrário de Roman Polanski, ou de Oliver
Stone, as lembranças de Boorman acerca do período da guerra são imbuídas de uma
saborosa nostalgia, que remete mais às deliciosas narrativas de Federico
Fellini em “Amarcord” e de Woody Allen em “A Era do Rádio”.
Com a guerra declarada, muitas são as situações
enxergadas pelo diretor com humor e lirismo: O pai, entusiasmado, que decide se
alistar para lutar no exército cuja patente acaba sendo ainda menor que a do
namorado da própria filha; os escombros das casas bombardeadas que se tornam
playground das crianças da vizinhança; os treinamentos para eventuais
bombardeios exigidos na escola, e que são uma curtição para os alunos; e muitos
outros momentos mais, que enchem o filme de graça (uma cena impagável é o
constrangimento das crianças quando sua mãe tenta, e não consegue enviá-los num
trem para a Austrália, criando um alvoroço na estação).
Lá pela metade do filme, a família é obrigada a
mudar-se para a residência de seu hilariante e rabugento avô (um personagem
simplesmente fantástico), uma casa no campo, dando espaço para muitas outras
cenas antológicas (minha predileta é aquela na qual um avião derruba uma bomba
dentro do rio, matando muitos peixes, e proporcionando ao garotinho uma farta
pescaria).
Em um sub-gênero dominado
por recordações dolorosas e terríveis (ainda que muitas delas magistrais) da
guerra, as memórias de infância de John Boorman são um raro e bem-vindo deleite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário