“Verdades Que Matam”, na realidade, foi o título nacional com o qual “Talk Radio” foi lançado em VHS pela VTI Home Video no Brasil, no final da década de 1980, durante a época das videolocadoras de fitas de videocassete. Realizado em 1988, “Talk Radio” foi dirigido e co-escrito por Oliver Stone depois de “Wall Street-Poder e Cobiça” (sua inquisitiva e elegante alfinetada na ausência de escrúpulos dos corretores da bolsa) e antes de “Nascido Em 4 de Julho” (a segunda de suas impactantes reflexões sobre o Vietnam; a primeira foi o premiado “Platoon”), ou seja, Stone, como diretor, há muito já havia definido seu estilo voltado para um sensacionalismo documental. A despeito da descoberta gradual que seu diretor teve de sua própria tendência autoral –descoberta esta certamente mais distinguível nos primeiros títulos de sua filmografia –é curioso notarmos que a personalidade a prevalecer nesta obra seja nem tanto a de Stone, como a de seu protagonista e co-roteirista Eric Bogosian, por sua vez, autor (junto de Ted Savinar) da peça teatral a partir da qual este longa-metragem foi construído, valendo-se também de forte inspiração na trama real de Alan Berg, radialista a frente de um programa de radio especializado em relatos controversos e polêmicos, tema que espelhava seu próprio apresentador.
Stone lutou para ter Bogosian tanto afrente
como atrás das câmeras; o estúdio e outros diretores que passaram antes pelo
projeto eram todos inclinados à presença de um ator protagonista mais famoso.
Como resultado, “Talk Radio” é uma produção de baixo-orçamento, o que só
salienta suas características de teatro filmado –é praticamente (salvo uma e
outra cena, além de um trecho em flashback)
ambientado num único cenário, os estúdios da radio KGBA, onde o programa se
sucede. A direção de Oliver Stone, sempre tensa e intensa, se sente
absolutamente à vontade com o material febril e envolvente, o que só torna o
filme ainda mais notável e impactante. O radialista Barry Champlain (Eric
Bogosian, no mal-disfarçado personagem inspirado em Alan Berg) comanda um talk show noturno que alcança altos
índices de audiência nas radios de Dallas. Nele, ouvintes desequilibrados
(alguns, num nível alarmante) telefonam em busca de conselhos ou de uma
oportunidade para conversar sobre os mais diversos assuntos. Entretanto,
Champlain é controverso, agressivo e neurótico, e sua interação com seus
instáveis interlocutores é quase sempre perigosa, não raro desembocando em
ameaças de morte. No entanto, o programa, com seu teor polêmico, faz imenso
sucesso e seu produtor, Dan (Alec Baldwin, jovem mas já demonstrando
potencial), negociou com investidores a possibilidade de ser lançado em cadeia
nacional, o que traz para os estúdios a presença do executivo corporativista
Dietz (John Pankow, de “Fome de Viver”), mandado para avaliar o show e dar seu
aval a respeito da atração. Isso e mais uma série de problemas pessoais (a
relação já turbulenta com a namorada e produtora do programa, vivida por Leslie
Hope, da série “24 Horas”, e as idas e vindas nada harmoniosas de sua ligação
com a ex-esposa, interpretada por Ellen Greene, de “A Pequena Loja dos
Horrores”) interferem diretamente no desempenho de Champlain no programa,
amplificando a tensão e transformando seu show numa maratona indigesta de degradação
tragicômica.
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