A primeira temporada de “Entrevista Com O Vampiro” se encerrou exatamente no ponto da trama em que o vampiro Louis de Point du Lac (Jacob Anderson, espetacular), junto da menina-vampira Claudia (interpretada na 1ª temporada por Bailey Bass e, aqui, nesta 2ª, por Delainey Hayles, ambas formidáveis) finalmente põem em prática seu plano de dar cabo do poderoso vampiro Lestat (Sam Reid, também ele magnífico) –para efeitos de comparação, representa cerca de 60% do filme “Entrevista Com O Vampiro”, de 1994, que assim como esta série produzida por Rolin Jones busca adaptar as “Crônicas Vampirescas”, da celebrada escritora Anne Rice, das quais este é só o primeiro volume.
Pela extensão assim possibilitada do material
televisivo (oferecendo chance para que o livro em sua totalidade e muito mais
seja vertido para a tela) e pelo talento inconteste dos envolvidos a frente e
atrás das câmeras, o objetivo de enfim consolidar uma adaptação integral da
obra de Anne Rice nunca chegou tão perto de virar realidade.
A começar esta 2ª temporada, temos Louis e
Claudia, logo após o assassinato de Lestat (o qual o roteiro não se furta em
antecipar a informação de que não morreu de fato), partindo em definitivo de Nova
Orleans, ainda na primeira metade do Século XX, e seguindo rumo à Europa a fim
de iniciar investigações de Louis, desejoso de saber onde estão e quais são os
outros vampiros a caminhar pelo mundo –até então, ele e Claudia só conheciam
Lestat mesmo, seu criador.
Assolada pela Segunda Guerra Mundial, a Europa
é um lugar desolado, triste e lúgubre, e essa atmosfera (bem como o sangue das
vítimas afetadas das quais vão se alimentando) vai contaminando com essa angústia
os dois personagens. De vampiros mesmos, eles descobrem apenas murmúrios de
lendas obscuras e, numa floresta afastada, alguns personagens tão obtusos,
monstruosos e inexpressivos que sequer oferecem respostas para suas perguntas. As
coisas só começam a mudar quando os dois chegam em Paris e, numa das
apresentações noturnas do Théâtre des
Vampires, regido pelo dândi Armand (Assad Zaman), e habitado por uma horda
de chupadores de sangue, entre os quais o insidioso Santiago (Ben Daniels, de “Rogue One-Uma História Star Wars”), Louis e Claudia pensam enfim terem encontrado os
seus. Um microcosmos onde acharão, enfim, pertencimento.
Porém, nada mais é que uma cilada: Ainda que
Louis e Armand logo se tornem amantes, a regra primordial entre os vampiros é
aquela segundo a qual um vampiro está proibido de matar outro vampiro. E tendo
Louis e Claudia infligido tal regra, o seu destino corre o risco de ser selado
tão logo os outros venham a descobrir seu segredo.
Durante todo esse relato, pontuado de detalhes
preciosos, somos testemunhas de uma entrevista ocorrida no presente (na
verdade, durante a pandemia, meados de 2020/2021, época em que a série foi
lançada nos EUA), na qual Louis, mais tarde, ladeado por Armand, conta todos esses
percalços de sua existência vampira ao contundente repórter Daniel Malloy (Eric
Bogosian, de “Verdades Que Matam”) que, valendo-se de sua aguçada percepção
investigativa, vai encontrando fissuras, contradições, enganos e até segredos
não revelados na trama que as memórias de Louis vão descortinando.
Aproveitando brilhantemente a mudança de
ambientação (e, por que não, de tom, também) entre a primeira e a segunda parte
do livro, a série de TV amplia seu escopo, multiplica o números de personagens,
e aumenta as apostas nos quesitos suspense e intrigas para trazer uma
fantástica sucessão de episódios ao expectador. Mais do que adaptar a rica obra
de Anne Rice, a série a expande, acrescentando novas camadas, incrementando
dinâmicas e situações com ainda mais elementos e ideias, esbanjando
inventividade em cima de um material já fascinante por si só.
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