sábado, 2 de agosto de 2025

The Blair Witch Documentary


 Se há algo de extrema utilidade, para os estudiosos de cinema que tentam compreender como um filme gera burburinho entre a crítica e, sobretudo, o público, neste documentário sobre as preparações e as filmagens do hoje lendário “A Bruxa da Blair”, é a forma despojada com que ele expõe as manobras quase instintivas, muitas ao sabor dos improvisos ou da própria sorte, que conduziram ao inesperado sucesso que essa produção independente obteve em 1999.

Foi por volta de 1994 que os então amigos Daniel Myrick e Eduardo Sánchez (ambos colegas na Escola de Cinema da Universidade da Flórida Central) tiveram a ideia de fazer um filme básico, árido e precário usando todas essas circunstâncias limitantes como trunfos dentro da estrutura do gênero terror –eles haviam assistido “A Hora do Pesadelo”, de Wes Craven (de 1984), e se deram conta do quanto defasado, banalizado e despido de originalidade o gênero se encontrava nos anos 1990. Buscando inspiração no conceito documental aproveitado episódio após episódio em séries televisivas policiais de caráter mais sensacionalista, eles inseriram o elemento sobrenatural nessa ideia, concebendo o projeto para um filme de terror que, à sua maneira, soasse tão legítimo que despertaria, no público, a dúvida se todos os eventos mostrados seriam, ou não, reais, auxiliados pelo fato de que, naquela segunda metade dos anos 1990, os expectadores ainda não dispunham de uma internet tão vasta em informações e em ferramentas de busca capazes de elucidar imediatamente uma dúvida como essa.

Foi assim que, financiado pelos próprios diretores e por alguns poucos investidores, “A Bruxa de Blair” –ou “The Blair Witch Project” –começou a ser rodado em 1997, nas imediações florestais da cidade de Burkstville, no estado de Maryland. Durante as audições realizadas para encontrar os intérpretes dos únicos três personagens principais, a maior exigência para os papéis eram pessoas que não tivessem problemas em acampar à noite, e que conseguissem lidar bem com o frio, a privação de sono e o desconforto.

Foram selecionados –em audições transcorridas em Los Angeles, Nova York e Orlando –os atores Joshua Leonard, Michael C. Williams e a protagonista Heather Donahue, e deixados cientes de que, quando as câmeras começassem a rodar, ele entrariam nos personagens e deles não sairiam mais; tanto que os personagens do filme levaram o nome dos próprios atores que os interpretam.

Rodado ao longo de oito dias bastante exaustivos e aflitivos para os membros do elenco (que infelizmente não comparecem prestando seus depoimentos ao filme), o processo de filmagem foi desigual e inesperado com os atores extraviados na floresta, filmando a si próprios, sem ter ideia da orientação das cenas e com os diretores e a diminuta equipe técnica rondando-os e criando, a cada noite, novas situações para lhes arrancar expressões de medo real.

Contudo, foi durante a divulgação –de um caráter pioneiro e inovador –que o filme viralizou e mostrou-se realmente diabólico: No documentário, Myrick e Sánchez revelam que valeram-se da internet justamente para passar ao público a percepção de que todo o filme era real, resultado de materiais encontrados numa cabana um ano após o desaparecimento do trio de jovens documentaristas. Foi criado um site para o filme, abastecido de matérias sobre o desaparecimento fictício e de um histórico onde todo um quadro cronológico era contado sobre a Maldição da Bruxa de Blair, em Burkstville, que remontava desde o século retrasado. Certamente, vítimas de maus-tratos durante as filmagens, os três atores protagonistas foram até proibidos de aparecer em redes sociais após o lançamento do filme, para que a ideia de seu desaparecimento se consolidasse –num princípio básico muito parecido com o usado também no execrante “Cannibal Holocausto”, nos anos 1970.

Dirigido por Jed Shepherd, este documentário está incluso nos extras da Edição de Colecionador do Blu-Ray norte-americano de “A Bruxa de Blair”, e revela o ímpeto de inovação dos diretores Myrick e Sánchez (que se anteciparam a qualquer hype filmando meticulosamente todo o processo), além de mostrar como essa produção modesta, pequena e barata foi capaz de revolucionar alguns conceitos mercadológicos em Hollywood instaurando a linguagem do found footage –que, depois, desdobrou-se numa infinidade de outros filmes, todos querendo pegar carona na mesma ideia, como “Cloverfield-Monstro”, “The Poughkeepsie Tapes” “Caçador de Troll” e tantos outros.

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