quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Quarteto Fantástico - Primeiros Passos


 Criado nos quadrinhos pela dupla Stan Lee e Jack Kirby nos anos 1960, o Quarteto Fantástico já teve quatro versões anteriores feitas para cinema –a de 1994 (uma produção B cuja pobreza técnica e artística foi tamanha que sequer foi lançado!), a de 2005 (talvez, a mais famosa, que trazia Chris Evans como Tocha Humana), sua continuação de 2007 (aproveitando também o arco narrativo a envolver Galactus e o Surfista Prateado, resultando nada mais que uma sessão da tarde mediana) e a de 2015 (uma obra problemática, assolada por todo o tipo de equívoco e, como é habitual em casos assim, uma verdadeira lástima).

Faltava, em cada um desses exemplares, alguém atrás das câmeras que fizesse um esforço mínimo para entender os quadrinhos originais, a motivação dos personagens, o propósito e o contexto para o qual foram criados. Felizmente, a Marvel Studios (enfim, detentora desses personagens após um tortuoso vai e vem de direitos autorais) entregou o material nas mãos do diretor Matt Shakman (realizador de todos os episódios da elogiada série “WandaVision”) que soube pontuar os elementos pertinentes de cada membro do grupo, encontrou o empuxo moral e existencial que dava impulso às suas tramas, e organizou essas considerações numa narrativa bem calibrada, sólida e enxuta, além de adornar seu trabalho com um visual de encher os olhos, aproveitando a estética sci-fi retrô escolhida para a produção.

Numa versão alternativa do planeta Terra (chamada Terra 828, alternativa inclusive ao próprio Universo Marvel em si, cujas obras de sucedem noutra realidade), o mundo chegou à década de 1960 usufruindo de uma plenitude tecnológica fora do comum, graças à existência de um gênio conhecido como Reed Richards (Pedro Pascal). Esse mesmo Reed Richards que, numa eventual viagem espacial (são anos 1960, logo, período da Exploração Espacial) junto de sua tripulação, formada pela esposa Sue Storm (Vanessa Kirby), pelo cunhado Johnny Storm (Joseph Quinn, de “Um Lugar Silencioso-Dia Um” e “Gladiador II”) e pelo amigo Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach, de “Que Horas EuTe Pego?” e da série “The Bear”), acaba colhido por raios espaciais que conferem à todos eles, poderes diferenciados. Reed, agora, além da mente privilegiada, tem também a capacidade de se esticar; Sue consegue produzir poderosos campos de força, além de ficar invisível; Johnny controla o fogo podendo inclusive tornar o próprio corpo incandescente; e Ben vira um ser rochoso superforte ao qual dão a alcunha de Coisa. Essa família se transforma assim nos grandes heróis da Terra, o Quarteto Fantástico.

Quando a trama tem, de fato, início –mostrando essa origem mencionada acima numa breve sequência de um programa de TV –o Quarteto Fantástico testemunha a chegada à Terra da Surfista Prateada (Julia Garner, de “Sin City-A Dama Fatal”), criatura de poder cósmico que afirma ser arauto do poderoso Galactus, um ser tão antigo quanto o universo, movido por uma fome incontrolável e incessante. O seu alimento: Planetas! E chegou a hora dele alimentar-se da Terra.

A Surfista vem, portanto, anunciar para o Quarteto e para o mundo o prazo final da raça humana.

As esperanças se debruçam, obviamente, sobre os quatro membros do Quarteto Fantástico, contudo, quando finalmente eles encontram o incomensurável Galactus (vivido numa imponência assombrosa por Ralph Ineson), ele os confronta com um dilema: Salvar a Terra entregando a ele o filho de Sue e Reed, ainda por nascer.

Ainda que, de longe, a produção mais visualmente arrebatadora e fascinante a adaptar o Quarteto Fantástico para as telonas, o grande trunfo do filme é mesmo seus acertos no roteiro e no elenco: Hábil no manejo dramático de sua trama, o diretor Shakman conseguiu desenvolver de modo satisfatório não só cada um dos membros do grupo como também estabeleceu instigantes e eficientes dinâmicas entre cada um deles e a personagem da Surfista Prateada. Como nas HQs, portanto, “Quarteto Fantástico-Primeiros Passos” vale-se de pertinentes expedientes da ficção científica para enfatizar os laços familiares que unem seus personagens, centralizando assim a personagem vivida brilhantemente por Vanessa Kirby (ela que –veja só! –é neta do próprio Jack Kirby!) no cerne da narrativa, à exemplo do que Shakman já havia também feito em “WandaVision” com a personagem da ótima Elisabeth Olsen –a mulher, esposa e mãe, tornada assim o pilar emocional de toda a união conjunta de um grupo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário