Durante muito tempo o público se perguntou
quando o diretor Robert Rodrigues iria enfim revisitar o mundo noir criado por
Frank Miller nos quadrinhos e vertido por ele num belíssimo filme, visual e
narrativamente falando, que pegou muita gente desprevenida em um já longínquo 2005.
A resposta, um bocado tardia, veio em 2014 com
o lançamento de “Sin City-A Dama Fatal”. Mais do que perder o timing de uma
continuação que todos aguardavam, o filme pareceu ter perdido o brilho que a
primeira produção ostentava com tanto fulgor. Uma das razões era possivelmente
o fato de Rodrigues deixar que Frank Miller produzisse material original para o
novo filme. Se na obra anterior, Rodrigues foi cirúrgico na seleção de contos
dispersos nos quadrinhos que representavam o melhor de toda a criação de
Miller, neste ele contentou-se com uma das grandes histórias do selo “Sin City”
–no caso, “A Dama Fatal” que dá nome ao filme –(e mesmo assim realizada com
pouco empenho) e dois outros contos menores, nitidamente concebidos por um
Frank Miller já distante de seu auge criativo.
Na primeira história, o ex-detetive Dwight
(vivido por Clive Owen no filme anterior e por Josh Brolin, neste daqui) se vê
enredado numa trama de traição e morte elaborada por uma autêntica femme
fatalle: A irresistível e sensual Ava (a francesa Eva Green, ocasionalmente nua
num papel durante muito tempo relacionado à Angelina Jolie) que, ao seduzi-lo,
o conduzirá ao assassinato de seu marido, colocando-o da mira da polícia.
O problema do filme de Rodrigues já começa
quando percebemos que nem mesmo a história principal consegue funcionar a
contento como nas HQs: As frases feitas, costumeiras nos roteiros de Miller, se
sucedem com exagero e desleixo e as cenas transcorrem repetitivas e sem
inspiração.
Já não há muito ânimo, portanto, quando
chegamos na segunda história, e passamos a acompanhar as desventuras de um
jovem golpista (Joseph Gordon-Levitt, que até se esforça, mas não tem um
personagem bom o suficiente) tentando acertar as contas com seu verdadeiro pai,
o corrupto e amoral senador Roark (Powers Booth, oriundo do filme original).
O pior de tudo, porém, é quando finalmente
chegamos na terceira trama e o novo filme de Rodrigues e Miller vai além do
simples pecado de ser um filme ruim e consegue realizar algo imperdoável:
Manchar o ótimo filme original!
O mesmo senador Roark, na última parte, é alvo
da vingança da bela stripper Nancy (Jessica Alba, bela e fraquinha como sempre),
que não consegue se esquecer dos desdobramentos ocorridos no ótimo episódio do
filme anterior no qual ela era uma das protagonistas, e que graças a Roark,
levaram a morte do homem que ela amava, o ex-policial Harttigan (Bruce Willis,
reaparecendo aqui numa patética versão “Gasparzinho-O Fantasminha Camarada” de
seu personagem).
Nada em “Sin City-A Dama Fatal” remete ao
ímpeto inventivo que definia “Sin City-A Cidade do Pecado”, nem mesmo o
irrelevante reaproveitamento do personagem Marv (vivido por Mickey Rourke) que
aqui se oferece como ajudante, de forma banal, para os protagonistas de cada um
dos episódios, ou as substituições por outros intérpretes de personagens que
funcionaram muito bem antes e aqui soam tediosos e desinteressantes –além de
Brolin substituindo Owen, no papel do capanga Mamute, antes do saudoso e
fantástico Michael Clarke Duncan, entrou o pouco carismático Dennis Haysbert
(das primeiras temporadas da série “24 Horas”), e tomando o lugar de Devon Aoki
como a hábil assassina Miho, ficou a mais bela, porém menos adequada Jamie
Chung (de “Sucker Punch-Mundo Surreal”).
O visual acachapante em preto
& branco e as intenções do primeiro filme continuavam lá, mas faltou
brilhantismo narrativo para equiparar sua audaz qualidade cinematográfica.
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