sábado, 13 de julho de 2024

Um Lugar Silencioso - Dia Um


 Uma das franquias mais honestas e eficientes do cinema moderno, dentro daquilo que se propõe, é “Um Lugar Silencioso”, iniciada com o modesto e objetivo sucesso-surpresa dirigido por John Krasinski e estrelado por Emily Blunt. A ideia é um tanto quanto simples e, por isso mesmo, sucinta: Num mundo dominado por monstros cegos, dotados de apurado senso auditivo, manter-se em silêncio total é manter-se vivo.

Dois filmes depois, a saga (que, tudo indica, ganhará dentro em breve um terceiro longa-metragem) volta no tempo para contar, neste prequel, como se desdobrou, de modo geral, os acontecimentos do primeiro dia, durante a invasão alienígena; este, ou mesmo os filmes anteriores, muito pouco mergulham em questões de onde as criaturas vieram ou porque, limitando-se a mostrá-los como meteoritos que caem do céu, longo percorrendo perigosamente as ruas atrás de carne humana.

Na verdade, o segundo filme, “Um Lugar Silencioso-Parte 2” possui um prólogo com cerca de 15 minutos onde testemunhamos os protagonistas em sua breve vida comum da forma como ela era minutos antes da invasão –é esse prólogo que serve de modelo à todo este filme agora concebido pelo diretor Michael Sarnoski (do surpreendente “Pig”, com Nicolas Cage). Entretanto, agora nos desvencilhamos dos protagonistas anteriores (Emily Blunt e sua família) para nos focar na trajetória de outros personagens, descobrindo como tudo se desenrolou numa metrópole como Nova York.

Ex-poetisa assolada pelo câncer, Sammy (Lupita Nyong’o, sempre excelente) amarga seus dias numa clínica até que seu enfermeiro, Reuben (Alex Wolff, de “Hereditário” e “O Dia do Atentado”), organiza um passeio em Manhattan para assistir um show de marionetes. Convencida pela promessa de comer uma pizza (!), Sammy se deixa levar junto de seu gato, Frodo, mesmo sabendo que o programa a deixará enfastiada. Contudo, enquanto estão lá, algo acontece: Meteoritos (ou algo assim) caem do céu, trazendo criaturas monstruosas que atacam vorazmente todos os transeuntes que encontram pela rua.

Nas horas que se seguem, Sammy e os poucos que têm a chance de sobreviver (entre eles, o personagem de Djimon Hounsou, que aparece na “Parte 2” também) descobrem o básico para escapar da sanha implacável das criaturas: Que devem fazer silêncio absoluto (as criaturas não têm olhos, então, se baseiam num aparato auditivo e atacam ao menor ruído) e que, se possível, precisam se refugiar próximos da água (as criaturas evitam os rios, incapazes de nadar neles).

No entanto, Sammy tem outros planos; ela logo deixa o grupo formado nas dependências agora desoladas do teatro de marionetes e resolve encontrar, com seu gato, o caminho para o Harlem. O motivo: Ciente dos dias escassos de que dispõe por conta de sua condição médica, Sammy quer, nesse cenário apocalíptico, saborear um último instante de vida normal e encontrar um restaurante no bairro onde cresceu que, talvez, possua uma última fatia de pizza (!). Nesse percurso melancólico, Sammy se depara com o jovem Eric (o inglês Joseph Quinn, o futuro Tocha Humana no vindouro “Quarteto Fantástico” da Marvel Studios), um rapaz aparentemente sem rumo, que decide acompanhá-la nessa cruzada final.

A despeito dessas motivações não apresentarem maior profundidade ou força (embora a dramaturgia embutida nelas, devido aos talentos envolvidos, seja convincente e funcional), o filme de Sarnoski se impõe graças ao registro extremamente bem realizado do perigo que espreita a cada esquina –concebido com as mesmas orientações dos dois ótimos trabalhos anteriores, “Dia Um” revela-se impecável na atmosfera sufocante de terror, na qual cada suspiro pode atrair os monstrengos ensandecidos. Ainda que menos econômica e sugestiva do que a direção de John Krasinski, a direção de Michael Sarnoski, a exemplo dele, potencializa toda a urgência e a aflição da narrativa nos ombros de uma grande atriz (lá, Emily Blunt; aqui, Lupita Nyong’o) transformando cada instante de tensão num exercício poderoso de suspense, e fazendo valer, na sua inédita predisposição ao drama humano dos personagens, cada minuto de sua jornada.

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