Percebe-se um padrão nos três filmes realizados
pelo diretor Peter Berg em colaboração com o astro Mark Wahlberg, o drama de
guerra “O Grande Herói”, o filme-catástrofe “Horizonte Profundo-Desastre No Golfo”, e este “O Dia do Atentado: Todos eles reconstituem episódios reais
centralizando os esforços extraordinários de homens ordinários.
Aqui, Berg volta a atenção de suas lentes para
os acontecimentos deflagrados em abril de 2013, durante a Maratona de Boston,
no estado de Massachussets.
Ele lança de mão de diversas linhas narrativas,
mostrando os numerosos personagens do filme –o policial Sgt. Tommy Saunders
(Mark Wahlberg) incumbido da segurança da maratona; o comissário Ed Davis (John
Goodman); o chefe de polícia de Watertown, o município vizinho, Jeffrey
Puglieses (J.K. Simmons); o estudante chinês de intercâmbio Dun Meng (Jimmy O.
Yang); o jovem casal Patrick Downes e Jessica Kensky (Christopher O. Shea e
Rachel Brosnahan); o jovem policial, oficial Sean Collier (Jake Picking); e os
terroristas interpretados com deliberado desleixo por Themo Melikidze e Alex
Wolf (de “Hereditário”) –todos são apresentados por Berg ao seu estilo de baixa
voltagem nesse primeiro terço, para então, na cena do atentado, terem unidas as
pontas soltas de suas narrativas, revelando que todos eles ocupam, de uma forma
ou de outra, um papel nesse trágico acontecimento, elevando assim
consideravelmente o nível de tensão e ansiedade no expectador.
É quase um filme de ação transfigurado numa
fórmula narrativa diferenciada (ao invés de rompantes ocasionais, tudo vai num
aumento gradual), mas que ao longo desses projetos citados, Peter Berg
aprimorou a ponto de domina-la com maestria.
O atentado propriamente dito ocorre quase com
meia hora de filme, abrilhantado por uma recriação visual que não deixa margens
para dúvidas acerca da habilidade do diretor.
É chocante, angustiante e visceral, no entanto,
sua qualidade mais flagrante, passada a intensa reação que provoca, é o
controle absurdo de ritmo que Peter Berg impõe: Ele nunca se apressa nem se
atrasa em relação a sua intenção de expor os fatos para então partir para os
finalmentes –ele toma tempo com as devidas informações pertinentes a respeito
dos eventos, enquanto sem o expectador notar eleva o nível de urgência e a sensação
de ameaça da narrativa.
Quando as bombas explodem, uma perplexidade
palpitante contamina muitos dos personagens. O primeiro a retomar o controle é
Saunders que imediatamente orienta a chegada das ambulâncias e socorristas.
Patrick e Jessica estão entre as vítimas –se encontravam praticamente ao lado
de uma das bombas! Ao comissário Davis, no comando das investigações, logo de
junta o agente do FBI DesLauriers (Kevin Bacon). Os terroristas, erráticos,
acompanham os noticiários de seu sujo apartamento exibindo assustadora falta de
empatia.
A medida que os dias vão passando, e a
investigação vai se revelando frutífera –graças ao aparato tecnológico
fenomenal do FBI na captura das imagens das telas de segurança –os terroristas
se veem compelidos a prosseguir com seu plano, desta vez, roubando uma arma e
um carro para irem à Nova York.
A arma, eles tiram do policial Collier, que
matam; o carro, eles obtêm sequestrando o jovem Dun Meng.
É ele quem consegue escapar e alertar a polícia
sobre os terroristas, a tempo para que sejam interceptados numa vizinhança
suburbana de Watertown; onde um tiroteio espetacular coloca o policial Pugliese
na história –e nesse detalhe, no de ter conferido um background prévio a cada
personagem que contribui à narrativa, o filme de Berg se mostra astuto, bem
lapidado e de um zelo pontual para com os personagens e os eventos que retrata.
Se há nele um porém é no excesso de
enaltecimento aos valores norte-americanos –comum nos filmes de Peter Berg
–que, a partir de algum momento, começa a soar xenófobo em algumas cenas,
piegas em outras.
Nada que desfaça a
constatação do grande filme que foi realizado.
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