terça-feira, 23 de julho de 2019

O Dia do Atentado

Percebe-se um padrão nos três filmes realizados pelo diretor Peter Berg em colaboração com o astro Mark Wahlberg, o drama de guerra “O Grande Herói”, o filme-catástrofe “Horizonte Profundo-Desastre No Golfo”, e este “O Dia do Atentado: Todos eles reconstituem episódios reais centralizando os esforços extraordinários de homens ordinários.
Aqui, Berg volta a atenção de suas lentes para os acontecimentos deflagrados em abril de 2013, durante a Maratona de Boston, no estado de Massachussets.
Ele lança de mão de diversas linhas narrativas, mostrando os numerosos personagens do filme –o policial Sgt. Tommy Saunders (Mark Wahlberg) incumbido da segurança da maratona; o comissário Ed Davis (John Goodman); o chefe de polícia de Watertown, o município vizinho, Jeffrey Puglieses (J.K. Simmons); o estudante chinês de intercâmbio Dun Meng (Jimmy O. Yang); o jovem casal Patrick Downes e Jessica Kensky (Christopher O. Shea e Rachel Brosnahan); o jovem policial, oficial Sean Collier (Jake Picking); e os terroristas interpretados com deliberado desleixo por Themo Melikidze e Alex Wolf (de “Hereditário”) –todos são apresentados por Berg ao seu estilo de baixa voltagem nesse primeiro terço, para então, na cena do atentado, terem unidas as pontas soltas de suas narrativas, revelando que todos eles ocupam, de uma forma ou de outra, um papel nesse trágico acontecimento, elevando assim consideravelmente o nível de tensão e ansiedade no expectador.
É quase um filme de ação transfigurado numa fórmula narrativa diferenciada (ao invés de rompantes ocasionais, tudo vai num aumento gradual), mas que ao longo desses projetos citados, Peter Berg aprimorou a ponto de domina-la com maestria.
O atentado propriamente dito ocorre quase com meia hora de filme, abrilhantado por uma recriação visual que não deixa margens para dúvidas acerca da habilidade do diretor.
É chocante, angustiante e visceral, no entanto, sua qualidade mais flagrante, passada a intensa reação que provoca, é o controle absurdo de ritmo que Peter Berg impõe: Ele nunca se apressa nem se atrasa em relação a sua intenção de expor os fatos para então partir para os finalmentes –ele toma tempo com as devidas informações pertinentes a respeito dos eventos, enquanto sem o expectador notar eleva o nível de urgência e a sensação de ameaça da narrativa.
Quando as bombas explodem, uma perplexidade palpitante contamina muitos dos personagens. O primeiro a retomar o controle é Saunders que imediatamente orienta a chegada das ambulâncias e socorristas. Patrick e Jessica estão entre as vítimas –se encontravam praticamente ao lado de uma das bombas! Ao comissário Davis, no comando das investigações, logo de junta o agente do FBI DesLauriers (Kevin Bacon). Os terroristas, erráticos, acompanham os noticiários de seu sujo apartamento exibindo assustadora falta de empatia.
A medida que os dias vão passando, e a investigação vai se revelando frutífera –graças ao aparato tecnológico fenomenal do FBI na captura das imagens das telas de segurança –os terroristas se veem compelidos a prosseguir com seu plano, desta vez, roubando uma arma e um carro para irem à Nova York.
A arma, eles tiram do policial Collier, que matam; o carro, eles obtêm sequestrando o jovem Dun Meng.
É ele quem consegue escapar e alertar a polícia sobre os terroristas, a tempo para que sejam interceptados numa vizinhança suburbana de Watertown; onde um tiroteio espetacular coloca o policial Pugliese na história –e nesse detalhe, no de ter conferido um background prévio a cada personagem que contribui à narrativa, o filme de Berg se mostra astuto, bem lapidado e de um zelo pontual para com os personagens e os eventos que retrata.
Se há nele um porém é no excesso de enaltecimento aos valores norte-americanos –comum nos filmes de Peter Berg –que, a partir de algum momento, começa a soar xenófobo em algumas cenas, piegas em outras.
Nada que desfaça a constatação do grande filme que foi realizado.

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