sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Hora do Pesadelo


 Fala-se que Wes Craven teve várias inspirações para a composição de Freddy Krueger e a tenebrosa história que o cerca: Algumas afirmações se referem à episódios da juventude de Craven –e que vieram assim a moldar seu gosto pelo cinema de terror –e outros até citam certas histórias reais, referentes a pessoas que morreram dormindo, ou psicopatas verídicos queimados vivos por grupos de pessoas indignadas.

Verdade ou não, a fusão de todos esses elementos realmente resulta na trama básica que emoldura o icônico antagonista deste lendário filme de terror dos anos 1980, composto de características marcantes que o levaram a representar toda uma franquia surgida a partir daqui, e a ocupar –ao lado de outros ícones do terror –um lugar de respeito na cultura pop.

O estopim para tal fenômeno –esta obra dirigida por Wes Craven –é um filme de terror eficaz em tudo que se espera de uma produção nesses moldes: Climático, amedrontador, enxuto, cheio de inventividade e de pequenas definições oriundas de outros sub-gêneros nos quais o terror havia, nas últimas décadas, se ramificado.

Há, em “A Hora do Pesadelo”, códigos plantados pelo cinema de John Carpenter em geral (“Halloween” em particular) nos quais identifica-se o perfil previamente estabelecido dos personagens que irão morrer e os que viverão até o final, a dicotomia ‘promiscuidade/morte certa’ que norteia a contagem de corpos do ‘slasher’, os expedientes de atmosfera e sanguinolência descobertos pelo giallo italiano (do qual o ‘slasher’ pode ser visto como uma variação) e, acima de tudo, o aproveitamento criativo e original dos temores infantis acerca do monstro no sonho ruim dotado de poder para nos perseguir e nos fazer mal também na vida desperta.

Tal monstro, aqui, é Freddy Krueger, personagem ao qual o ator Robert Englund dá uma identidade e uma peculiaridade que extravasam o já bem elaborado background presente em sua origem.

Ele afronta, em sonhos, a jovem Nancy (Heather Langenkamp) que percebe a autenticidade incomum naqueles pesadelos –Freddy, ela não tarda a concluir, é capaz de fazer mal a qualquer pessoa na realidade também. Os outros personagens ao redor dela, como é de praxe em inúmeros filmes de terror, não acreditam nela –entre eles, o namoradinho vivido por Johnny Depp, ainda em início de carreira.

Há, ainda assim, um propósito nos atos torpes de Freddy, na qualidade da assombração que ele é: Os membros da Rua Elm estão na sua mira, as pessoas descendentes de todos aqueles que, quando ele era vivo e matador humano de crianças, o executaram queimando-o vivo.

Mescla hábil e crua de um terror físico –o assassino que persegue suas vítimas com a pura e selvagem promessa de carnificina –com expedientes sobrenaturais –o aproveitamento dos sonhos é, no mínimo, instigante –“A Hora do Pesadelo”, sem ser necessariamente original, marcou o panorama dos filmes de terror dos anos 1980 ao entregar uma obra distinta a partir da conciliação inesperada e esperta de várias facetas distintas desse gênero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário