Quase a completar um ano desde a última vez, me
sinto novamente na obrigação de agradecer à Disney. Agradecer por terem conseguido
comprar os direitos da Lucasfilm do criador em pessoa, George Lucas, e a partir
daí reiniciar a saga “Star Wars” com o ímpeto que os fãs sempre sonharam.
E uma lucidez cinematográfica que se esvaiu quase que por completo da consciência de Lucas como realizador nas últimas décadas (como atesta a pecaminosa "Trilogia Prólogo").
E uma lucidez cinematográfica que se esvaiu quase que por completo da consciência de Lucas como realizador nas últimas décadas (como atesta a pecaminosa "Trilogia Prólogo").
Os novos proprietários da saga almejam lucro nas bilheterias, claro, não
sejamos ingênuos de pensar o contrário, mas nesse intento, a visão
corporativista da Disney não deixa de lado aquilo que unicamente importa ao
expectador que paga seu ingresso no cinema: O filme.
Tal e qual é feito com a Marvel Studios, a saga
“Star Wars” está agora nas mãos de pessoas antenadas com os anseios dos fãs, e
atentas aos valores cinematográficos empregados em suas produções.
O que faz de “Rogue One”, o mais refinado produto concebido dessa junção até aqui.
O que faz de “Rogue One”, o mais refinado produto concebido dessa junção até aqui.
Ele tem início alguns anos antes da entrada
definitiva de Luke Skywalker no conflito, e alguns bons anos depois dos trágicos
acontecimentos relatados no “Episódio III-A Vingança dos Sinth”, e lança de
imediato seu olhar sobre uma jovem chamada Jyn Erso, antes mesmo que os créditos
iniciais –ligeiramente diferenciados dos filmes principais da saga –apareçam.
Jyn (a linda e maravilhosa Felicity Jones)
perdeu o pai e a mãe para o Império Galáctico. A mãe, porque esta foi morta
pelo venal Almirante Krennic (Ben Mendelsohn), e o pai, porque este foi
cooptado, logo em seguida, para usar seu talento como projetista tecnológico
para o Império. Quem criou Jyn, nesse ínterim, foi o contundente e radical Saw
Gerrera (Forest Whitaker, extraordinário participação como um personagem
essencial ao cânone da saga, e que reflete, de uma certa maneira, em sua imponência
ameaçadora, nos detalhes truculentos de sua armadura, e até na respiração
artificial ressonante, o próprio Darth Vader).
Apesar disso tudo, Jyn quer distância da guerra
entre Império e Aliança Rebelde que sacode a galáxia. Ainda assim, não é o quê
vai acontecer e sua trajetória irá se cruzar com outros personagens, como o
capitão Cassian Andor (Diego Luna), o dróide K-2SO, o monge crédulo da Força
Chimrut Imwe (Donnie Yen), o ex-soldado Maze Malbus (Wen Jiang), o desertor
Bodhi Rook (Riz Ahmed), todos destinados a protagonizar este que é uma espécie
de “elo perdido” da saga “Star Wars”: Ele estabelece uma ligação informativa,
dramática, factual e emocional entre os episódios III e IV, e entre a trilogia
clássica (aquela que realmente vale para os fãs!) e as séries animadas “Clone
Wars” (por meio do personagem de Saw Gerrera que aparece como um jovem) e “Rebels”
(de onde é oriundo o vilão Orson Krennic).
Falando em vilões, eles respondem por alguns
dos momentos de maior empolgação de “Rogue One”, não apenas pela devidamente
espetacular aparição de Darth Vader (com toda a pompa e circunstância que
merece e tratado como uma divindade pela narrativa), mas também pelo
inteligente uso do oficial Moff Tarkin.
Explica-se: Tarkin (interpretado no filme de
1977 por Peter Cushing, falecido em 1994) era um oficial superior do Império de
suma importância na hierarquia –chegava a dar ordens em Darth Vader! –e que
morre no final daquele filme durante a destruição da Estrela da Morte –em torno
da qual, todo o planeta deve saber, a trama de “Rogue One” gira. Pois, Tarkin
reaparece aqui, fundamental à narrativa, como tinha que ser, e ainda
interpretado por Peter Cushing no que é um dos trabalhos de concepção digital
mais espetaculares do ano –as ferramentas cinematográficas finalmente rompem
algumas barreiras antes tidas como intransponíveis.
“Rogue One” é, no fim das
contas, por meio disso tudo, da primorosa direção de Gareth Edwards, do
requinte comovente de seu roteiro, do empenho apaixonado de seu elenco, e da
textura real e vívida de seu acabamento visual, uma imersão em um outro mundo,
através das mais vastas experiências sensoriais. Algo que sempre foi (ou
deveria ser) o objetivo de “Star Wars”.
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