segunda-feira, 9 de julho de 2018

A Colecionadora


O cinema de Eric Rohmer sempre foi atento às sutilezas num nível até maior do que seus conterrâneos da novelle vague.
Se Godard apreciava política e Truffaut valorizava o romantismo, para Rhomer, a matéria-prima de seus filmes provinha de impressões nem sempre fáceis de serem capturadas, em geral, abstrações relativas ao envolvimento humano.
Com isso, o cinema de Rohmer tornou-se um misto de flerte, excitação e romance. Os filmes que ele concebeu falam sobre elementos tão fugazes que, para muitos, é normal o questionamento do por que dedicar todo um filme a algo tão efêmero.
Em “A Colecionadora”, esse dado fugaz e efêmero não chega sequer a ser amor –embora, alguns personagens, em sua inércia afetiva o confundam com isso –e nem tampouco o êxtase da conquista; embora, tais elementos estejam em jogo também.
A Riviera Francesa é palco das descompromissadas férias de Adrien (Patrick Bauchau) e, no registro tão cinematográfico quanto idealizado que Rhomer faz do ambiente, este é um universo de descontraído romantismo envolto numa desmaiada luz veronil (e não despido de uma certa torpeza machista).
Adrien acaba por conhecer Haydée (Haydée Politoff), uma jovem bela, interessante e, como logo fica claro, sexualmente ativa. A presença de Haydée acarreta à Adrien tudo que suas sossegadas férias até então não tinham: Perplexidade, aflição e ansiedade.
Porque Haydée é desejável, e na consciência disso, ela é uma ‘colecionadora’: Seu prazer é assistir os homens gradativamente cair aos seus pés, passando pelos mesmos estágios de sempre que são as tentativas existenciais de impressioná-la e, mais tarde, a declaração estóica e envergonhada de seus desejos por ela.
Com uma presunção típica dos arrogantes, Haydée sabe que Adrien será mais um dos admiradores que ela incluirá na sua coleção. Sem vontade de ver seu orgulho ferido, ele quer rejeitar essa possibilidade, mas sabe que sua atração por Haydée é real, e ao longo do filme ele se percebe pouco capaz de resistir a ela.
Como em todos os seus trabalhos, Rohmer monta sua narrativa a partir de uma simplicidade espartana, embora sempre aborde assim a complexidade dos sentimentos, sobretudo, os afetivos.
A razão de ser e o propósito de “A Colecionadora”, para seu realizador, está na breve e sutil seqüência final que, se observada com displicência, parece encerrar o filme com um momento banal, mas representa o instante fugaz que Rohmer tanto aguardou para vislumbrar: É seu protagonista e herói, dando enfim o troco à garota com quem dançou aquela ciranda irritadiça de sedução.

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