quarta-feira, 14 de abril de 2021

Upgrade - Atualização


 No futuro próximo onde vivem, Grey (Logan Marshall-Green, de “Prometheus”) e Asha (Melanie Vallejo) são um casal quase normal: Ele, um adepto da tecnologia retrô (como fica evidente em suas tentativas de recuperar um antigo carro motorizado na cena inicial), ela uma executiva numa empresa de tecnologia digital.

Os dois seguem até a casa do ricaço e excêntrico Eron Keen (Harrison Gilbertson) para Grey entregar-lhe o automóvel restaurado e, no regresso, a insidiosa ficção científica do diretor  Leigh Whannell, já mostra repentinamente a que veio: Um acidente carregado de detalhes intrigantes –e já nesse início o filme de Whannell acumula inúmeras pistas incertas com as quais ocupar o expectador –seguido de um ataque de marginais e... uma tragédia!

Asha é morta, enquanto que Grey, atacado, fica paraplégico.

A narrativa não deixa que o público respire aliviado: Algum tempo depois, quando mal assimilou a reviravolta ingrata de sua vida, e enquanto ainda contempla a sombria possibilidade do suicídio, Grey é visitado por Eron com uma proposta: Implantar em sua coluna cervical um chip de tecnologia inovadora. O chip, afirma Eron, pode devolver-lhe todos os movimentos do corpo, uma vez que é capaz de restabelecer as conexões entre o cérebro e os membros motores. Entretanto, há uma condição: Como trata-se de uma tecnologia ainda experimental, e portanto não aprovada em lei, Eron quer que Grey esconda de todos o restabelecimento de suas funções motoras, inclusive de sua mãe (Linda Cropper) e da detetive Cortez (Bett Gabriel), a policial incumbida de encontrar os culpados pela morte de Asha.

Nesse ponto fica claro ao expectador que o impulso que movimentará a narrativa será a busca de Grey pelos responsáveis, e que ele, com efeito, não se acomodará. Ele descobre que o chip implantado em sua coluna é uma inteligência artificial denominada Sten, com quem pode conversar, e que é capaz de assumir seu corpo, transformando-o num combatente implacável quando necessário.

Munido dessas novas, digamos, habilidades, Grey decide seguir as pistas por conta própria, e vai descortinando uma tramóia que envolve ex-soldados com implantes cibernéticos, perfil bem diferente dos alardeados marginais que teriam atacado ele e Asha.

O objetivo do jovem diretor Whannell, 100 % atingido, é surpreender o expectador, sobretudo, a partir da inteligente subversão das expectativas: A premissa que gira em torno de seu protagonista poderia muito bem colocá-lo como um arremedo de super-herói, mas Whannell segue num caminho mais nebuloso e intrigante construindo a partir daí um suspense pulsante.

Provavelmente, foi essa habilidade em desconstruir um conceito pop e moldá-lo num bem ajustado trabalho de gênero –hábil inclusive na manutenção de reviravoltas surpreendentes que os cínicos expectadores de hoje têm por hábito querer antecipar –o que levou o jovem Whannell a ser recrutado para a direção do posterior “O Homem Invisível”, trabalho para o qual ele mostrou-se uma escolha certeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário