domingo, 26 de julho de 2015

Era Uma Vez Na América

Quando começa "Era Uma Vez Na América", o que vemos é uma série de cenas que não fazem o menor sentido: Uma desconhecida é assassinada por pistoleiros mafiosos mal-encarados. O personagem de Robert De Niro surta convulsivamente enquanto fuma ópio (e tais cenas podem interferir, ou não, na narrativa). Um incêndio. Um telefonema. Um corte que salta pelo menos uns vinte anos.
Durante a primeira hora de filme a impressão é de que pegamos a história pela metade -ou, como foi o meu caso quando assisti em VHS, parece que foi colocada a segunda fita no aparelho, ao invés da primeira!
Mas, não: Tudo faz parte de um plano minucioso, acalentado (por anos, inclusive) pelo diretor italiano Sergio Leone que durante boa parte de sua carreira sonhou em conceber este filme (e teve, portanto, tempo de sobra para elaborá-lo em sua mente, num nível de detalhamento e meticulosidade que atingem patamares raros na história do cinema).
Assim sendo, após vários personagens e situações estranhas desfilarem pela tela, lá pelo começo do segundo terço do filme é que o diretor Sergio Leone irá regredir a história a algumas décadas no passado, por meio de um flash-back genial, levando-nos, junto de seus personagens, àquele que é, de fato, o início da história: A Nova York do início do século XX, quando Noodless (personagem que virá a ser de De Niro) e sua turma, ainda crianças iniciam uma progressiva ascensão na hierarquia da ainda emergente máfia judaica no chamado East Side. A partir daí, as pontas soltas da narrativa irão lentamente se juntar e mesmo as cenas mais complicadas passarão a fazer sentido.
Muito tempo depois de "Era Uma Vez Na América" acabar, você vai se descobrir refletindo os detalhes desta história, que não é apenas sobre gangsteres, mas sobre pessoas que, apesar do "sonho americano", tiveram que trair e lutar pela sobrevivência, por uma vida melhor.
Como em qualquer parte do mundo.

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