Quando começa "Era Uma Vez Na
América", o que vemos é uma série de cenas que não fazem o menor sentido:
Uma desconhecida é assassinada por pistoleiros mafiosos mal-encarados. O
personagem de Robert De Niro surta convulsivamente enquanto fuma ópio (e tais
cenas podem interferir, ou não, na narrativa). Um incêndio. Um telefonema. Um
corte que salta pelo menos uns vinte anos.
Durante a primeira hora de filme a impressão é
de que pegamos a história pela metade -ou, como foi o meu caso quando assisti
em VHS, parece que foi colocada a segunda fita no aparelho, ao invés da
primeira!
Mas, não: Tudo faz parte de um plano minucioso,
acalentado (por anos, inclusive) pelo diretor italiano Sergio Leone que durante
boa parte de sua carreira sonhou em conceber este filme (e teve, portanto,
tempo de sobra para elaborá-lo em sua mente, num nível de detalhamento e
meticulosidade que atingem patamares raros na história do cinema).
Assim sendo, após vários personagens e
situações estranhas desfilarem pela tela, lá pelo começo do segundo terço do
filme é que o diretor Sergio Leone irá regredir a história a algumas décadas no
passado, por meio de um flash-back genial, levando-nos, junto de seus
personagens, àquele que é, de fato, o início da história: A Nova York do início
do século XX, quando Noodless (personagem que virá a ser de De Niro) e sua
turma, ainda crianças iniciam uma progressiva ascensão na hierarquia da ainda
emergente máfia judaica no chamado East Side. A partir daí, as pontas soltas da
narrativa irão lentamente se juntar e mesmo as cenas mais complicadas passarão
a fazer sentido.
Muito tempo depois de "Era Uma Vez Na
América" acabar, você vai se descobrir refletindo os detalhes desta
história, que não é apenas sobre gangsteres, mas sobre pessoas que, apesar do
"sonho americano", tiveram que trair e lutar pela sobrevivência, por
uma vida melhor.
Como em qualquer parte do
mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário