Por mais que, enquanto obra de cinema, “O
Primeiro Homem” preste um devido tributo a tudo que veio antes dele na
particular categoria em que se insere (a dos épicos históricos sobre viagem
espacial como “Os Eleitos” e “Apollo 13”) o diretor Damien Chazelle é hábil e
competente o bastante para levar o seu próprio diferencial: Ele enfatiza a
visão subjetiva (e de certa forma intimista) de seu biografado, Neil Armstrong
(Ryan Goslyng, sempre impecável) sobre os acontecimentos.
Essa opção pelo intimismo pode até soar
inusitada numa obra do mesmo diretor que explorou os rompantes de fúria e
música em “Whiplash” e extravasou a adoração pelos musicais da Era de Ouro em
“La La Land-Cantando Estações”, mas “O Primeiro Homem” se ombreia neles por sua
captura sensorial das impressões do protagonista acerca dos grandes eventos em
que esteve: Este é um filme sobre Neil Armstrong e não sobre a primeira viagem
a lua.
Em meados dos anos 1960, Armstrong era um dos
muitos pilotos destemidos da Força Aérea que desafiavam as limitações técnicas
de seu tempo em vôos cada vez mais audazes.
Na vida pessoal, embora casado com a amorosa e
firme Janet (Claire Foy, maravilhosa), Neil vivia um drama: Sua filhinha mais nova
desenvolveu um tumor que os médicos não foram capazes de curar.
A perda dela definiu a personalidade retraída e
introspectiva de Neil Armstrong por toda a vida.
Mergulhando de cabeça no trabalho como forma de
contornar a dor, Armstrong foi um dos voluntários para o Programa Gemini que
(seguido do Programa Apollo) visava alcançar inovações tecnológicas antes dos
russos a fim de obter a supremacia da Corrida Espacial e chegar primeiro ao tão
almejado solo lunar.
Indo morar em Houston, nas dependências da
NASA, Armstrong se torna amigo de Ed Wihte (Jason Clarke) e Elliot See (Patrick
Fugit, de “Quase Famosos”), ao lado dos quais participa dos rigorosos testes
impostos aos pretendentes a astronautas.
A medida que a narrativa avança, a opção ao
drama fica cada vez mais nítida no trabalho de Damien Chazelle –isso se percebe
no fato de que as conquistas de Armstrong no campo profissional da astronomia
são pontuadas pelas perdas pessoais (como o teste de vôo em que Elliot perde a
vida), e no risco onipresente de morte em cada uma das tentativas de ir além;
de uma postura quase tão impassível quanto seu protagonista, o filme de Chazelle
observa com igual riqueza de detalhes tanto seus sucessos quanto seus fracassos
–e que resultam assombrosos também, inclusive, por sua maior ausência nos
livros de História.
A meia hora final, dedicada
ao pouso na lua, é construída com um zelo técnico impecável e um rigor
dramático bastante sólido, embora deva frustrar expectadores que fossem esperar
do filme algo mais festivo e enaltecedor –é um momento, sim, em que Neil
Armstrong, no silêncio de seu luto eterno, atinge uma conquista sem precedentes
na História da Humanidade, e encontra, nesse auge existencial, um tênue
conforto para o sacrifício incomensurável que a vida cobrou dele.
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