Ainda no embalo de uma espécie de
reconhecimento alternativo que ele obteve por sua participação em “Coração
Selvagem”, de David Lynch, o ator Nicolas Cage aparece aqui fazendo o que sempre
foi sua especialidade: Um personagem surtado dos pés à cabeça.
Se Cage ainda viria a melhorar bastante como
intérprete, aprimorar sua técnica (chegando até a ganhar um Oscar por
“Despedida Em Las Vegas”), virar um astro a partir da metade dos anos 1990 e
então entrar numa decadência tão vertiginosa quanto foi a sua ascensão, por
outro lado, seu co-astro, Jugde Reinhold (de “Um Tira da Pesada”), coadjuvante
relativamente assíduo nos anos 1980, fazia uma de suas últimas aparições
relevantes no cinema.
Eles interpretam dois grandes amigos de
infância: Johnny (Cage), um pintor de impulsos violentos e passionais, e Thierry (Reinhold), um
poeta embriagado de seu próprio desdém pela sociedade.
Johnny reencontra Thierry após muitos anos em
Nova Orleans –cidade cuja exotismo é empregado sem modéstia nos propósitos
atmosféricos do filme –e, ao retomarem a amizade retomam também seu
inconformismo com tudo e com todos.
Entretanto, Thierry é casado com a linda e
insinuante Zandalee (Erika Anderson, tentadora) e embora seu desprezo, por
vezes, se estenda até a esposa e o marasmo que ocasionalmente consome seu
casamento (com a atenção de Thierry mais dedicada aos negócios da família do
que à mulher), isso não ocorre com Johnny: Ele só enxerga em Zandalle erotismo
e beleza –e, logo, ela se torna assim objeto de suas obsessões, e mote central
de sua arte renascida.
Um triângulo amoroso se estabelece. Johnny e
Thierry usam Zandalee como sua musa e combustível de sua criação artística ao
mesmo tempo que assumem uma disputa por meio de deliberações que passeiam por
concepções desconcertantes da vida e do mundo –há uma inteligência flagrante e
de notável riqueza cultural nos diálogos –enquanto criam (e envolvem-se) em uma
névoa própria dentro da qual atitudes, comportamentos e posturas distintas do
mundo real –porém, não desprovidos de certa compostura –podem assim se
expressar e encontrar um meio de se conciliar.
Dirigido por Sam Pillsbury
(roteirista e produtor da ficção científica “Terra Tranquila”), “Zandalee”
destaca-se por seu romantismo e excentricidade levados ao extremo e às últimas
consequências, por sua desenvoltura ao afirmar-se sensual sem ceder (muito) ao
vulgar, pela participação notável e exalando charme de Erika Anderson (que
infelizmente, depois deste trabalho não participou de mais nenhum projeto
relevante) e pela chance de ver Nicolas Cage e sua doideira interpretativa em
estado bruto.
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