sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Zandalee - Uma Mulher Para Dois

Ainda no embalo de uma espécie de reconhecimento alternativo que ele obteve por sua participação em “Coração Selvagem”, de David Lynch, o ator Nicolas Cage aparece aqui fazendo o que sempre foi sua especialidade: Um personagem surtado dos pés à cabeça.
Se Cage ainda viria a melhorar bastante como intérprete, aprimorar sua técnica (chegando até a ganhar um Oscar por “Despedida Em Las Vegas”), virar um astro a partir da metade dos anos 1990 e então entrar numa decadência tão vertiginosa quanto foi a sua ascensão, por outro lado, seu co-astro, Jugde Reinhold (de “Um Tira da Pesada”), coadjuvante relativamente assíduo nos anos 1980, fazia uma de suas últimas aparições relevantes no cinema.
Eles interpretam dois grandes amigos de infância: Johnny (Cage), um pintor de impulsos violentos e passionais, e Thierry (Reinhold), um poeta embriagado de seu próprio desdém pela sociedade.
Johnny reencontra Thierry após muitos anos em Nova Orleans –cidade cuja exotismo é empregado sem modéstia nos propósitos atmosféricos do filme –e, ao retomarem a amizade retomam também seu inconformismo com tudo e com todos.
Entretanto, Thierry é casado com a linda e insinuante Zandalee (Erika Anderson, tentadora) e embora seu desprezo, por vezes, se estenda até a esposa e o marasmo que ocasionalmente consome seu casamento (com a atenção de Thierry mais dedicada aos negócios da família do que à mulher), isso não ocorre com Johnny: Ele só enxerga em Zandalle erotismo e beleza –e, logo, ela se torna assim objeto de suas obsessões, e mote central de sua arte renascida.
Um triângulo amoroso se estabelece. Johnny e Thierry usam Zandalee como sua musa e combustível de sua criação artística ao mesmo tempo que assumem uma disputa por meio de deliberações que passeiam por concepções desconcertantes da vida e do mundo –há uma inteligência flagrante e de notável riqueza cultural nos diálogos –enquanto criam (e envolvem-se) em uma névoa própria dentro da qual atitudes, comportamentos e posturas distintas do mundo real –porém, não desprovidos de certa compostura –podem assim se expressar e encontrar um meio de se conciliar.
Dirigido por Sam Pillsbury (roteirista e produtor da ficção científica “Terra Tranquila”), “Zandalee” destaca-se por seu romantismo e excentricidade levados ao extremo e às últimas consequências, por sua desenvoltura ao afirmar-se sensual sem ceder (muito) ao vulgar, pela participação notável e exalando charme de Erika Anderson (que infelizmente, depois deste trabalho não participou de mais nenhum projeto relevante) e pela chance de ver Nicolas Cage e sua doideira interpretativa em estado bruto.

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