O prólogo é festivo: Assistimos a uma calorosa
festa de despedida feita para o jovem recruta Bill (John Jarratt, de “Picnic Na Montanha Misteriosa”) por seus familiares –numa cena particularmente expressiva
e interessante, ele faz um pedido ao cortar um bolo; suas intenções nada
inocentes almejam uma chance de transar com uma bela moça entre os presentes. E
para a sorte do protagonista, é com ela que ele estará se engraçando no momento
seguinte.
Transcorrido antes dos créditos iniciais, esse
início serve acima de tudo para contextualizar o protagonista como um jovem
como qualquer outro, com anseios, temores e expectativas; serve também para
demonstrar o entendimento pouco comum do diretor Tom Jeffrey dos impulsos
humanos de seus personagens, e o talento para expressá-los por meio de
sequências que passam longe do lugar comum.
Essa perícia se mostrará essencial para o filme
que começa logo em seguida.
Um dentre inúmeros soldados australianos
despachados para lutar no Vietnam, Bill passa assim a vivenciar a rotina de um
acampamento militar erguido a céu aberto num ambiente que exaspera os homens
nada habituados a ele –a piada mais recorrente deles, durante esse período é de
que se pode ajustar as horas do relógio baseando-se nas chuvas diárias, que
acometem o acampamento intensa e abruptamente.
Bill divide o tempo entre vários companheiros
que arruma no regimento, mas os mais importantes na narrativa são o
descontraído Rogers, vivido por Bryan Brown, e o niilista Harry, vivido por
Graham Kennedy, cujas observações políticas e morais acerca do militarismo, da
opinião pública sobre a guerra, e da própria condição dos soldados refletem
amargamente sua desilusão.
Realizado em 1979, o filme de Tom Jeffrey não
possuía maiores referências dentro da própria guerra que abordava –“Apocalypse Now” foi lançado naquele mesmo ano (embora haja aqui uma sequência de sonho
incrivelmente semelhante à algumas cenas do trabalho de Coppola), enquanto que
“Platoon” e “Nascido Para Matar” só seriam produzidos na década de 1980
–fazendo assim com que suas influências sejam melhor encontradas nas obras
clássicas: Ao registrar o dia-a-dia dos soldados, Jefrey convida o expectador a
estabelecer com eles uma afinidade muito particular, divertindo-se com seus
gracejos, compactuando com suas pequenas alianças, solidarizando com seus
dramas como fez em seus trabalhos o veterano diretor Samuel Fuller.
A guerra propriamente dita irrompe raramente
nessa rotina militar, definida pelos vícios compartilhados entre amigos, por
gentilezas descobertas no companheirismo, ou por rixas quase infantis em meio
ao cotidiano, mas quando o faz é em sequências arrepiantes e vertiginosas,
notáveis pelos sobressaltos abruptos que arranca.
E demonstrando uma aleatoriedade sangrenta da
qual ninguém está à salvo –nem os coadjuvantes, nem os protagonistas.
O terço final se ocupa a fornecer uma espécie
de desfecho específico a cada personagem, tratando todos eles com zelo e
austeridade, restando ao fim, Bill e Harry.
Eles deixam o Vietnam sem os alardes
característicos de narrativas bélicas mais ostensivas já perpetradas pelo
cinema; um certo dia lhes chega o comunicado da baixa e então adeus!
O brilho
está todo nos detalhes: Ao deixar enfim para trás o campo que, por algum tempo
lhes foi fonte de perplexidade, ócio e algum temor pela morte, os dois
protagonistas se descobrem veteranos de guerra num mundo civilizado que a viu
tão somente por noticiários.
As pessoas conseguem falar sobre esse assunto;
Bill e Harry, não.
Para eles, o retorno para casa (ao som da
belíssima canção “Leaving On A Jet Plane”, de John Denver) é uma constatação do
quanto a temeridade da batalha os transformou –agora, contemplar uma bela vista
na mais absoluta paz não lhes parece ser algo tão prolixo assim.
“Academia de Heróis” é um
filmaço!
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