O diretor Bong Joon-Ho obteve aclamação no
Oscar por “Parasita”, mas poderia perfeitamente tê-lo conquistado por alguns de
seus outros trabalhos, tão primorosos e surpreendentes quanto.
É o caso do suspense “Mother”.
A magnífica Hye-Ja Kim é uma dona de casa
profundamente dedicada ao filho ligeiramente retardado mental, Do-Joon (Won Bin,
de “A Irmandade da Guerra”), de vinte e sete anos –mas, mentalidade de doze!
Ela vê, um dia, ele ser preso pela polícia
devido ao assassinato de uma jovem e promíscua colegial das redondezas.
Indignada com a injustiça, e com o fato de
encerrarem o caso rápido demais, a velha senhora decide investigar o homicídio
a fundo, para descobrir os verdadeiros culpados e tirar seu filho detrás das
grades.
As dificuldades da tarefa que essa senhora toma
para si esbarram numa série de detalhes inusitados: No descaso resfolegante (e
pleno de humor negro) dos policiais retratados com desleixo terceiro-mundista;
nos empecilhos fornecidos pelo próprio Do-Joon cuja memória toda embotada pelo raciocínio
atrapalhado em nada ajuda (exceto nos detalhes da formidável reviravolta
final); e nos elementos rocambolescos presentes no próprio caso em particular
que levam a narrativa a lançar mão de pistas ambíguas, flashbacks e outros
subterfúgios.
Ao estilo do atual cinema sul-coreano, “Mother”
é pois uma produção cheia de surpresa e originalidade –inclusive com um roteiro
brilhante onde personagens inicialmente esboçados com antagonismo adquirem
características inesperadamente amigáveis ao longo do percurso (e vice-versa!)
e onde rumos, dados como certos e confortáveis, adotam direções imprevistas e
desconcertantes.
Na cartilha nada óbvia de “Mother”, a
monstruosidade pode ser, muitas vezes uma questão de contexto –e à que cena
final maravilhosa levam essas considerações!
Essa natureza afeita a
desdobramentos insólitos e violentos pode incomodar expectadores convencionais,
mas a exemplo dos ótimos "Old Boy", e "O Hospedeiro" (este
do mesmo diretor, por sinal), é um trabalho farto em talento e inventividade.
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