No brilhante capítulo do meio de sua Trilogia
da Vingança, Chan-Wook Park entrega um protagonista arremessado num conto
mirabolante de improbabilidades extraordinárias, no entanto, tão bem executadas
por seu roteiro que a premissa algo absurda não somente soa envolvente como
também reflexiva.
Esse protagonista é Oh Dae-Su (o grande ator
Choi Min-Sik). No ritmo febril imposto por Chan-Wook Park mal temos tempo de
vislumbrar o cidadão cheio de vícios e defeitos que Oh Dae-Su é (ele vai parar
numa delegacia por assediar uma moça na rua, e lá, puxa briga até mesmo com os
policiais), e ele já é capturado misteriosamente dando início ao seu incomum calvário.
Seja lá quem for a pessoa que o sequestrou, ele
prendeu Oh Dae-Su num quarto de hotel barato, dentro do qual ele não tem outra
escolha senão ver os quinze anos que se passam (!).
Ele não tem escolha literalmente: Se tenta se
matar, estranhos prontamente o atendem; gases o fazem dormir e, quando acorda,
suas unhas e cabelos estão feitos. Há uma televisão que fica sempre ligada –da qual
ele assiste o noticiário onde descobre que sua esposa foi morta (sendo ele o
principal suspeito) e sua filha entregue à adoção.
E assim, sem maiores informações acerca de seu
captor, Oh Dae-Su vê quinze anos se passarem enquanto nutre um ódio descomunal
do misterioso indivíduo que destruiu sua vida, numa primorosa referência à
outro grande conto sobre o empuxo tóxico da vingança, “O Conde de Monte Cristo”
–que inclusive será citado explicitamente mais tarde.
Uma tênue esperança de escapar começa a se
desenhar (ele começou a desmontar os tijolos de uma das paredes e crê que em um
mês será capaz de transpô-la) quando subitamente ele é libertado dentre de uma
maleta no alto de um prédio qualquer de Seul.
Ele não faz ideia de quem fez isso com ele. Do porque
o prendeu e nem porque resolveu o soltar –questões que serão fundamentais no
desenrolar da trama –mas, Oh Dae-Su está disposto a dedicar cada minuto para
descobrir.
Avançar na explicação dos desdobramentos de “Old
Boy” ameaça invadir aqueles tópicos da narrativa cuja revelação pode
comprometer o impacto do que é contado –e, nesse sentido, o trabalho de
Chan-Wook Park é tão visceral quanto esplêndido.
Ele dá um visível salto de
sofisticação em relação à crueza mais perceptível do anterior “Mr. Vingança”
enquanto lança mão de uma vastidão maior de recursos para construir um filme de
visual ainda mais elaborado (seus criativos enquadramentos elípticos ganham
aqui um sem-fim de novos incrementos, além de uma montagem cheia de
inventividade) amparado numa trama absolutamente espantosa: O plot twist do
final é de uma manobra tão corajosa, radical e perversa que se tornou lendário!
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